Se usarmos a linguagem teológica,
decorrente da mentalidade expressa, de sobremaneira, no Concílio Vaticano II,
saberemos que a conjugação das expressões ‘já’ e ‘ainda não’ se reportam à
condição de contingêngia da presença da Igreja no mundo, na medida em que já
vive a plenitude de Deus, mas ainda não a exprime de forma plena...
Concretamente na constituição dogmática, Lumen gentium, sobre a Igreja
(números 48 a 51) se fala na índole escatológica da Igreja peregrina e a sua
união com a Igreja celeste, bem como na constituição pastoral, Gaudium et
spes, sobre a Igreja no mundo actual (números 40 a 45) se refere a função
da Igreja no mundo... pela cidadania cristã onde cada qual vive e aponta para mais
Além...
1. Situação do ‘já’... presente e
escatológico
Sem pretendermos entrar em lições
de natureza teológica, poderemos interpretar o tempo em que vivemos –
concretamente o futuro do novo ano – como a oportunidade que nos é concedida
para percebermos o que ‘já’ aconteceu de real e vivenciado, tendo em conta a
força radical em Jesus, Verbo encarnado e redentor: n’Ele, por Ele e com Ele o
‘já’ da história tem novo significado e a nossa condição terrena e temporal de
crentes, sobretudo, em Cristo, ganha outra dimensão e actualização.
Num tempo bastante marcado pelo
relativismo imediatista, onde, por vezes, cada pessoa faz de si mesma uma
espécie de ‘absoluto’, que tenta aniquilar os outros relativos, como que se
torna urgente encontrar as marcas divinas em cada um dos nossos companheiros de
caminhada e/ou interlocutores: assinalados pela dimensão divina – onde pela
força do baptismo será ainda mais notável e indelével da graça de Deus em nós!
– somos chamados a viver no ‘já’ de relação com os outros, apresentando uma dignidade
divinizante e divinizadora.
2. Condição do ‘ainda não’... em
memória prospectiva
De facto, há vivências –
sobretudo para os cristãos – que têm no desígnio divino a marca do presente
escatológico em situação do ‘já’, embora em proposição do ‘ainda não’: estamos
salvos, mas em contingência de pecadores; estamos glorificados, mas em condição
de penitentes; estamos a viver o Reino de Deus, mas em condescendência de
sementes... para a eternidade.
Quantas vezes sentimos e vivemos
o ‘ainda não’ da vitória sobre a nossa condição pecadora. Quem não se
escandaliza com as faltas – leves, graves ou mortais – de tantos dos cristãos,
a começar pelos seus ministros! Quem não será susceptível à vaga de críticas aos
erros da Igreja – sobretudo na dimensão católica – particularmente por ocasião
das principais festas religiosas tradicionais, do Natal e da Páscoa! Com que
furor – nalguns casos a roçar a fúria! – são expostas algumas das mazelas
morais de membros do clero, desde que possam desviar a atenção de outros grupos
e influentes sectores mais ou menos conhecidos... no âmbito da política contra
a família, anti-vida e (até) no alcance da justiça... adiada!
3. Vivendo sob conjugação do
‘talvez’!
De verdade a ditadura do
relativismo em que nos movemos como que pode condicionar a atitude de vida de
muitos dos cristãos: vivemos numa certa era do descartável, onde pessoas e
coisas se tornaram aparentemente importantes se delas nos aproveitamos mais ou
menos com interesse... Depois duma moral rigorista – e quase estóica, senão no
pensamento pelo menos na práxis! – agora vivemos num quase epicurismo popular e
num hedonismo inteletual, procurando cada qual tirar proveito de si e dos
outros como se fôssemos meros objetos de consumo... a curto prazo.
Nesta etapa do ‘talvez’ torna-se
fundamental uma nova educação para os valores, tendo em conta os
transcendentais – uno, bem, belo e verdade – e a sua aplicação à cultura de
cada um. Com efeito, o ‘talvez’ poderá fazer a ponte entre o ‘já’ do ser e o
‘ainda não’ do existir, criando as condições mínimas e suficientes para que
possamos viver nesta condição terrena de designados por Deus para sermos, neste
mundo e neste tempo, os sinais divinos de Cristo e as centelhas do Espírito de
Deus em cada lugar...
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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