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sábado, 18 de junho de 2016

Coisas duma banca…desgovernada


Já desde a crise de 2008 que temos vindo – tanto por cá como pelo resto do mundo – a verificar muitos e díspares problemas que têm atingido o setor bancário, desde a gestão até à condução de fundos, passando pelos riscos e erros, confusões e acusações, privatizações ou nacionalizações… onde muitos perderam quase tudo e poucos foram responsabilizados pelo que fizeram de menos bom, de mau ou de (possivelmente) criminoso.

Para nos cingirmos à nossa realidade lusa, não houve nenhum governo nestes últimos oito a dez anos que não tenha tido o ’seu banco-problema’, umas vezes assumida e rapidamente aceite, outras vezes só após longo tempo de fuga à responsabilização, tanto política como economicamente. Há casos que se têm vindo a arrastar tanto na justiça que uma grande parte dos factos (quase) vão prescrevendo. Noutras situações a embrulhada é tal que – publica e notoriamente – se vão confundindo os papéis de acusados e acusadores, de réus e vítimas, de beneficiados e de lesados… num corrupio de encenações dignas de algum filme de terror e não de entretenimento. 

= O que mais custa a aceitar é que os conluios político-partidários vão sentindo que têm espaço de manobra para todo este espetáculo degradante, pois o labéu sobre um qualquer executivo anterior pode muito bem ser encarnado pelas recriminações sobre a má gestão de algum banco, desde que se possa encontrar por lá, direta ou indiretamente, alguém do partido – ou fação deste – que se opõe a quem acusa…

Vemos, entretanto, surgirem mais e mais nuvens de desconfiança entre os diversos depositantes (privados ou associações), para com os gestores das instituições bancárias e quase que envolvendo os funcionários de cada balcão… Depois de muitos dos lesados terem trazido para a praça pública o logro em que foram enganados, como que cresce a principal razão pela qual se investem as economias – em tantos casos de toda uma vida – neste e não naquele banco: a confiança nas pessoas e naquilo que elas representam. Nota-se uma crescente apreensão sobre o que nos querem vender, quando nos pretendem comprar o nosso dinheiro por um certo valor. Funcionários e clientes como que rompem essa ténue ligação mais básica da conduta humana: acreditar que não nos enganam nem queremos enganar. 

= Vislumbram-se, por outro lado, sinais inquietantes sobre a nossa (sempre) frágil economia, onde o sistema bancário foi passando de motor de desenvolvimento a ‘elo mais fraco’ de empresas e mesmo de pessoas individuais. Cresce, então, toda uma espécie de degradação e de desacreditação político-ideológica, onde emergem certas garras de forças (pretensamente) anticapitalistas, aliadas a interesses corporativos de incrementação dum coletivismo ressabiado e onde as renacionalizações lançam tentáculos em ordem a manterem o monopólio do Estado e à neocoletivização da economia…

Temos visto, ouvido e lido que alguns dos que foram derrotados noutras latitudes – sobretudo na Europa de Leste e na América Latina – parece que encontrar no nosso país o lastro suficiente e capaz de ensaiar reclamações para com a UE – menosprezando até as lições recentes dos gregos – e auspiciando contestar o mais possível nem que para isso seja preciso aniquilar o modelo que lhes permite reivindicar e afundar aquilo que os alimenta e suporta… 

= Não deixa de ser ofensivo e preocupante que seja o povo – contribuinte e trabalhador, anónimo e empreendedor – quem sempre paga a fatura da má-sorte, pois se algo correr mal são os mesmos a serem sacrificados e espoliados, mas se algo possa correr melhor (ou menos mal) a repercussão dos benefícios leva muito tempo a ser recebida na base popular… emergindo no topo dos quadros reinantes.

De pouco importa dizerem que não iremos ser novamente chamados a mais e mais austeridade, se as situações continuarem a caírem em catadupa no moinho acelerado que tritura os grãos ritmados na grande mó da exigência e do rigor… na Europa que tutela tudo isto.

A banca tem sido o retrato mais aproximado da realidade do país: vivemos acima das nossas possibilidades e não conseguimos converter a prosápia de ricos e aprendizagens de contenção e verdade. Basta de mentira!       

 

António Sílvio Couto




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