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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Pão e jogos…em versão atualizada


Quem vir mais atentamente o comportamento de tantos dos nossos contemporâneos – agravado com a atitude de muitos europeus para com os refugiados – poderá (ou deverá) interrogar-se sobre o nosso modo de estar coletivo diante dos problemas: quase tudo se resume a comer/beber, entretendo-se em festas (com maior ou menor duração)… desde que cada um esteja bem, no seu conceito e conveniência.
Vivemos nessa psicologia de fim-de-império romano do ocidente, no século IV, onde era dado ao povo pão e jogos, não deixando tempo para pensar sobre outros assuntos, desde que houvesse que comer e distrações suficientes.
Tudo isto é ainda mais agravado quando estamos em maré de decidir sobre o nosso futuro coletivo e o que vemos é o criar duma alienação tal que votar não parece fazer parte das preocupações mais essenciais…embora, depois, se reclame das medidas dos governantes, sejam eles quem forem.

= Perante estes factos e tantos episódios como que nos ficam algumas perguntas: Onde está o sal do cristianismo, que revigorou aquele tempo de promiscuidade? Vê-se alguma diferença entre os crentes e os materialistas? Que paixões se pretende desencadear para que seja mais fácil vencer os incautos? Onde está a dita ‘crise’ com tanta abundância de exageros? Haverá rigor – termo bem mais acertado do que o de austeridade – na gestão do orçamento familiar ao ver certos comportamentos públicos? Os gestores das coisas públicas (governo ou autarquias) estarão interessados em dizer a verdade, enquanto o povo andar entretido e distraído? Não deveria haver mais contenção nos gastos, quando vemos tantos outros – refugiados e não só – a sofrer na própria pele as tribulações da fuga aos problemas na terra-mãe? O estado de egoísmo em que vivemos não nos trará consequências terríveis e aterradoras num futuro próximo? O que estamos a semear não vai dar grande colheita…a curto e médio prazo!

= Parece que estamos a viver num tempo em que o que conta é, essencialmente, a satisfação dos interesses próprios, procurando cada qual desenrolar a sua vida (ou será antes ‘vidinha’?) desde que não o impeçam de conseguir os seus intentos. Temos vindo a perder, de forma progressiva, o olharmos para os outros, tornando-os parte da nossa conduta em conjugação num interesse comum e de bem comum. Com efeito, vamos caminhando, cada vez mais, de olhos postos no chão – quais toupeiras à deriva sob a relva fresca – sem nos darmos conta das condições em que tantos dos nossos concidadãos vivem.

= Há hoje comportamentos de pessoas que já foram dadas aos outros, mas que agora se limitam a gerir o horizonte limitado a esta etapa da vida em condição terrena, isto é, conjugando o ‘carpe diem’ epicurista, desde que não se seja incomodado pelos outros. Nem a religião cria mais problemas, até porque também este fenómeno da crença entra na lista das satisfações ‘à la carte’. Quantas vezes temos visto pessoas que estiveram – ao menos na aparência – empenhadas (é diferente de comprometidas) em serviços de Igreja – não o só à expressão católica – mas que se foram desligando até se fecharem no seu mundo – a família costuma ser um dos alibis – quando podiam servir com mais disponibilidade e consciência.

= Como nos têm dito, repetidas vezes, os Papas mais recentes, a nossa religião está centrada na pessoa humana, pois esta tem dignidade mais do que importante para que vejamos os outros como nossos irmãos e não como adversários e tão poucos concorrentes ou muito menos como inimigos. Por isso, os problemas dos outros não são só seus, mas antes nos devemos incomodar, pois eles são parte da nossa caminhada humana e de fé. Diante desta promoção acintosa de ‘pão e jogos’ com que nos vamos entretendo, esta é uma das maiores ofensas à dignidade de tantos cidadãos/irmãos que precisam da nossa ajuda e comunhão.

Está na hora de acordarmos deste sono social em que nos vão embalando muitos dos promotores de festas e festanças…Assim haja silêncio, concentração e disponibilidade para nos revermos e mudarmos (ainda) de conduta!         
 

António Sílvio Couto

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