No
contexto sócio-político que estamos a viver, há situações que
precisam de ser denunciadas porque cheiram a abuso da paciência
alheia e de serem feitas propostas para que certos defeitos da nossa
democracia sejam corrigidos e alguns dos seus intérpretes colocados
no seu devido lugar.
Nota-se,
quase quarenta anos depois do 25A, que há ideologias que podem dizer
tudo o que lhes apetece e os outros não têm o mesmo espaço de
exposição. Há figuras a quem (quase) tudo é consentido e aos
adversários não se lhes dá o mínimo lugar. Há forças sociais e
económicas a quem não se pode tocar (nem com uma flor) e outras que
estão (quase) sempre sob suspeita.. àquelas se confia os destinos
do país, a outros têm se provar que estão de boa intenção.
Sem
pretendermos fazer um diagnóstico sobre todos campos e espaços de
actividade, mas há sectores onde a força da reivindicação ocupa
mais tempo do que o compromisso na construção do destino comum.
-
Há certas figuras que não se respeitam nem se fazem respeitar, pois
continuam a viver num passado que nem foi glorioso, mas que agora
querem dar lições, que já estão desadequadas no tempo. Vejamos os
que viveram e fizeram viver a crise de 1983: lá deixaram o país na
bancarrota, na austeridade, endividado, sem trabalho e com fome...
agora querem propor idênticos paliativos anacrónicos. Será tão
curta memória colectiva ou haverá mais interesse em esconder os
culpados e os que hoje os aplaudem?
Nota-se,
em certos momentos, que há pessoas que, a seus olhos, se consideram
imprescindíveis, quando o que são é recicláveis. Até algumas
ideologias – velhas ou recauchutadas -- totalitárias e/ou
anarquistas, que se tentam apresentar como solução, quando, afinal,
fazem é parte do problema... Porque não enxergam o ridículo? Até
onde irá a presunção?
- Há
temas e áreas de actividade que se tornaram tabu serem referidos
senão se estiver na onda mais ou menos difundida – o que não quer
dizer a mais aceite – no contexto público. Referimo-nos à
família, à educação e mesmo à cultura... bem como outras
vertentes que tenham a ver com a dimensão espiritual da pessoa
humana.
*
Da família
o que vemos é a difusão de um conceito anti-família judeo-cristã,
isto é, fundada numa união estável entre um homem e uma mulher. O
que interessa expor é tudo o que possa estar contra esta vivência
de salvaguarda da própria sociedade. Quem não for, mesmo que
tacitamente, pelas uniões (ocasionais, de facto, por contrato) entre
pessoas do mesmo género, logo é rotulado de conservador, retrógado,
antiquado... e outros epítetos de ofensa à opinião alheia. As
discussões – quando as há, como vimos em recentes votações no
Parlamento – têm de ter o mesmo resultado: ser contra a família
tradicional... porque tem raízes cristãs!
*
Sobre a educação
vemos agentes activos e participativos; muitos com desejo de servir
as gerações mais novas, mas outros a defenderem os seus interesses;
podemos encontrar pessoas com espírito de serviço aos outros, mas
tantos sem qualidade humana mínima... e tudo inserido no sector mais
estatizado da nossa vida colectiva, pois o Estado deixa pouco espaço
para a iniciativa privada e, quando a permite, fá-lo de forma
razoavelmente, condicionada aos seus intuitos e interesses. Certas
reivindicações (greves e outros adereços) a quem servem: aos
estudantes ou ao corpo docente?
*
A área da cultura
move-se por bastantes clichés de maior ou menor capacidade de
protecção aos que são do sistema, excluindo quem dele destoar,
mesmo que possa ter qualidade, se não têm quem os promova ficam nas
prateleiras e nas estantes... sob pó e bolor. Os sub-sectores da
escrita (literatura, jornalismo, opinion makers), da comunicação
(televisão, rádio, internet), do espectáculo (teatro,
cançonetismo, desporto)... têm de estar na corrente reinante, pois,
se não estiver terá uma classificação pouco ou nada cultural.
Até, mais recentemente, se tem vindo a impor uma nova cultura: a do
clube (sobretudo de futebol), que faz ganhar protagonismo ou entrar
no descrédito... para sempre!
Com
uma democracia assim, quem poderá governar e/ou ser governado, em
Portugal?
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário