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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Para uma nova ética da paz


«A paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjetivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem».

Na sua mensagem para o 46.º dia mundial da paz (1 de janeiro), o Papa Bento XVI centra a sua atenção na proclamação da bem-aventurança dos que fazem a paz.

Respigamos algumas das ideias que o Papa nos deixa como pistas de reflexão de conduta de vida... cristã neste tempo... colocando, por nossa parte, breves conclusões:

- Bem-aventurados os obreiros da paz – ‘as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida’.

- A bem-aventurança evangélica – ‘Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus’.

- A paz: dom de Deus e obra do homem – ‘A paz envolve o ser humano na sua integridade (...) A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana (...) A Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal fator do desenvolvimento integral dos povos e também da paz’.

- Obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida na sua integridade – ‘Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspetos, a começar da conceção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida’.

- Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia – ‘Para sair da crise financeira e económica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico’.

- Educação para uma cultura da paz: o papel da família e das instituições – ‘Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco’.

- Uma pedagogia do obreiro da paz – ‘Há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados (...). Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância (...). Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. (...) A pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança’.

= Perante estes desafios de Bento XVI como que podemos e devemos perscrutar os desígnios de Deus para nos comprometermos na construção da cultura da paz, pelo serviço à vida, tendo a família como espaço pedagógico e cultural, anunciando, em Igreja católica, de forma nova e ousada a Pessoa e a mensagem de Jesus, o Príncipe da Paz, ontem como hoje e por toda a eternidade!

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

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