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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Aprender a benzer-se


Dizia-me, uma vez, um padre daqueles que tinha experiência de vida suficiente, simples e longa: pela forma como vejo as pessoas a benzerem-se assim percebo quem são os cristãos que tenho na minha frente!

De facto, de vez em quando vemos certas imagens – de jogadores de futebol, de pegadores de toiros e outros – a fazerem tal garatuja com as mãos… um pouco como se fosse um gesto de bênção, que temos dificuldade em perceber se aquilo é gesto de fé ou trejeito de benzedura… para dar sorte ou, sei lá, ao menos para, supersticiosamente, não dar azar!

= Sinal da Cruz – «o cristão começa o seu dia, as suas orações, as suas atividades, pelo sinal da cruz ’em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen’. O batizado oferece o dia à glória de Deus e apela para a graça do Salvador, que lhe permite agir no Espírito, como filho do Pai celeste. O sinal da cruz fortalece-nos nas tentações e nas dificuldades» (Catecismo da Igreja Católica, 2157).

Eis, duma forma simples e clara, o significado do sinal da Cruz, que envolve toda a vida do cristão. Desde o batismo – ‘eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo – que o uso deste sinal e a proclamação das mesmas palavras envolvem algo de profundamente trinitário e vinculam o cristão, que usa o sinal da Cruz, na relação íntima e profunda com a Santíssima Trindade. Tudo está radical e serenamente centrado nesse momento de princípio da fé cristã.

= Como benzer-se ou persignar-se? – O gesto de benzer-se ou persignar-se (isto é, o fazer o sinal da cruz) envolve a nossa condição de cristãos, na sua dimensão mais profundamente batismal, pois rezamos a mesma invocação trinitária, que sobre nós foi rezada, quando a água foi derramada como sinal de vida nova e de inserção na vida de Deus em Igreja:

- colocando a mão direita na testa, dizemos – ‘em nome do Pai’ e com isso pretendemos confiar a nossa inteligência (pensamentos, ideias, projetos, etc.) aos cuidados de Deus nosso Pai, permitindo-Lhe ainda que possa contar connosco para a construção pensante da Sua presença neste tempo e neste mundo… Assim exercitamos o dom da fé em confiança e pobreza espiritual… crescente.

– deslocando a mão sobre o tronco, dizemos – ‘e do Filho’ e entregamos a nossa vontade, por vezes rebelde e autossuficiente, para fazermos como Jesus a vontade de Deus a nosso respeito e cada dia e em todo o momento. Agora confiamos no dom da esperança em cumprirmos sempre melhor a vontade de Deus…em atitude de obediência como Jesus.

- e, de um para o outro ombro – normalmente na cultura latina-romana do ombro esquerdo para o ombro direito – passando por sobre o coração, dizemos – ‘e do Espírito Santo’, numa manifestação de abandono ao amor de Deus em nós, pelo Espírito Santo, que é, por excelência, o amor na e da Santíssima Trindade. Assim, permitimos e invocamos o amor de Deus para a nossa afetividade e a vivência e testemunho da caridade cada dia…pela castidade, cada um segundo o seu estado de vida e/ou a sua vocação.

= Benzer-se: testemunho de vida

Deste modo poderemos compreender que o gesto de traçar o sinal da Cruz sobre nós, nesta quase vivência invocativa da bênção divina, é, sobretudo, um testemunho do nosso compromisso cristão, seja onde quer que seja…

É significativo que usemos este gesto de benzer-se, particularmente, no início dos atos litúrgicos, invocando a presença da Santíssima Trindade e ainda no final das celebrações, quando sobre nós é invocada a bênção de envio… e nós traçamos este mesmo gesto, aceitando a bênção pretendida.

Precisamos de consciencializar este gesto do sinal da Cruz, benzendo-nos frequentemente e vivendo um processo pedagógico e educativo para uma fé adulta e amadurecida.

Como seria importante que, antes dos momentos mais significativos do nosso dia-a-dia – desde o levantar até ao deitar, passando pelos tempos de refeição ou mesmo situações de vivência pública – nós façamos o gesto do sinal da Cruz na simplicidade e com convicção… de fé viva e vivida!

 

António Sílvio Couto

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