Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 29 de agosto de 2016

É proibido proibir…


Em França continua a ser ‘lei’ um tácito princípio que raramente não se exprime: é proibido proibir… Isso mesmo se verificou na questão do burquini, uma espécie de fato-de-banho feminino, que alguns autarcas de zonas balneares francesas do sul proibiram o uso, mas que o conselho de Estado não concedeu que fosse considerado motivo de proibição, pois ofendia a igualdade de direitos de todos os cidadãos – no caso as cidadãs – perante a lei geral francesa…

A discussão que se gerou à volta do uso ou não do burquini pode reduzir-se, genericamente, a duas perspetivas: uma que reclama da ofensa às liberdades individuais e outra que pretende afirmar o laicismo do estado… na medida em que o burquini, sendo usado em público pelas islamitas, poderia ser visto como ‘um símbolo da escravidão das mulheres’ seguidoras do islão…

Deixando a questão do pretenso fato-de-banho feminino, o burquini pode colocar questões mais simples do que um mero tema religioso-cultural. Que dizer, então, do fato dos surfistas: só lhe falta a touca para ter muitas semelhanças com o burquini: será uma coincidência ou faz-se problema com assuntos de natureza confessional? Será que esta espécie de islamofobia não trará mais confusão e radicalismo em forças fundamentalistas… dentro e for da Europa? 

= Acreditando que o bom-senso há de ganhar nesta como noutras lutas, deixamos agora algumas considerações sobre o ‘proibido proibir’ tão francês e as suas ramificações na cultura ocidental.

De vez em quando França volta a tentar que seja proibido proibir. Assim foi no maio de 1968, assim tem acontecido quando se tentou fazer essa espécie de miscigenação cultural dos vários povos que foram ‘invadindo’ o país desde os finais da segunda guerra mundial e de que agora se está a colher (mais visivelmente) os frutos. À queda do cristianismo em França e na Europa em geral vemos crescerem múltiplas manifestações religiosas e culturais imbuídas doutras religiões e com implicações culturais, sociais, humanas e até desportivas… Vejam-se as equipas francesas dos vários desportos: quantos atletas com origem procedente de várias colónias francesas ou descendentes de emigrantes… onde os apelidos não conseguem disfarças as raízes. Com efeito, a situação francesa é bastante reveladora da realidade social de tantos outros países… Se o é nas causas, sê-lo-á nas consequências. Por isso, se por lá vemos certos fenómenos mais ou menos subversivos, temos de estar preparados para os vivermos por cá a muito curto prazo!  

= De facto, vivemos cada vez mais numa sociedade onde ‘é proibido proibir’, logo desde a mais tenra idade. A educação tem vindo a fazer das crianças pequenos ditadores, aos quais pouco ou nada se pode contrariar. Se isto se vai verificando na pedagogia, podemos ver idêntica vivência na condução da sociedade. Quem ousa contrariar ou contraditar seja quem for? Vemos crescer numa razoável escala uma espécie de intolerância à tolerância, pois se pretende que se seja o mais possível compreensivo para com o ‘eu’ e suficientemente exigente para com o ‘tu’… numa difícil conjugação do ‘nós’. Com que facilidade vemos medrar na nossa sociedade um ambiente onde quase tudo vale, desde seja para benefício dum ‘eu’ crescentemente egoísta e centrado nos seus próprios interesses ou desejos… 

= Temos de ser capazes de recentrar a nossa vida nas exigências de verdadeira e autêntica liberdade do Evangelho de Jesus Cristo, pois só n’Ele e por Ele podemos conhecer e reconhecer, aceitar e renovar, entender e discernir o que, em nós e à nossa volta, há de menos cristão ou mais pagão, seja nas ideias, seja no comportamento. Com efeito, só na luz do Espírito Santo podemos ser acusados dos nossos próprios erros, acolhendo essa denúncia na voz da consciência, sempre aferida aos valores do Evangelho e na condução sincera e humilde duns pelos outros… como irmãos.

Talvez nem sempre o ‘é proibido proibir’ seja cristão, na medida em que podemos antes inchar de orgulho e de vaidade, não deixando que possamos ser corrigidos nas pequenas como nas grandes coisas. O esforço da conversão continua a ser uma graça de Deus misericordioso e bom!

 

António Sílvio Couto 



Sem comentários:

Enviar um comentário