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sábado, 11 de novembro de 2017

Habilidades na tecnologia


Nos tempos que decorrem vemos surgirem continuamente mais e melhores tecnologias, umas suplantando outras, algumas recriadas das já existentes e bastantes inovadoras… Foi isso e muito mais que esteve em destaque esta semana na ‘Web summit’, que decorreu, em Lisboa, para gaudio de milhares e milhares de expertos na matéria…

Não é, essencialmente, sobre este evento que desejamos refletir. Dele se disse o suficiente para o acharem comparável à façanha dos descobrimentos dos séculos XV e XVI. Em edição desde 2009 – as cinco primeiras edições em Dublin, Irlanda do Norte e as duas últimas em Lisboa, tendo passado ainda por Londres – esta conferência de tecnologia global serve para aferir dos progressos e das perspetivas nesta área de atividade…cada vez mais abrangente.

Desejamos falar sobretudo dessa evolução do ‘homo sapiens’ para o ‘homo tecnologicus’, cujas capacidades tão fortemente vem influenciando a nossa vida, desde os pormenores mais simples e bizarros até aos mais complexos e sofisticados.

O domínio crescente da tecnologia tem vindo a favorecer a nossa vida. Mesmo sem nos darmos conta disso, vivemos rodeados de tecnologias, qual delas a que menos somos capazes de dominar, mas antes como que nos dominam, tanto na utilidade, quanto nas subtilezas com que somos confrontados, sabe-se lá, quase dominados…   

= Atendendo à virulência desta intensa etapa tecnológica da nossa condição humana, há questões que se podem/devem colocar, em ordem a não sermos meramente manipulados pela galopante evolução deste sector no contexto cultural, económico e social.  

* Não será que o uso intensivo da tecnologia estará a fazer diminuir as nossas capacidades pessoais?

* O uso/abuso da tecnologia não estará a fazermos menos inteligentes e menos livres, embora mais práticos e talvez eficientes?

* Por entre tantos artefactos tecnológicos – apresentados, pressupostos e induzidos – não se encobrirão uns tantos habilidosos sob a capa de esperteza e ensombrando os mais inteligentes?

* A intensa dependência dos meios de tecnologia – telemóveis, tablets, internet, redes sociais e tantos outros pretensos adereços úteis e de autopromoção – não estará a criar novos ‘drogados’ e dependentes egocêntricos, egoístas e hipocondríacos?

* A submissão a tantos dos meios da tecnologia não estará a criar novas dependências psíquico-emocionais que poderão interferir na evolução da capacidade humana de relacionamento entre todos?

* A tecnologia não se terá tornado uma finalidade nela mesma, em vez de ser só uma ferramenta criada pelas pessoas e colocada ao serviço delas?  

= Neste, como em tantos outros campos da atividade humana, nada é bom nem é mau, tudo depende do uso que lhe dermos ou soubermos dar. Assim, a tecnologia mais recente ligada ao domínio da comunicação global tem vindo a ser uma ferramenta que tem sido usada – tanto quanto se percebe – de forma humanista, com alguns casos nem sempre corroborados com esta visão mais ou menos otimista. Com efeito, há casos em que as tecnologias – poderá ser abusivo ainda usar a designação de ‘novas’, pois para muitos (os mais novos) são as únicas que conhecem – de comunicação podem ser usadas por mentes menos bem-intencionadas.

Em certos setores – sobretudo nos ligados à comunicação social… nas suas diversas vertentes – dá a impressão que tem vindo a ser usado em excesso a expressão – ‘contar uma história’ (e esta nem sempre será escrita nesta grafia, mas antes como ‘estória’, isto é, narrativa nem sempre verídica ou verificável) – na aceção de querer dizer algo que não seja menos atrativo e se torne mais aceitável… Ora, a tecnologia não poderá tender a subverter a apresentação das notícias, dos factos, dos acontecimentos, das situações, dos casos… mesmo que se revistam de roupagem dramática e menos light…

As habilidades da tecnologia não poderão ser colocadas ao serviço de outra coisa que não seja a verdade, mesmo que nua e crua, mas sempre verosímil… A tecnologia há de um instrumento da Verdade, sempre!    

 

António Sílvio Couto



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