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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Família: património da humanidade


«A família continua a ser o caminho privilegiado para a plena humanização daqueles que nascem, o caminho que pode evitar os excessos desumanos de uma sociedade híper técnica e híper individualista. A família – inclusive poder-se-ia dizer que graças a seus defeitos e limitações – permanece o lugar da vida, o lugar do mistério do ser, o lugar da prova e da história. A sua singularidade faz com que a família seja um insubstituível património da humanidade».

Esta afirmação foi proferida pelo Presidente do Conselho Pontifício para a Família, em Albufeira, no decorrer das jornadas de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que se realizam de 25 a 28 de janeiro, subordinadas ao tema: família – centralidade, renovação e continuidade.

D. Vicenzo Paglia teve algumas intervenções neste evento, que reuniu mais de uma centena de sacerdotes e diáconos.

Dada a sua responsabilidade, no contexto da família ao nível mundial e na Igreja católica em particular, D. Vicenzo falou, sobretudo, da vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo. Atendendo aos conhecimentos aportados referiu que, talvez até à Páscoa, tenhamos uma nova exortação do Papa sobre o assunto da família, tendo em conta os mais recentes sínodos, que se realizaram em 2014 e em 2015.

Citamos, novamente, o Presidente do Conselho Pontifício: «Família e comunidade cristã precisam de encontrar uma aliança, não com o fim de se fechar no seu círculo, mas para que fermente de forma ‘familiar’ toda a sociedade. As famílias e as paróquias têm de redescobrir o sonho de Deus para o mundo (…). No cenário de um mundo marcado pela tecnocracia económica e a subordinação da ética à lógica do lucro, é estratégico voltar a apresentar o Evangelho da família como força do humanismo. A família tem de voltar a ocupar o centro da política, da economia e da convivência civil: a família é decisiva para a habitabilidade da terra, para a transmissão da vida, para as relações na sociedade. A família cristã é uma profecia de amor num mundo de solitários».

= Tentemos discernir alguns dos aspetos contidos nos excertos da comunicação de D. Vicenzo Paglia, numa observância de condicionantes à luz dos mais recentes acontecimentos da nossa vida política, social, económica e religiosa.

. O património são as pessoas – quando tantos tentam cuidar mais de artefactos de sabor material…naquilo que ao património diz respeito, vemos que será na família que se poderá salvaguardar o que há de mais intrínseco à nossa natureza humana e comunitária. Quanta história rica de valores e de vivências percorrem as nossas famílias. Quantas belezas escondidas nas feridas e amarguras do passado comum. Quantas vitórias crepitam sob as cinzas e as lágrimas do nosso presente. Com efeito, não poderemos reduzir a família às experiências traumatizadas. Não poderemos desistir de algo que nos faz ter sentido de sacrifício e de luta pelo ainda melhor! Não podemos deixar que outros decidam o que a nós diz respeito!

Há múltiplos sinais de esperança…embora as nuvens de ataque sejam constantes. Os temas fraturantes recorrentes não passam, afinal, de fait-divers de uns tantos para esconderem a incompetência governativa e a incapacidade em efetivamente governar, já.

. Voltar ao Evangelho da família – quando um certo (ou muito) egoísmo tem vindo a fechar ou a encurralar a família, temos de redescobrir a força de humanismo em que está alicerçada a família, particularmente, a de incidência e raiz judeo-cristã. Não basta denunciar que já não há filhos nem que se não tem abertura ao dom da vida, temos de continuar a apostar na evangelização do testemunho, onde as famílias sejam capazes de se abrirem à vida dada e recebida.

De facto, há de ser a profecia de amor que fará derreter os corações mais empedernidos e as mentes mais adversas… Nas diversas idades da vida havemos de ter propostas de anúncio enraizadas no Evangelho e sob a Pessoa de Jesus. Com efeito, ‘uma sociedade de indivíduos autorreferenciais, isolados uns dos outros está destinada à esterilidade e ao conflito’. Somos chamados, de verdade, a participar com Deus no seu projeto de salvação para o mundo… aqui e agora!   


António Sílvio Couto

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