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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

‘Refugiado’ – palavra de 2015


Como noutros anos, em 2015, foi feita a votação/escolha da palavra mais importante/usada durante o ano… e a escolha foi: ‘refugiado’.

Vejamos em decrescendo como foi a escolha da palavra do ano no último quinquénio: em 2014 – corrupção; em 2013 – bombeiro; em 2012 – entroikado; em 2011 – austeridade; em 2010 – vuvuzela.

Na votação e na escolha destas várias palavras do ano reflete-se o ambiente em que se foi vivendo… e que, decorridos, esta meia década, nos dá (ou pode dar) uma leitura circunstancial daquilo que vamos vivendo e valorizando em cada ano…

Assim, este ano o resultado de ter sido escolhida como palavra do ano – ‘refugiado’, dá-nos a conhecer que a realidade dos refugiados foi transversal à nossa sociedade, que, para mal ou para bem, a situação dos refugiados não passou despercebida ou talvez tenha vindo incomodar a consciência e a vida de tantas pessoas…

= A onda de refugiados continua, embora não tanto sob a atenção dos focos da comunicação social. Houve países que tiveram de enfrentar esta situação duma forma inesperada e sem condições de receção nem de acolhimento. Mas muitos dos refugiados tinham na mira da sua caminhada países ‘mais ricos’ da Europa do norte, onde a política social lhes era – parece que agora está a mudar a forma de os atender – mais favorável e compensadora.

Não deixa de ser sintomático que Portugal tendo-se disponibilizado para receber – acolher poderá ser outra coisa! – mais de cinco milhares de refugiados não tenham chegado pouco mais do que umas centenas (se as contas estiverem bem feitas), a conta-gotas e, nalguns casos, mais parecendo um favor que nos fazem do que um gesto de boa vontade de quem (os) recebe… Talvez não tenhamos as regalias que oferecem Alemanha ou Suécia, mas somos, por natureza, bons hospitaleiros… No entanto, isso não tem sido suficiente para sermos atrativos no contexto da Europa…  

= Esta nova vaga de refugiados trouxe uma outra onda de xenofobia nalguns países europeus, ressuscitando fantasmas contra quem procura novas condições de vida, fugindo em razão de dificuldades económicas – embora os que veem sejam dos mais afortunados, pois tiveram meios para comprar a viagem – ou, nalguns casos, por motivos de salvaguardar a vida tendo em conta a fé religiosa, tanto cristã como muçulmana.

Foi algo de tenebroso ver que a resistência a receber alguns dos refugiados tinha por base o medo das expressões religiosas de índole islamita… Pior foi associar essas relutâncias aos casos de terrorismo e a possíveis problemas de insegurança. Nisto, como noutros casos, não podemos meter tudo no mesmo saco e confundir o que é realidade com os preconceitos mais ou menos ideológicos e sectários.

= O presente e o futuro têm de ser preenchidos com motivos de esperança de que os refugiados não são só um perigo para a nossa vidinha de ocidentais instalados e comodistas. Com efeito, ao inverno demográfico vemos surgir uma (possível) solução para serem geradas novas vidas nesta Europa empobrecida porque enquistada no seu mundo feito de egoísmo e até sem largueza de horizontes… São famílias inteiras que vão chegando e isso pode criar novos desafios e possibilidades de rejuvenescimento humano e social.

Talvez tenha chegado o momento de estarmos mais atentos aos sinais de Deus na nossa história coletiva. Talvez devamos abrir o coração a quem chega e exercermos o dom da hospitalidade sem medos nem receios. Talvez nos seja colocada uma confrontação com a decadência dos valores espirituais em que temos vindo a cair de forma galopante e quase acintosa.

= Está na hora de tocar a vuvuzela contra a austeridade, que nos foi servida pela situação entroikada, mesmo que tenhamos de atuar como bombeiros contra a corrupção, mas numa abertura aos refugiados…aqui ou noutro espaço onde seja preciso acolhê-los de coração fraterno, solidário e misericordioso!   


António Sílvio Couto



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