Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Olimpicamente… à portuguesa


Acabaram os jogos olímpicos – na dose de atletas ditos ‘normais’ – do Rio de Janeiro: muitas e diversas modalidades preencheram cerca de três semanas de competições, houve momentos de alegria e situações de tristeza, sonhos que foram concretizados e aspirações que se goraram… nalguns casos mais uma vez ou por pequenas diferenças…

A delegação portuguesas com mais de uma centena de atletas, treinadores e pessoal de apoio, quedou-se com uma simples medalha de bronze e diversos diplomas – um reconhecimento de quem ficou qualificado do quarto ao décimo lugar nas respetivas provas – num custo que se estima em dezassete milhões de euros… o que fez alguns considerarem que a dita medalha conseguida no judo terá tido aquele valor tão exorbitante…

Mais uma vez – em Londres há quatro anos aconteceu um espectro idêntico – os resultados ficaram aquém das nossas aspirações, tanto em relação aos atletas como nos augúrios dos portugueses em geral. Com efeito, a partida da primeira leva de competidores aconteceu no rescaldo da vitória do europeu de futebol em França. Por isso, eram expetáveis alguns resultados mais benéficos.

Claro, que muitos dos que assim desejavam associar-se às vitórias fazem parte da imensa maioria silenciosa para quem o desporto de alta competição só me mede pelas vitórias, esquecendo-se das muitas e incontáveis horas de luta e de sofrimento com que os nossos atletas viveram os últimos quatro anos. Não vimos os responsáveis cimeiros da governação a virem a terreiro reconhecerem que nem tudo vai bem quando se perde e se regressa ao país pela porta pequena… Seria como que desonesto intelectual e politicamente aproveitar-se dos sucessos alheios para quererem colher dividendos partidários… Será algo que nos deve envergonhar, quando vemos atrelarem-se às vitórias aqueles que não dão – não deram e nem darão – condições para que os nossos atletas sejam mais do que alfinetes de lapela na hora da verdade e dos (pretensos) louros.  

= Das análises já feitas realçam-se os atletas que se consagram de alma-e-coração ao seu desporto favorito e com isso cativam os mais novos para desenvolverem as suas faculdades muito para além do futebol ou do atletismo… que já nos deram reconhecimento internacional. Que dizer da canoagem ou do judo, do ténis de mesa ou da natação, que na maior parte das vezes – sobretudo nestas modalidades – é desenvolvida por clubes e associações de âmbito privado, que investem muitos dos seus recursos ‘fazendo’ estes atletas a quem o Estado devia dar mais do que esmolas ou prebendas se forem da cor partidária reinante… 

= Tal como noutras áreas – os fogos florestais, as cheias ou os acidentes – não basta fazer promessas a quente, se depois não se conseguem criar condições mínimas, exequíveis e amadurecidas, que nos façam programar a médio e longo prazo… colhendo os frutos com serenidade e correção. Qualquer bom atleta leva bem mais duma década a cumprir um programa sequente e de (possível) bom sucesso… incluindo o despertar, o desenvolver e colher frutos… Repare-se na situação de um jovem nadador que, há oito anos, tirou uma fotografia com o seu ‘ídolo’ ao tempo e agora, nestes jogos olímpicos, conquistou contra esse mesmo ídolo a medalha de ouro na competição!   

= Olimpicamente falando Portugal continua a querer colher o que não se semeou e, se o fez, quer tão rápidos resultados que não podem ser nem sérios nem capazes de trazer novos praticantes às modalidades vencedoras. É urgente mudar de mentalidade e refletir sobre que pessoas queremos no futuro próximo.

Agora que o show se desfez por momentos, esperemos pelos resultados dos jogos para-olímpicos, pois aí costumamos ganhar mais medalhas e reconhecimento público… mundial. Também neste setor o investimento estatal é tão ridículo que não deixará de trazer à liça a fundamental aposta que os privados fazem nesta matéria.

Agora que vivemos uma etapa de neo-estatização de tudo e de mais alguma coisa, queremos deixar aqui um conselho aos governantes: já que fizeram tão pouco, não se aproveitem das mazelas dos outros, pois eles são para todos nós uma lição de dedicação, de empenho e de superação… Assim todos o sejamos capazes de reconhecer! 

    

António Sílvio Couto



Sem comentários:

Enviar um comentário