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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Arte de praticar a democracia

Um autarca não candidato às próximas eleições, numa espécie de balanço dos mandatos exercidos, referiu recentemente: «é fácil dizer-se democrata mas praticar a democracia é uma arte e nem sempre os políticos têm essa arte».

Atendendo ao que pode estar subjacente a esta a afirmação e dadas as lutas em vista das eleições autárquicas do final deste mês, poderemos tecer alguns comentários, tendo em conta a necessidade de que os eleitos sejam os melhores e não (meramente) os menos maus.

= Conceito de ‘democrata’… partidário ou servidor?

Tempos houve, em Portugal, em que o conceito de ‘democrata’ se tornou um adjetivo de rótulo para distinguir algumas fações político-sociais, dependendo de quem usava tal epíteto. Aliás, ‘democrata’ era uma espécie de preconceito – normalmente de uma certa esquerda – de quem discordava do regime anterior ao 25A74. Parece que ainda hoje subsiste esta pretensão, nalgumas mentes, de que quem não é dos meus é dos outros… por isso, não ‘democrata’!

Em certos sectores da nossa vida sindical e empresarial ainda há quem viva (ou talvez sobreviva) à custa de ideias ‘democratas’, desde que digam e façam o que dá mais gosto a quem contesta. Veja-se o que se passa com o Tribunal Constitucional, onde uns tantos – na sua maioria devedores das famílias ideológicas/partidárias – servem uma certa democracia de quem se revê nuns tantos conceitos de há quarenta anos e não evoluiu para um mundo onde já não há ‘muros de Berlim’ nem barreiras semelhantes e tão pouco blocos sociais que se constroem à sombra da guerra fria… entre leste e oeste.  

Temos ainda um razoável caminho a fazer na aceitação das ideias dos outros, pois nem sempre temos a absoluta certeza da (nossa) verdade, mas antes aprendemos a fazê-la com pequenos gestos, dando aos outros também sinais de aceitação e de respeito pelas suas ideias…

Ser democrata não é viver na artimanha de rotular os outros nem de os enganar com ataques mais ou menos subtis, mas antes em saber crescer na diversidade dos outros… respeitando-os e sendo respeitado!

= Democracia: o menos mau dos regimes?

Há quem atribuía a Winston Churchill a frase de que ‘a democracia é o menos mau dos regimes políticos’.

Respigamos de um almanaque uma descrição de três figuras políticas dum passado recente e deixamos ao critério de quem nos leia o juízo.

Figura 1: Sabe-se que esteve associado a políticos corruptos, que consultava regularmente astrólogos, teve duas amantes, fumava que nem uma chaminé e bebia cerca de dez martinis por dia.

Figura 2: Foi despedido de dois empregos, costumava dormir até ao meio dia, fumou ópio na universidade e bebia um quarto de garrafa de whisky todas as noites.

Figura 3: foi um herói de guerra, teve várias condecorações, era vegetariano e não fumava, bebia ocasionalmente uma cerveja e nunca teve relações extraconjugais.

Quem serão estas figuras… do passado? Que têm em comum?

Figura um – Winston Churchill, primeiro-ministro inglês duas vezes, orador, estadista, escritor, artista, oficial do exército e responsável pela recuperação da Inglaterra após a segunda guerra mundial.

Figura dois – Franklim Roosevelt, presidente dos EUA entre 1933 e 1945.

Figura três – Adolfo Hitler, chefe da Alemanha na segunda guerra mundial e responsável pela morte, em extermínio, de milhões de polacos, judeus, ciganos, deficientes… em campos de concentração nazis.

Agora que somos chamados a escolher que saibamos exercer a arte da democracia, praticando-a em pequenos gestos, que podem trazermos bons ou maus resultados a curto e a médio prazo. Temos de nos pronunciar, pois se o não fizermos poderão surgir pequenos ditadores… e amanhã já pode ser tarde. Porque ainda podemos escolher não deixemos a outros o que é da nossa total responsabilidade, agora!

 

António Sílvio Couto

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