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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Geração sanguessuga?


Em cada época tem havido, normalmente, a tentação de rotular a geração mais nova...segundo epítetos mais ou menos depreciativos. Já foi geração rasca (devido à linguagem), geração à rasca (atendendo à falta de emprego), geração nem-nem (nem estuda-nem trabalha), geração canguru (que não saiu ainda da casa dos pais)...dependendo de quem vê, lê e interpreta...como que colocando o ónus do défice nos mais novos e não sobre os ombros dos adultos que os geraram, os educaram ou mesmo os condicionaram.

Por estes tempos que correm vemos uma grande quantidade de jovens (com idade prolongada até quase aos quarenta anos) que vive, para além de estar ainda na casa dos pais, às custas – económicas, financeiras e sociais – dos mesmos e até dos seus avós. Muitos destes e daqueles vão suportando netos e filhos com as suas magras reformas e economias doutros tempos...até ao dia em que se rompa o fundo de sustentabilidade de todos.

É digno de registo ainda que, muitos desses jovens, estão mais escolarizados do que as duas gerações anteriores e que, por isso, teriam, numa salutar perspetiva de futuro, a expetativa de melhores condições de vida, suportando as dificuldades inerentes ao crescimento na assunção de responsabilidades humanas e sociais. No entanto, o que vemos é algo de manifestamente contrário, pois muitos adiam criar estabilidade pelo casamento ou outra vocação de vida. Outros vão vivendo sem criar laços de compromisso com ninguém, vivendo à deriva das circunstâncias. Uma parte significativa ou não tem emprego (profissão e meio de sobrevivência) ou falta consistência ao mesmo. Houve quem tentasse a sua sorte – hoje já mais avalizada e assertiva – na emigração...mesmo que tal parece uma espécie de desistência, era e é uma boa opção na medida em que alarga os horizontes e faz crescer na responsabilidade os que tal empreenderam.

1. Viver à custa dos outros – necessidade ou solução?

Atendendo às consequências que tem trazido à geração atual, este viver à custa dos outros pode criar uma forma de estar arrastado por entre o lamaçal da sociedade que (quase) tudo dá e (muito) pouco exige. De facto, não podemos continuar a suportar pessoas que adiam por medo a assunção da renovação da sociedade...só porque há quem lhe apare (mais ou menos) as jogadas.

Talvez se deva educar os mais velhos – avós e pais...Estado ou governo – para que não podemos continuar a subsidiar quem devia produzir, que não podemos continuar a deixar-nos explorar por quem devia contribuir para a construção da sociedade, que não temos o direito de continuar a tratar de menores quem já devia estar a educar seus filhos...responsavelmente.  

2. Exigência ou adulação?

Um outro aspeto que pode ter contribuído para esta espécie de geração-sanguessuga pode ter sido o amolecimento na exigência, seja na educação, seja nas condições vida. Recordo-me, há cerca de vinte anos, ter ouvido, num autocarro na capital, uma senhora bastante idosa, falando dum grupo de adolescentes – hoje devem ter mais de trinta anos – que, tinha entrado na viatura se sentaram logo sem atenderem se havia alguém mais velho – como recomendavam as instruções colocadas no veículo – para lhe facultar o lugar, dizia a senhora: eles agora já nascem cansados, são criados à custa de iogurtes e de frango de aviário!

Já não há o serviço militar obrigatório. As escolas não primam – na sua maioria – pela disciplina. Nas igrejas nem sempre é fácil falar de espírito de sacrifício. Nas pedagogias seguidas por muitos nem consta no léxico e tão pouco na prática...a exigência como arte de fazer pessoas. Nas propostas de sucesso – profissional, desportivo, social, cultural, etc. – esquece-se que este só aparece depois de trabalho... Agora tem de mudar, urgentemente!

    

António Sílvio Couto

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