A
atitude de 'saber agradecer' é uma das vertentes com que revelamos
quer a nossa educação quer a nossa capacidade de atenção aos
outros. Quando dizemos 'obrigado' a alguém estamos a envolver e a
deixar-nos envolver por este sinal de que a outra pessoa é para nós
e a quem dizemos 'obrigado', sendo digna da nossa estima e da nossa
correlação com ele. Aliás, o uso da palavra 'obrigado' é o resumo
dessa frase mais longa: 'sinto-me muito obrigado a agradecer'. Deste
modo, dizer 'obrigado' não é uma expressão de obrigação, mas
manifesta a nossa dedicação a esse/a a quem dizemos simplesmente
'obrigado'.
Para
ilustrar o clima social em que vivemos – normalmente fora da
narrativa do saber agradecer – deixamos uma breve estória, que
anda espalhada por várias publicações...
Uma
criança já (minimamente) crescida fez uma lista das ‘contas’,
que no seu conceito, a mãe lhe devia e que esta encontrou à
cabeceira da cama, onde se lia: de cortar a relva do jardim – dois
euros; por limpar o meu quarto durante a semana – dois euros; por
cuidar do meu irmãozinho enquanto foi às compras – um euro; por
limpar e varrer o quintal todos dias da semana – cinco euros. Total
da dívida – dez euros!
Por seu
turno, a mãe ao ver tal lista, enumerou as suas ‘despesas’, que
atentamente anotou e deixou à cabeceira do filho tão ‘exigente’:
por te levar nove meses em meu ventre e por te dar a vida – nada;
por tantas noites sem dormir, por te trazer ao colo e por te dar de
comer – nada; por te limpar, te vestir e te adormecer – nada;
pela comida, as roupas e os brinquedos que te dei e arrumei – nada;
por tudo o que fiz e terei de fazer para fazer de ti um homem –
nada. Custo total e global: nada!
Ao
acordar o filho ‘reivindicativo’ leu as contas da sua mãe e
foi-lhe pedir desculpa...
De facto, hoje vivemos, infeliz e desgraçadamente, marcados pela ausência em dizer ‘obrigado’ e em ‘pedir desculpa’... uns aos outros. Parece que estes dois mínimos conceitos e actos de educação foram banidos do nosso trato social... Quem os exercita, a começar em sua casa, no trabalho e no convívio social? Quem os cultiva para com os outros? Haverá honrosas excepções!
1.Mesmo
que de forma simples poderemos apresentar alguns aspectos para uma
cultura do saber
agradecer:
.
Gratidão
– ser grato é uma qualidade que exprime o reconhecimento daquilo
que nos fazem, de forma directa ou indirecta, pois a ingratidão é,
hoje, mais cultivada do que a gratidão pelos peqeunos ou pelos
grandes gestos, feitos e factos.
.
Simplicidade
– para quem recebe gestos e sinais de carinho, desde os mais
simples até aos mais complexos, agradecendo a Deus o que d’Ele
vamos recebendo e da descoberta de como Ele nos ama... mesmo sem
disso estarmos totalmente conscientes, quando Ele se esconde nos
rostos de quem nos rodeia.
.
Atenção aos outros
– na medida em que pensamos mais neles do que em nós mesmos,
atendendo mais às suas necessidades e qualidades do que, como
acontece agora, nas nossas ‘virtudes’ e aos seus defeitos.
.
Valorização mútua
– quando agradecemos olhamos mais para aquilo que recebemos do que
para aquilo que damos, e, na medida em que damos é para que o que
recebemos seja para maior contentamento dos nossos interlocutores
habituais, ocasionais ou de convívio mais difícil.
2.
Ao agradecimento está conexa a atitude em pedir
desculpa,
valorizando a quem podemos ter desagradado ou mesmo ofendido. Também
aqui há vertentes simples para que ‘pedir desculpa’ possa ser
natural no nosso dia a dia:
-
Humildade em reconhecer os seus erros, aceitando-os e querendo
corrigi-los com a ajuda dos outros;
-
Sinceridade no trato sem hipocrisias nem aproveitamento dos outros;
-
Verdade sem nada esconder nem fazer-se vítima ou réu, sendo leal e
vivendo de cabeça levantada por nada ter a esconder a não ser a boa
harmonia para com todos... a começar pelos que nos estão mais
próximos.
= Será
que ainda vamos a tempo de reconstruir a sociedade, dizendo
‘obrigado’ e pedindo ‘desculpa’?
Mas que pena este ilustre e reverendo Dr. não ser exemplo a pedir desculpas...e bem têm sofrido os seus paroquianos(os da Moita com algumas visitas de Sesimbra...algumas bem "bizarras")
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