Atendendo ao que pode estar
subjacente a esta a afirmação e dadas as lutas em vista das eleições
autárquicas do final deste mês, poderemos tecer alguns comentários, tendo em
conta a necessidade de que os eleitos sejam os melhores e não (meramente) os
menos maus.
= Conceito de ‘democrata’… partidário ou servidor?
Tempos houve, em Portugal, em que
o conceito de ‘democrata’ se tornou um adjetivo de rótulo para distinguir
algumas fações político-sociais, dependendo de quem usava tal epíteto. Aliás,
‘democrata’ era uma espécie de preconceito – normalmente de uma certa esquerda
– de quem discordava do regime anterior ao 25A74. Parece que ainda hoje
subsiste esta pretensão, nalgumas mentes, de que quem não é dos meus é dos
outros… por isso, não ‘democrata’!
Em certos sectores da nossa vida
sindical e empresarial ainda há quem viva (ou talvez sobreviva) à custa de
ideias ‘democratas’, desde que digam e façam o que dá mais gosto a quem
contesta. Veja-se o que se passa com o Tribunal Constitucional, onde uns tantos
– na sua maioria devedores das famílias ideológicas/partidárias – servem uma certa
democracia de quem se revê nuns tantos conceitos de há quarenta anos e não
evoluiu para um mundo onde já não há ‘muros de Berlim’ nem barreiras semelhantes
e tão pouco blocos sociais que se constroem à sombra da guerra fria… entre
leste e oeste.
Temos ainda um razoável caminho a
fazer na aceitação das ideias dos outros, pois nem sempre temos a absoluta
certeza da (nossa) verdade, mas antes aprendemos a fazê-la com pequenos gestos,
dando aos outros também sinais de aceitação e de respeito pelas suas ideias…
Ser democrata não é viver na
artimanha de rotular os outros nem de os enganar com ataques mais ou menos
subtis, mas antes em saber crescer na diversidade dos outros… respeitando-os e
sendo respeitado!
= Democracia: o menos mau dos regimes?
Há quem atribuía a Winston Churchill
a frase de que ‘a democracia é o menos mau dos regimes políticos’.
Respigamos de um almanaque uma
descrição de três figuras políticas dum passado recente e deixamos ao critério
de quem nos leia o juízo.
Figura 1: Sabe-se que esteve
associado a políticos corruptos, que consultava regularmente astrólogos, teve
duas amantes, fumava que nem uma chaminé e bebia cerca de dez martinis por dia.
Figura 2: Foi despedido de dois
empregos, costumava dormir até ao meio dia, fumou ópio na universidade e bebia
um quarto de garrafa de whisky todas as noites.
Figura 3: foi um herói de guerra,
teve várias condecorações, era vegetariano e não fumava, bebia ocasionalmente uma
cerveja e nunca teve relações extraconjugais.
Quem serão estas figuras… do
passado? Que têm em comum?
Figura um – Winston Churchill,
primeiro-ministro inglês duas vezes, orador, estadista, escritor, artista,
oficial do exército e responsável pela recuperação da Inglaterra após a segunda
guerra mundial.
Figura dois – Franklim Roosevelt,
presidente dos EUA entre 1933 e 1945.
Figura três – Adolfo Hitler,
chefe da Alemanha na segunda guerra mundial e responsável pela morte, em
extermínio, de milhões de polacos, judeus, ciganos, deficientes… em campos de
concentração nazis.
Agora que somos chamados a
escolher que saibamos exercer a arte da democracia, praticando-a em pequenos
gestos, que podem trazermos bons ou maus resultados a curto e a médio prazo.
Temos de nos pronunciar, pois se o não fizermos poderão surgir pequenos
ditadores… e amanhã já pode ser tarde. Porque ainda podemos escolher não
deixemos a outros o que é da nossa total responsabilidade, agora!
António Sílvio Couto
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