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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Aprendendo a esquecer


Dizem que é uma das mais salutares capacidades da pessoa humana: a arte de saber esquecer...sobretudo aquilo que em nós (e na nossa história) foi mais difícil e/ou desagradável.

Certamente que todos tivemos (ou temos) episódios que nos marcaram: dos positivos temos mais memória do que dos menos bons ou até negativos. Tudo isso parece que é salutar, pois não ficamos tropeçados só (nem essencialmente) nas mágoas, mas vamos ultrapassando tudo isso, olhando o futuro com novos olhos e renovada esperança.

= Seja qual for a vivência – segundo a idade, a experiência ou até a convivência – de cada um de nós, há sempre alguém que nos influenciou, marcou e criou maior ou menor empatia (mesmo nos derivados de simpatia, antipatia ou mesmo alergia) onde quer que nos encontremos. Quem não recorda, desde a infância ou na idade adulta, alguém que teve (ou tem) importância e significado de referência?

= Nos diferentes círculos (interligados e complementares) em que ‘vivemos, nos movemos e existimos’, encontramos pessoas que podem ser-nos mais ou menos próximas, seja pela convivência, seja pelo contato profissional ou social...De facto, ninguém entra na nossa vida por acaso, mas antes com razões...embora podendo necessitar de explicação. Se o podemos dizer ao nível humano, mais o poderemos considerar na dimensão psicológica e/ou espiritual...atendendo às boas ou más recordações.

= Dependerá muito da personalidade de cada um sermos ou não ‘apegados’ às lembranças e memórias mais ou menos negativas do nosso passado. Com efeito, há quem viva fixado mais nos momentos dramáticos e trágicos que viveu. Há quem viva amarrado mais à tristeza do que aos momentos de alegria. Há quem cultive – mesmo sem ser totalmente de forma doentia – os aspetos de dor e sofrimento bem menos do que as situações benéficas e agradáveis.

= Na interligação do nosso viver quotidiano como que somos confrontados com múltiplos acontecimentos que nos fazem crescer pela dificuldade com que os enfrentamos. Quem não saiu fortalecido duma situação de contrariedade e não aprendeu a crescer em maior maturidade e com mais firmeza? Quem não venceu, pela humildade e a perseverança, algo que na hora da provação foi duro e problemático? Quem não teve de reunir as suas forças humanas, psicológicas e espirituais para saber interpretar certos momentos de provação?

= Numa espécie de cultura do ressentimento e da vingança como que se torna benéfico ter capacidade de esquecimento, na medida em que a memória se liberta das amarras da nossa importância exagerada sobre o que somos ou pensamos ser. Quantas vezes precisamos de questionar-nos à luz da suposição: ‘por quem é que eu me tomo?’ Quantas vezes uma razoável dose de humilhação poderá servir-nos para nos colocar no devido lugar, caindo do pedestal da petulância! Em quantos momentos as lágrimas sorvidas no silêncio podem ser mais altissonantes do que as palavras inflamadas da denúncia e da reclamação!

= Como nos disse o Papa Bento XVI, aquando da sua visita a Fátima, há muita gente que tem as mãos limpas de não ter feito nada. Com efeito, só quando soubermos viver e entregar à misericórdia de Deus as nossas faltas e à compaixão divina as falhas dos outros é que poderemos viver num esquecimento aprendido na escola do seguimento de Jesus, pois Ele tudo fez sem nada esperar em troca...nem sequer o mais leve agradecimento. De facto, a taxa dos esquecidos é muito maior do que a dos imprescindíveis. Assim nós soubéssemos viver aprendendo a esquecer-nos de que somos imprescindíveis...agora ou mais tarde!

 = Não será o esquecimento (daquilo que nos fizeram) uma espécie de perdão de sabor mais divino do que humano?

 

António Sílvio Couto

5 comentários:

  1. O esquecimento não é o melhor caminho.
    Tem se usar o perdão e remediar o que esteve errado para livrar da mágoa no coração para poder libertar a alma.
    Mas leva muito tempo e implica um longo percurso de conversão. Como foi o processo de conversão do Santo Agostinho.
    A inteligência não é sempre a melhor razão.
    Tem haver de haver a Bondade, sem ela não se vai a lado nenhum...

    Enfim, a melhor solução é entregar aos desígnos do Senhor e apelar à Sua Divina Providência.

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  2. é muito verdadeiro o comentário da Sónia.

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