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sexta-feira, 22 de junho de 2018

Caça ao voto…começou ou nunca termina?


Numa expressão algo lapalissiana um deputado do partido que suporta o atual governo disse duma iniciativa de outro grupo parlamentar: isso que estão a fazer denota que começou a época de caça ao voto!

Mas será que esta ilustre mente (mais ou menos) pensante acha que a sua tarefa ‘política’ não é essa mesma de estar em contínua, atenta e audaz caça ao voto, seja lá o tempo que possa ser, não confinando a tal ‘caça ao voto’ à época de eleições e/ou de campanha eleitoral.

O tema em discussão anda em volta da carga fiscal – tecnicamente chamada de ‘imposto sobre produtos petrolíferos’ – que é aduzida sobre os combustíveis, no caso da gasolina estará na ordem de dois terços do custo por litro, enquanto no gasóleo se situa em cerca de metade no ato de pagamento…

Ora, havia sido prometido que a variação do preço do petróleo nos mercados se repercutiria no custo final do produto. À boa maneira duma frase-chavão: ‘se bem o prometeram, melhor o esqueceram’ e foi de ver um aumento crescente – muito para além do proporcional – dos impostos indiretos, no caso dos combustíveis que permitem circular as mercadorias, as pessoas, os bens…tanto em trabalho como em lazer, duma forma cega, pois ricos ou pobres todos pagam de forma indistinta, mesmo que isso possa tornar-se desigual e com mais impacto nos mais vulneráveis e com piores recurso… 

= Voltemos à frase-lamento a propósito da ‘caça ao voto’. Não será que muitos dos empregados de luxo, que são os deputados, se esquecem que só têm emprego por quatro anos? Nesses ditos tempos de exercício do poder, não será que se alheiam daqueles que neles votaram, servindo antes as tricas partidárias e menos os valores de cidadania? Sabendo que o emprego está com prazo delimitado, não seria expetável que o combate pelo voto se devesse alicerçar mais na valorização da qualidade e menos pela quantidade? A introdução – sobretudo nesta legislatura – de temas fraturantes é merecedora de aplauso ou de repúdio? Não andarão os deputados/as mais entretidos com assuntos de ‘pequena política’ – por vezes apelidada de politiquice – do que com os assuntos essenciais da vida dos seus concidadãos?

Ter trazido para a liça de conjetura a ‘caça ao voto’ só porque o assunto não lhe é favorável, será, no mínimo, ter perdido o controlo da gestão dos interesses partidários, subjugando os assuntos do país à mercê da volatilidade dos acordos e colocando sob suspeita a mentira repetida de que não há aumento de impostos ou de que a austeridade já teria terminado… 

= Todos sabemos que a qualidade das pessoas se pode medir na hora das vitórias, senão forem amesquinhados os vencidos, mas, sobretudo, nos momentos de derrota, pois, nesta se há de encontrar forças para recomeçar a tarefa de saber cativar para a luta quem possa estar mais desanimado. Tudo isto seria normal, se os vencedores governassem e se os vencidos aceitassem os resultados. Ora, em Portugal – a peste desta coligação negativa vencedora já se estendeu a Espanha – sabemos, desde há quase três anos, que perder pode significar vencer, se houver artimanha suficiente para fazer reverter a derrota em vitória aglutinadora dos vencidos… chegando ao poder por artifícios de conveniência… à boa maneira da insinuação: ‘inimigo do meu inimigo, meu amigo é’ ou pode tornar-se…

Dizem que o dinheiro volta a encher os cofres do estado, que quase tudo se pode pagar, desde que seja aos que suportam a nova fórmula governativa, amansando protestos e iludindo os resultados. Eis senão quando surgiram vozes a reclamar dos louros da pretensa paz social. Quase sempre pela mesma ordem vemos a cadeia de protestantes: transportes, saúde, educação e segurança (policial e social)… esses inegáveis vetores do pretenso ‘estado social’, onde todos usufruem e poucos pagam…o mínimo.

O castelo de sucesso começou a abrir brechas. Os aglutinados desejam colher resultados. Os de cima estrebucham sem meios para satisfazer as reivindicações. Os de baixo mobilizam-se para exigir o que dizem ter direito. Aquilo que parecia vitória garantida e pujante, começa a encolher e a trazer à memória medos recentes. Não fosse a máquina de certa comunicação social arregimentada e os engulhos seriam maiores e mais visíveis. Nem a distração do futebol consegue apaziguar os mais dececionados.

A ‘caça ao voto’ está na rua mais do que nunca. Assim estejamos despertos para as consequências…  

 

António Sílvio Couto  



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