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terça-feira, 11 de junho de 2013

Aprendendo a agradecer e a desculpar


A atitude de 'saber agradecer' é uma das vertentes com que revelamos quer a nossa educação quer a nossa capacidade de atenção aos outros. Quando dizemos 'obrigado' a alguém estamos a envolver e a deixar-nos envolver por este sinal de que a outra pessoa é para nós e a quem dizemos 'obrigado', sendo digna da nossa estima e da nossa correlação com ele. Aliás, o uso da palavra 'obrigado' é o resumo dessa frase mais longa: 'sinto-me muito obrigado a agradecer'. Deste modo, dizer 'obrigado' não é uma expressão de obrigação, mas manifesta a nossa dedicação a esse/a a quem dizemos simplesmente 'obrigado'.

Para ilustrar o clima social em que vivemos – normalmente fora da narrativa do saber agradecer – deixamos uma breve estória, que anda espalhada por várias publicações...

Uma criança já (minimamente) crescida fez uma lista das ‘contas’, que no seu conceito, a mãe lhe devia e que esta encontrou à cabeceira da cama, onde se lia: de cortar a relva do jardim – dois euros; por limpar o meu quarto durante a semana – dois euros; por cuidar do meu irmãozinho enquanto foi às compras – um euro; por limpar e varrer o quintal todos dias da semana – cinco euros. Total da dívida – dez euros!

Por seu turno, a mãe ao ver tal lista, enumerou as suas ‘despesas’, que atentamente anotou e deixou à cabeceira do filho tão ‘exigente’: por te levar nove meses em meu ventre e por te dar a vida – nada; por tantas noites sem dormir, por te trazer ao colo e por te dar de comer – nada; por te limpar, te vestir e te adormecer – nada; pela comida, as roupas e os brinquedos que te dei e arrumei – nada; por tudo o que fiz e terei de fazer para fazer de ti um homem – nada. Custo total e global: nada!

Ao acordar o filho ‘reivindicativo’ leu as contas da sua mãe e foi-lhe pedir desculpa...


De facto, hoje vivemos, infeliz e desgraçadamente, marcados pela ausência em dizer ‘obrigado’ e em ‘pedir desculpa’... uns aos outros. Parece que estes dois mínimos conceitos e actos de educação foram banidos do nosso trato social... Quem os exercita, a começar em sua casa, no trabalho e no convívio social? Quem os cultiva para com os outros? Haverá honrosas excepções!



1.Mesmo que de forma simples poderemos apresentar alguns aspectos para uma cultura do saber agradecer:

. Gratidão – ser grato é uma qualidade que exprime o reconhecimento daquilo que nos fazem, de forma directa ou indirecta, pois a ingratidão é, hoje, mais cultivada do que a gratidão pelos peqeunos ou pelos grandes gestos, feitos e factos.

. Simplicidade – para quem recebe gestos e sinais de carinho, desde os mais simples até aos mais complexos, agradecendo a Deus o que d’Ele vamos recebendo e da descoberta de como Ele nos ama... mesmo sem disso estarmos totalmente conscientes, quando Ele se esconde nos rostos de quem nos rodeia.

. Atenção aos outros – na medida em que pensamos mais neles do que em nós mesmos, atendendo mais às suas necessidades e qualidades do que, como acontece agora, nas nossas ‘virtudes’ e aos seus defeitos.

. Valorização mútua – quando agradecemos olhamos mais para aquilo que recebemos do que para aquilo que damos, e, na medida em que damos é para que o que recebemos seja para maior contentamento dos nossos interlocutores habituais, ocasionais ou de convívio mais difícil.

2. Ao agradecimento está conexa a atitude em pedir desculpa, valorizando a quem podemos ter desagradado ou mesmo ofendido. Também aqui há vertentes simples para que ‘pedir desculpa’ possa ser natural no nosso dia a dia:

- Humildade em reconhecer os seus erros, aceitando-os e querendo corrigi-los com a ajuda dos outros;

- Sinceridade no trato sem hipocrisias nem aproveitamento dos outros;

- Verdade sem nada esconder nem fazer-se vítima ou réu, sendo leal e vivendo de cabeça levantada por nada ter a esconder a não ser a boa harmonia para com todos... a começar pelos que nos estão mais próximos.

= Será que ainda vamos a tempo de reconstruir a sociedade, dizendo ‘obrigado’ e pedindo ‘desculpa’?


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

1 comentário:

  1. Mas que pena este ilustre e reverendo Dr. não ser exemplo a pedir desculpas...e bem têm sofrido os seus paroquianos(os da Moita com algumas visitas de Sesimbra...algumas bem "bizarras")

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