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terça-feira, 18 de julho de 2017

Porque não dei para o peditório…


Decorrido cerca dum mês sobre os graves acontecimentos na zona do Pinhal interior e mais recentemente na região de Vila Real e de Viseu, em matéria de incêndios e das suas consequências, emergiu uma espécie contestação à forma como tem decorrido a distribuição das campanhas entretanto realizadas...tendo em conta os milhões angariados e ainda não disponibilizados a quem precisa.

Nota-se nalgumas mentes e por parte doutros mentores a proposta de que a coordenação e a entrega das ajudas deve ser acometida aos órgãos de governo (autárquico e central), não deixando o devido espaço nem a correta intervenção da iniciativa privada.

Ora, é por causa desta estatização e da exagerada concentração de ações de caráter solidário nas mãos e no poder de quem pode usufruir de benefícios com aquilo que foi a participação desinteressada, que me leva a considerar que não me sinto incentivado em contribuir para tais peditórios...

Por entre certas anomalias podemos perceber que nem sempre a solidariedade que tão dignamente carateriza o povo português – com o coração sobrepujando-se tantas vezes à inteligência – tem correspondente dignificação por parte daqueles que se arrojam distribuidores de benesses aos seus apaniguados, fazendo crer que a torneira das regalias melindra quem se sinta necessitado de ajuda... 

= Há, no entanto, um manto de silêncio – será propositado ou cúmplice – sobre tantas e tão benéficas iniciativas onde a Igreja católica participa, seja porque se empenhou nas campanhas, seja porque estando mais próxima das pessoas – o que é muito para além da entidade abstrata das populações – e conhecedora das suas prioridades, mas que é quase acintosamente esquecida e/ou menosprezada. De quando em vez fomos vendo alguns jovens escuteiros a participar, mas as ações organizadas por tantas e tão diversificadas associações sócio-caritativas passam ao lado das informações noticiosas...

Os milhares de euros recolhidos nos peditórios das missas de 1 e 2 de julho passado, em todo o país, não podem, por uma questão de justiça, ser entregues às autoridades civis, pois estas têm critérios nem sempre claros e tão poucos dignificadores dos que precisam de ajuda...

Não reconheço qualquer autoridade aos governantes que se apropriem dos dinheiros recolhidos para fazer deles uso para a (possível) conquista de votos para as próximas eleições autárquicas. Não reconheço nenhuma presunção de inocência a quem noutras ocasiões fez tão mau serviço àqueles que foram vítimas de acidentes, incidentes ou tragédias... Com efeito, já foi há décadas que decorreu a tal ‘operação pirâmide’ (em 1978 e que rendeu cem mil contos), onde foram recolhidas milhares de peças de roupa, de alimentos...de ajuda vária, mas que nunca chegou aos destinatários... Depois disso outras campanhas foram desenvolvidas e os resultados redundaram em imensas suspeitas, tendências de corrupção, aproveitamentos em desfavor dos que não receberam o que deviam e precisavam... Parece que não aprendemos com o passado e os acontecimentos do presente mais não fazem do que continuarmos a tentar ludibriarmo-nos complacentemente...  

= Fique claro: as ajudas devem ser canalizadas por entidades que não possam ter benefício algum – eleitoral ou de promoção social – daquilo que é recolhido ou para quem possa usufruir dessas ajudas. Torna-se, cada vez mais urgente, que as ajudas cheguem condignamente àqueles a quem se dirigem e não sejam dadas a conta-gotas como que os recetores fossem menores ou menorizados.

Afinal, estes acontecimentos trágicos vieram, mais uma vez revelar, quem somos como povo, tanto no melhor como no mais abjeto...

Que as próximas eleições autárquicas possam aferir da maturidade de votantes e eleitos!

 

António Sílvio Couto



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