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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Controlo da informação: porquê, para quê ou por quem?


Um dos tiques mais comuns das chamadas forças totalitárias é o do controlo da informação, condicionando, deste modo, o direito a ser livremente informado, a ver/escutar a versão que não somente a oficial, a antes de mais dar critérios de escolha e não somente uma visão única, a criar a componente de pluralidade e, sobretudo, a que não haja uma leitura uniforme da diversidade de perspetivas…dos acontecimentos.

De facto, no estertor da capitulação dalgum regime ou na composição dalgum sistema que faça com que a maioria pense o que quem manda desejar, o controlo da informação é um dos adjetivos que mais recorrentemente favorece quem manda, seja lá a instância que for… em que, quanto mais elevada possa parece, mais se podem ver tais fenómenos, por muito subtis ou mais disfarçados que nos apareçam ou sejam servidos.  

* Portugal apresenta um longo historial sobre esta matéria, desde o ‘lápis azul’ do regime anterior até às comissões sindicais mais ou menos zeladoras das publicações…em democracia, passando pelos condicionamentos com que tantas vezes a comunicação social – anteriormente a escrita, mas também a radiofónica e a televisiva – tem precisado de lutar para possa ser o mais livre e independente possível…  

* Poder-se-á dizer que quanto mais controlador for o regime ou o sistema de governação mais se tornará plausível entender que os tiques de ditador emergem nas opiniões formuladas ou encomendadas, nas fugas a prestar esclarecimentos, nas declarações sem direito a perguntas, nos comunicados de certos gabinetes de informação, no centralismo informativo, nos espaços publicitários ou nas demandas ao abrigo do direito de resposta…sem resposta.  

* Mais uma vez dizemos que ser a voz-do-dono pode trazer regalias, mas, por certo, não nos trará (maior e melhor) qualidade informativa e esta tem de ser procurada e não meramente limitar-se a reproduzir as frases exaltadas (e exaltadoras) dos gabinetes que cozinham as notícias, não podendo (ou devendo) fazer dos profissionais da área meros tambores de ressonância de quem manda…  

* Nos tempos mais recentes temos visto e sentido que muito daquilo que é a (dita) informação positiva sobre o país sofre deste complexo de branquear as dificuldades e fazer crer que tudo corre bem quando se encomenda tal promoção…E não aceito que chamem epítetos de sabor antinacionalista a quem não alinha nesta feira de vaidades e de mentiras… A prova de que algo não é sério nem credível é a de concentrar nas mãos duns poucos aquilo que pode interessar a todos, mesmo que isso possa ser a contragosto…de quem exerce o poder, hoje como ontem.  

* Não será por se estender um manto colorido por sobre todos os cidadãos deste país que viveremos muito mais do que uma paz que não seja podre e que teremos uma convivência mais ou menos tolhida pelo medo de destoar da maioria, mesmo que esta possa estar intoxicada pela informação que lhe servem… O nivelamento social tem caído mais e mais até à vulgaridade dos intervenientes e intérpretes anónimos ou mais relevantes.  

* Agora que vivemos uma espécie de jornalismo popular – onde cada cidadão se acha no direito de filmar, de gravar, de reproduzir ou de difundir – o que vê, assiste ou ouve…mesmo que possa atingir o foro particular mais pessoal de outrem…torna-se ainda mais importante que os profissionais da comunicação não se convertam em utilizadores acríticos dessa espécie de face-book mais ou menos tolerado e sem rede…desde que bajuladora do poder. 

= Quem tem tanto medo de que não falem de si senão for só bem? Quem tem andado a semear ventos, fazendo de conta que apazigua tempestades? Porquê, para quê ou por quem somos, afinal, controlados?

 

António Sílvio Couto



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