Segundo dados da FAO (organização
para a alimentação e agricultura), um terço dos alimentos produzidos em todo o
mundo é desperdiçado. Este desperdício corresponde a 1,3 mil milhões de
toneladas de alimentos e tem um custo global de 570 mil milhões de euros… o
equivalente ao produto interno bruto da Suíça. Por seu turno, no mundo 870
milhões de pessoas passam fome todos os dias…
Em tempos recentes assistimos a
um episódio global que pode ser bem elucidativo da falta de vontade em resolver
o problema da fome no mundo: quando as entidades bancárias entraram numa
espécie de colapso, logo os mais diversos governos – sobretudo os mais
poderosos – injetaram dinheiro para salvaguardar aquelas fontes de
prosperidade… Ao tempo foi dito que os fundos disponibilizados correspondiam à
verba necessária e suficiente para acabar com a fome no mundo! De algum modo
poderemos interrogar-nos sobre se haverá interesse fundado e capaz para deixarmos
de assistir à tragédia de tanta gente que morre de fome! Será que o tema da
fome condiciona as respostas sem prejuízo dos métodos usados no seu
prolongamento?
Porque acreditamos que a fome –
esse flagelo desumano tanto ou mais mortífero do que a guerra – pode ser
evitada, se houver novas atitudes dos humanos uns para com os outros, ousamos
sugerir pequenas propostas para a combatermos de forma ativa, consciente e
consequente:
- Saber alimentar-se pode ser, desde logo, uma forma de comunhão com
quem não tem o necessário para sobreviver, passando fome ou vivendo em
subnutrição. Neste aspeto de saber alimentar-se se inserem os cuidados para com
a obesidade e ainda o não comer por excesso ou por defeito o que pode fazer mal
ao equilíbrio somático-psíquico-espiritual. Quantas vezes é o corpo que paga as
debilidades desequilibradas do nosso inconsciente! Se fossemos mais
equilibrados naquilo que comemos outros poderiam ter o suficiente para viverem!
- Educar o desperdício logo desde o prato em que comemos, sabendo ser
moderado nos apetites, desde os mais simples até aos mais condimentados, tanto
no uso do sal como de outros aperitivos… até às compras que fazemos, pois,
senão estivermos atentos aos prazos e às quantidades dos artigos de alimentação
bem depressa estarão fora de validade e irão escusadamente para o lixo. Por
vezes as promoções das grandes superfícies são meras artimanhas que seduzem,
mas que nos levam a estragar a curto e a médio prazos…
- Cultivar a caridade com gestos que ultrapassem a mera conjuntura – repare-se nas campanhas do
‘Banco alimentar contra a fome’ ou alguma outra iniciativa local, nacional ou esporádica
– mas que tenham o cuidado dos outros como tarefa de sensibilidade cultural… Há
um esforço pedagógico que deve ser semeado logo nas crianças, fomentado na
idade da adolescência/juventude e cimentado em projetos de compromisso com os
outros na idade adulta, sem nunca tratarmos os outros como (meros) necessitados,
mas como participantes na sua dignificação… atual e futuramente. Não fosse o
tecido capilar de tantas instituições – muitas delas ligadas à Igreja católica
– e o fenómeno da fome seria, neste momento, em Portugal, um drama de
consequências quase incomportáveis! A caridade também é uma forma de viver a
justiça e a solidariedade na vida prática.
= Desafios políticos da fome
Mais do que um problema social, a
fome é um problema político, que uns tantos usam para manipular os outros,
tornando-os seus lacaios e servidores, pois pela boca os fazem escravos. Até
quando teremos fazedores da política a ralharem com a barriga cheia, enquanto
os seus votantes se entretêm com migalhas que lhe são lançadas da mesa opulenta
da avareza, da vaidade e da cobiça?
Mais do que nunca o slogan: ‘pão
e jogos’ está hoje em vigor, pois se há pão, os jogos servem de disfarce para a
incompetência de tantos e se há jogos, o pão pode servir de arma para
conquistar novos apaniguados… até que descubram o logro em que foram induzidos.
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