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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Caixa’s de pandora!


Este ano de 2016 – prestes a terminar – trouxe à sociedade portuguesa algumas apreensões sobre a designada CGD (caixa geral de depósitos), tanto na matéria da sua existência – depósitos deixados ou resposta aos pedidos solicitados, como ainda no resultado das economias – bem como na forma de gestão – mais errática do que de confiança – sobre o presente e, sobretudo, o futuro.

Atendendo ao setor bancário foi este caso o culminar de situações que envolveram outros bancos, com os custos inerentes na economia e nas finanças (impostos) dos portugueses. Quase poderíamos considerar que cada governo – seja qual for a cor partidária – neste século XXI (isto é, em dezasseis anos) teve o seu ‘banco de estimação’ com a necessidade de resolver os casos, dado que estamos vinculados à União Europeia e – até ver – não se brinca com coisas sérias. 

Atendendo, porém, a que se pode apelidar a CGD de banco nacional, tudo e o resto que ali aconteça se pode tornar uma caixa de pandora. Esclarecendo esta expressão ‘caixa de pandora’. Caixa de pandora é um artefacto da mitologia grega em que Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, que era muito curiosa, foi-lhe dada uma caixa em que estavam todos os males do mundo… na sua curiosidade Pandora caiu na tentação para ver o que havia na caixa… e dela saíram todos os males, que se espalharam pela terra! 

= Efetivamente o nosso sistema bancário é uma autêntica ‘caixa de pandora’, pois, quando se começa a falar duma instituição, bem depressa chegam em catadupa réplicas do terramoto com cada vez maior intensidade. Por isso, o que, neste último ano, se tem verificado com a CGD está ainda no princípio dos efeitos sobre a economia nacional, as precárias poupanças dos clientes e até sobre a credibilidade do sistema económico-financeiro.

Porque será que tem havido tanta nebulosidade no trato com os gestores, por agora demissionários? Porque houve o arrastar de clareza e/ou esclarecimento sobre pretensões e promessas aos indigitados? Porque se gastou tanto tempo e energias em esconder/descobrir o que, de verdade, se passou? Porque se contesta tão ardilosamente o setor privado, mas depois se vai recrutar neste quem possa gerir no público? 

= Até ver todos são sérios desde que não se prove o contrário. Por isso, este fenómeno CGD é paradigmático do modo como muitas das questões são tratadas em Portugal. O problema arrasta-se há demasiado tempo para que não deixe sequelas de desacreditação no país. Não se compreende como pessoas que deviam ser honestas e leais se deixam enredar por questiúnculas de nível menos transparente…

Neste processo como noutras matérias falar em excesso da questão só agrava (ou tem vindo a agravar) o problema e faz com se possam misturar interesses pessoais com tarefas institucionais. Precisamos de criar novamente um escol de pessoas que sejam capazes de viver em missão de serviço aos outros e não tanto – como parece que se pode descortinar – que se valham dos lugares para (aparentemente) enriquecerem e se vangloriarem no presente e para o futuro.  

= Todo este problema dever-nos-ia proporcionar – a todos – uma reflexão sobre o nosso modo de lidarmos com as coisas materiais e o dinheiro em particular, pois muito daquilo que fomos percebendo se prende com a não-aceitação clara e legal de apresentar a declaração de rendimentos, por parte dos gestores demissionários e um certo afã para não dar parte de derrotado, para que se cumpra a lei, de quem tem (teve) a tutela do assunto ao nível superior em governação. Dá a impressão que alguém não estava preparado para gerir este assunto tão efervescente!

Agora que entramos em fase de natal-consumista poderemos tirar uns segundos de tempo para nos confrontarmos com as seduções do momento: até onde irá a ousadia em lutar contra as tendências que nos têm sido semeadas para que gastemos mais e mais, preenchendo a nossa vida com coisas em vez de nos alimentarmos dos verdadeiros valores humanos e espirituais?

Afinal, como tão sabiamente nos tem dito o Papa Francisco: não consta que a ‘mortalha tenha bolsos’ para levarmos na morte os bens que, entretanto, aferrolhamos!      

 

António Sílvio Couto 




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