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terça-feira, 18 de junho de 2013

Complexos e cumplicidades da democracia... à portuguesa


No contexto sócio-político que estamos a viver, há situações que precisam de ser denunciadas porque cheiram a abuso da paciência alheia e de serem feitas propostas para que certos defeitos da nossa democracia sejam corrigidos e alguns dos seus intérpretes colocados no seu devido lugar.

Nota-se, quase quarenta anos depois do 25A, que há ideologias que podem dizer tudo o que lhes apetece e os outros não têm o mesmo espaço de exposição. Há figuras a quem (quase) tudo é consentido e aos adversários não se lhes dá o mínimo lugar. Há forças sociais e económicas a quem não se pode tocar (nem com uma flor) e outras que estão (quase) sempre sob suspeita.. àquelas se confia os destinos do país, a outros têm se provar que estão de boa intenção.

Sem pretendermos fazer um diagnóstico sobre todos campos e espaços de actividade, mas há sectores onde a força da reivindicação ocupa mais tempo do que o compromisso na construção do destino comum.

- Há certas figuras que não se respeitam nem se fazem respeitar, pois continuam a viver num passado que nem foi glorioso, mas que agora querem dar lições, que já estão desadequadas no tempo. Vejamos os que viveram e fizeram viver a crise de 1983: lá deixaram o país na bancarrota, na austeridade, endividado, sem trabalho e com fome... agora querem propor idênticos paliativos anacrónicos. Será tão curta memória colectiva ou haverá mais interesse em esconder os culpados e os que hoje os aplaudem?

Nota-se, em certos momentos, que há pessoas que, a seus olhos, se consideram imprescindíveis, quando o que são é recicláveis. Até algumas ideologias – velhas ou recauchutadas -- totalitárias e/ou anarquistas, que se tentam apresentar como solução, quando, afinal, fazem é parte do problema... Porque não enxergam o ridículo? Até onde irá a presunção?
- Há temas e áreas de actividade que se tornaram tabu serem referidos senão se estiver na onda mais ou menos difundida – o que não quer dizer a mais aceite – no contexto público. Referimo-nos à família, à educação e mesmo à cultura... bem como outras vertentes que tenham a ver com a dimensão espiritual da pessoa humana.

* Da família o que vemos é a difusão de um conceito anti-família judeo-cristã, isto é, fundada numa união estável entre um homem e uma mulher. O que interessa expor é tudo o que possa estar contra esta vivência de salvaguarda da própria sociedade. Quem não for, mesmo que tacitamente, pelas uniões (ocasionais, de facto, por contrato) entre pessoas do mesmo género, logo é rotulado de conservador, retrógado, antiquado... e outros epítetos de ofensa à opinião alheia. As discussões – quando as há, como vimos em recentes votações no Parlamento – têm de ter o mesmo resultado: ser contra a família tradicional... porque tem raízes cristãs!

* Sobre a educação vemos agentes activos e participativos; muitos com desejo de servir as gerações mais novas, mas outros a defenderem os seus interesses; podemos encontrar pessoas com espírito de serviço aos outros, mas tantos sem qualidade humana mínima... e tudo inserido no sector mais estatizado da nossa vida colectiva, pois o Estado deixa pouco espaço para a iniciativa privada e, quando a permite, fá-lo de forma razoavelmente, condicionada aos seus intuitos e interesses. Certas reivindicações (greves e outros adereços) a quem servem: aos estudantes ou ao corpo docente?

* A área da cultura move-se por bastantes clichés de maior ou menor capacidade de protecção aos que são do sistema, excluindo quem dele destoar, mesmo que possa ter qualidade, se não têm quem os promova ficam nas prateleiras e nas estantes... sob pó e bolor. Os sub-sectores da escrita (literatura, jornalismo, opinion makers), da comunicação (televisão, rádio, internet), do espectáculo (teatro, cançonetismo, desporto)... têm de estar na corrente reinante, pois, se não estiver terá uma classificação pouco ou nada cultural. Até, mais recentemente, se tem vindo a impor uma nova cultura: a do clube (sobretudo de futebol), que faz ganhar protagonismo ou entrar no descrédito... para sempre!

Com uma democracia assim, quem poderá governar e/ou ser governado, em Portugal?



António Sílvio Couto

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