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sábado, 29 de julho de 2017

Saber a verdade (não) gerará confiança!


Nos mais diversos campos de atividade podemos constatar que a melhor forma de servir a confiança passa por falar e por viver a verdade, seja no modo verbal, seja na forma mais comprometedora que é a de ser verdadeiro, tanto na forma como no conteúdo.

Ora o que temos visto nos tempos mais recentes pode ser interpretado como o antagónico de tudo isso: imensos sinais nos levam a suspeitar que não nos dizem a verdade, ou que, antes, nos escondem factos e situações, numa espécie de simbiose entre a mentira e a manipulação… nos incêndios, nas notícias, etc.

Enquanto quem ocupa os postos de poder pretender sentir-se dono da verdade, poderemos viver na ingrata consideração de que alguém usa os lugares em que se encontra para ganhar ascendente sobre quem está fora desse âmbito privilegiado e, por isso, suscetível de ter benefícios sobre os outros…

Enquanto formos vendo que os afastados da cátedra do mando invetivam quem tal posto ocupa como se fosse um intento de sobreposição em vez de ser uma oportunidade de serviço… veremos que, mudados os ocupantes, a manjedoura continuará a atrair quem dela se aproxima mais ou menos ávido de tratar os demais como por agora são considerados…  

= No contexto social nacional temos vindo a viver episódios diversos onde quem está acima negligencia quem está em baixo…embora ainda recentemente tenha estado por cima. Decorrido o tempo de nojo da passagem pelo poder foi-se gerando nova apetência para voltar a ser dominante. Pena é que os tiques agora acusados não tenham sido vistos anteriormente, pois isso serviria de lição para entender quem subtrai informação ou quem apresenta laivos de ver de soslaio quem reclama com maior ou menor ruído…

Parece que se paga com idêntica moeda – embora se esteja em diferente lugar do espaço de negócio – o que antes foi feito e por agora se reverte sem nexo ou qualquer pejo de contradição.

Efetivamente a muitos dos atores destas ações – políticas, sociais, económicas e afins – falta memória e até alguma vergonha, pois, o que agora se pretende exigir, antes não foi atendido e o que agora é feito já foi contestado mesmo sem resultado… 

= No complexo espetro do nosso mapa psicológico nacional vemos, recorrentemente, surgirem uns tantos ‘salvadores’ duma pátria ensimesmada sobre o seu passado. Mesmo quando nos apresentam leituras otimistas do nosso presente coletivo, há como que, em cada um de nós, um ‘velho do restelo’ mais profundo que desconfia de tudo e de todos e que lança suficientes anátemas sobre algum sucesso realizado… Isto é ainda mais acicatado pelo clima de crispação recente e recorrente em que vamos vivendo. Deste modo a pretensa verdade não conseguirá manifestar-se em confiança, mas talvez em ceticismo tácito ou mesmo pírrico. Em boa parte das situações vivemos como que em desconfiança para com os outros, senão mesmo para com a própria sombra… Somos, por natureza, bastante pessimistas e acreditamos pouco nas nossas potencialidades… 

= Agora que dizem que o desemprego desceu a menos de dez por cento. Agora que dizem que a credibilidade económica subiu a níveis de há dezassete anos. Agora que tudo parece mais pacífico em matéria de contestação social e sindical. Agora que o sucesso parece que se antepôs, temporária e artificialmente, a trabalho, vamos tentar dizer a verdade uns aos outros para que se possa gerar a confiança uns nos outros e todos em que manda e em que contesta, mas pouco.

Antes que o país vá para saldos, alegremo-nos! Até breve, se ainda não pagarmos impostos por pensar e para podermos dizer o que queremos!   

 

António Sílvio Couto



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