«A paz pressupõe um
humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo
enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os
outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por
isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e
éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjetivistas e
pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em
critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a
cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na
eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do
relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o
reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por
Deus na consciência de cada homem».
Na sua mensagem para
o 46.º dia mundial da paz (1 de janeiro), o Papa Bento XVI centra a sua atenção
na proclamação da bem-aventurança dos que fazem a paz.
Respigamos algumas
das ideias que o Papa nos deixa como pistas de reflexão de conduta de vida...
cristã neste tempo... colocando, por nossa parte, breves conclusões:
- Bem-aventurados os obreiros da paz – ‘as inúmeras obras de paz, de
que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada
pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo,
com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida’.
- A bem-aventurança evangélica – ‘Jesus
Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com
Deus’.
- A paz: dom de
Deus e obra do homem – ‘A paz envolve o ser humano na sua integridade (...)
A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus,
uma única família humana (...) A Igreja está convencida de que urge um novo
anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal fator do desenvolvimento integral
dos povos e também da paz’.
- Obreiros da paz são
aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade – ‘Caminho para a
consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida
humana, considerada na multiplicidade dos seus aspetos, a começar da conceção,
passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros
obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em
todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em
plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e
crimes contra a vida’.
- Construir o bem da
paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia – ‘Para sair da crise
financeira e económica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são
necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a
criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e
de um novo modelo económico’.
- Educação para uma
cultura da paz: o papel da família e das instituições – ‘Ninguém pode
ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade,
dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela
possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu
crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado
recíproco’.
- Uma pedagogia do
obreiro da paz – ‘Há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz.
Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes
e estilos de vida adequados (...). Pensamentos, palavras e gestos de paz criam
uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e
cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e
educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância
(...). Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. (...) A pedagogia da paz
implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança’.
= Perante estes
desafios de Bento XVI como que podemos e devemos perscrutar os desígnios de
Deus para nos comprometermos na construção da cultura da paz, pelo serviço à
vida, tendo a família como espaço pedagógico e cultural, anunciando, em Igreja
católica, de forma nova e ousada a Pessoa e a mensagem de Jesus, o Príncipe da
Paz, ontem como hoje e por toda a eternidade!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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