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sexta-feira, 31 de julho de 2015

Como motivar à participação?


Temos visto e observado, temos ouvido e constatado, temos sentido e reconhecido, que se torna, hoje, muito difícil conseguir que as pessoas – seja qual for a instância em que se coloquem – tenham o salutar incómodo ou mesmo ‘inconveniente’ de irem a uma reunião, de saírem do ‘conforto’ da sua quietude para fazerem parte de algo que lhe ocupe o tempo… desde que isso não lhes traga algum proveito económico ou social.
Que o digam as formações partidárias… mesmo em maré de campanha eleitoral! Que o refiram as associações culturais ou recreativas, desportivas ou mesmo de benemerência… mesmo em épocas de vitória! Que o digam os setores económicos (profissionais ou sindicais), quando não conseguem – como noutros tempos! – cativar e mobilizar para manifestações ou mesmo a contestação! Que o possam reconhecer – com humildade e sem falsos temores em fugir à verdade – as ações e vivências da Igreja católica… quando se contentam agora em contar por dezenas o que antes eram centenas ou até milhares!

= Para quem tenta andar neste mundo a interpretar ‘os sinais dos tempos’, urge colocar com serenidade questões que nos ajudem a discernir quais as (possíveis) causas para termos chegado a esta situação, bem como irmos tateando novas soluções que nos possam fazer descobrir como poderemos deixar-nos de ficar nesta lamúria coletiva e ansiosa…

= Vivemos, efetiva e afetivamente, numa crescente sociedade egoísta, feita de pequenos sinais mais ou menos capciosos ou um tanto assumidos. Veja-se a cultura do ‘filho único’, onde cada rebento é ‘rei’ e faz com que os outros – desde a mais tenra idade – lhe prestem ‘culto’, pois tudo tem – às vezes até sem o solicitar – e com facilidade se acha no direito de exigir bastante e, normalmente, com pouco para repartir… Haverá exceções… mas são raras ou muito poucas!

= Há diversos e pequenos indícios de que muita gente corre por algum interesse – intentado, camuflado ou mais explícito – para se sentir à proa da embarcação, mas que rapidamente foge para a popa, quando a intempérie surge e as ondas investem contra os seus intentos e objetivos… Em quantos campos vemos ‘heróis’ na hora da vitória, mas que se acobardam quando era preciso participar e fazer a sua parte… ao menos por gratidão e dignidade.

= De facto, não será com pessoas desta jaez que iremos conduzir as nossas coletividades, associações ou mesmo instituições de quem se esperava que houvesse uma mentalidade altruísta e de serviço aos outros… Poderão ser muitos/as desses/as que fazem com que os mais válidos e prestáveis se vão afastando, ficando como que um certo ‘resto’ que nada faz nem deixa fazer quem ainda se interessa… Efetivamente, longe vai o tempo em que encontrávamos pessoas dedicadas por causas, sem olhar a quem serviam, pois, muitas dessas pessoas tinham em vista o Bem maior de servir a Deus e não se entretinham com os entretantos das quezílias mundanas… Agora vemos que se tem vindo a inverter aquela escala de valores e de servidores.

= Ousamos, por isso, propor breves propostas para que se possa motivar a participação… na vida cívica, social, associativa e mesmo eclesial:
- Antes de colocar alguém a mandar será preciso saber se essas pessoas são boas para serem mandadas… dentro do ditado popular: não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu!
- Antes de colocar a conduzir outras pessoas será preciso perceber que tal ‘chefe’ não tenha traumas nem ressentimentos contra outros que antes foram servidores!
- No exercício de motivação para as iniciativas (menores ou maiores) será preciso compreender como esse/a que conduz sabe lidar amadurecidamente com o insucesso, dando soluções e não criando mais problemas!
- Quem tem de conduzir um processo terá de saber aonde quer chegar e não ficar tropeçado nas dificuldades, mas estas poderão e deverão ser degraus para a caminhada… rumo à meta a atingir com humildade e confiança em si e nos outros.

António Sílvio Couto

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