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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Inimigo do inimigo…será amigo?


Na imensa cadeia de relações e de conhecimentos, de transações e de referências… com pessoas de vários estratos e códigos, de diversos momentos e em etapas díspares… vemos que a nossa vida se tece e entretece numa razoável complexidade, que, por vezes, conseguimos abranger e noutras situações como que nos ultrapassam.

A citação da frase – ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo’ – reporta-se ao contexto da segunda guerra mundial e teve as seguintes implicações históricas: Joseph Stalin à frente da Rússia aliou-se aos Estados Unidos da América do presidente Franklin Roosvelt e a Winston Churchill, primeiro-ministro britânico… todos contra Adolf Hitler que geria a Alemanha.

Decorridos tantos anos parece que emergem, de quando em vez, alguns laivos dessa aliança, agora configurada a outros interesses, desde os mais mesquinhos até aos mais sublimes… se é que tal caraterística de sublimidade se pode a aplicar a algo que tenta explorar os outros e até usá-los conforme possa convir. 

= Por estes dias surgem, de facto, sinais que podem ser preocupantes para a nossa identidade coletiva. Esta ‘nossa’ é mais do que uma leitura ideológica que pretenda ver ameaças em tudo e em todos que não pensem à nossa maneira. Quem, assim, se vê e interpreta os outros poderá comportar, mesmo que de forma subtil, uma carapaça de ditador encolhido, pois os outros nunca são (nem podem ser) ‘inimigos’ se não se identificam, totalmente, connosco e com as nossas manias… algumas delas bem ressabiadas e preconceituosas.

Veja-se a forma acintosa com que certos setores olham e julgam o resultado das eleições nos EUA e daí querem, rapidamente, tirar lições para o resto do mundo, desde que não sejam da sua cor nem perfilem os seus ideais. Com efeito, essas pessoas têm memória curta, dado que a sua cortina caiu somente há menos em trinta anos (1989) e julgam que o perigo se diluiu só porque que se ‘democratizaram’! 

= Urge, por isso, sabermos quem são (ou podem ser) os inimigos reconciliados, pois do diagnóstico bem conseguido poderá estar dependente o futuro das relações entre povos e culturas, entre propostas e programas, entre quem sonha e quem querer comprometer-se em realizar algo mais que a imposição de soluções, mesmo que de conveniência.

No nosso país precisamos de fazer sair da lura ou saltar do sofá essa imensa maioria silenciosa que se tem calado e acomodado com os desvarios da governança. Não podemos deitar a perder os sacrifícios dos anos transatos pela simples razão de que tudo tem de ser revertido, pagando favores a dirigentes sindicais e tentando conquistar votos com migalhas dum bolo esfarelado e azedo.

Quando os inimigos se zangarem poderemos compreender quem enganou quem, qual é a fatura que todos teremos de pagar e como iremos assumir as consequências de tanta ‘amizade’ interesseira. Não temos a menor dúvida que muita coisa vai fazer-nos voltar ao ‘dejá vu’… mais cedo do que tarde. 

= Desde o princípio do cristianismo se diz: ‘se alguém não quer trabalhar também não coma… ganhem o pão que comem com um trabalho tranquilo’ (2 Ts 3,10.12). Ora, o que temos visto e observado é que há muita gente a viver sem trabalhar, fazendo vida de rico e, ao que parece, com bolsa de pobre. Algo vai mal neste reino do ‘faz-de-conta’, pois não se pode repartir nem auferir melhores salários se não há investimento nem produção. Desgraçadamente ainda não vimos este perigo?

Tolhe-nos um complexo de inferioridade coletivo, pois queremos dar a entender que temos nível de vida – social, económica e cultural – mas os princípios pelos quais nos regemos – ou nos dizem governar – são falaciosos e articulados na mentira. 

= Há muita gente e instituições – algumas delas de solidariedade social da Igreja católica – que estão compradas pela boca, umas vezes porque precisam de quem governa para permitir cumprir as suas obrigações e outras vezes calando o que se pode e devia dizer, pois isso poderá colocar em risco a sobrevivência de tantos postos de trabalho. Haja verdade e coerência!

 

António Sílvio Couto 

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