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terça-feira, 6 de março de 2012

Longevidade: condições e consequências

Iniciamos a escrever este texto no dia em que D. Eurico Nogueira – arcebispo emérito de Braga – completa oitenta e nove anos de vida. Nesta ocasião vem-nos à memória outras grandes figuras da (nossa) vida pública que também atingiram uma razoável longevidade...
Mesmo que de forma breve como que podemos interrogar-nos sobre o crescente melhoramento da qualidade de vida, sobretudo, se tivermos em conta os longos anos de existência... e a notória velhice – com equilíbrio mental e emocional, com alguma autonomia e sentido de gratidão – de muitos dos intervenientes.
Quais os fatores para a longevidade de alguns e a precoce partida de outros... mesmo da própria família? O que é que marca a diferença entre uns e outros, ontem como hoje? Haverá condições endógenas e exógenas para esta distinção? Como tratar condignamente quem viveu agruras na vida e vingou na idade? Como serão os filhos e netos de amanhã, quando agora veem os pais a abandonarem – física, psicológica e até espiritualmente – os seus progenitores? Poderemos esperar idêntica longevidade com tantas preocupações sobre o presente e, sobretudo, o futuro?
= Diagnóstico... angustiado
Esteve, recentemente, em Portugal, um professor catedrático inglês da área da saúde pública, que, dirigindo-se a profissionais da saúde, teceu algumas considerações sobre a diferença de longevidade entre certos países, dentro do próprio país e até na mesma cidade, apontando algumas das causas e perspetivando umas tantas razões. Citamos:
-  A esperança média de vida de uma mulher no Zimbabwe é de 42 anos e a de uma japonesa é de 80 anos, uma diferença de 42 anos;  um queniano morre em média aos 47 anos e um sueco pode chegar aos 82;
- Na cidade de Londres a diferença entre o mais rico e o mais pobre dos habitantes é de 17 anos;
- O aumento em 1% da taxa de desemprego faz subir em 0,8% a taxa de suicídios e 0,8% a de homicídios... 
- O desemprego leva ao suicídio e a matar outras pessoas;
- As mortes por acidentes de viação descem 1,4%, circula-se menos porque há menos dinheiro para a gasolina;
- As maiores taxas de fumadores encontram-se entre os mais pobres e esta é uma causa objectiva que está na origem de maior doença, o cancro do pulmão.
Este mesmo especialista sugere caminhos ou áreas principais que podem e devem ser objecto de acção política tendentes a esbater estas diferenças: o desenvolvimento infantil, a educação e formação ao longo da vida, as condições de emprego, o rendimento, a existência de locais saudáveis e sustentáveis na comunidade e o combate a factores como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade...

= Situação dos mais velhos... ao nível nacional
Entretanto, segundo dados da Guarda nacional republicana, há vinte e um mil velhos a viver sozinhos ou isolados, em Portugal. Estes dados foram recolhidos pela ‘operação censos senior’, que decorreu, no âmbito daquela guarda até final do mês de Fevereiro terminado.
Do ano passado para este ano aumentaram os casos de velhos isolados ou sozinhos em mais de sete mil situações. Os distritos onde se verificaram mais casos foram: Bragança (2.442), Santarém (2.131), Évora (2.037), Guarda (1.912), Castelo Branco (1.810) e Viseu (1.897)... portanto, localidades do interior e em acentuada desertificação humana.
Embora possamos estar diante de muitas pessoas com grande longevidade, vemo-las confrontadas com um razoável abandono familiar, social, político e (talvez) religioso. Cresce, deste modo, a necessidade em refletir sobre o futuro que estamos a dar aos nossos mais velhos... que amanhã seremos, razoavelmente, nós.

= Prognóstico... reservado
Se o diagnóstico era angustiado, o prognóstico é muito reservado da saúde psicológica deste país e, talvez seja sem nos darmos conta, apresenta-se com um futuro muito sombrio... na contagem dos dias que passam.
- Nem as tentativas de serem criadas condições para que os velhos vivam em lares – nalguns casos serão quase um eufemismo para o conceito dos asilos de outrora! – confortáveis e com as condições mínimas de sobrevivência... podem aligeirar as famílias a sua responsabilidade para com os seus ascendentes nem eximi-las das regras mais básicas da gratidão.
- Num tempo em que a longevidade – pelos mais elementares cuidados para com os ‘nossos’ velhos – vai ganhando foro de cidadania e por consequência de novas regras de vida, urge acompanhar esta nova etapa da evolução da sociedade com critérios onde a pessoa toda seja tida em conta e não só a dimensão físico-biológica, mas também as vertentes de índole psicológico, moral e espiritual.
- Torna-se fundamental dar aos mais velhos – pois também nós, se Deus quiser, para lá iremos – uma envolvência divina com gestos, palavras e sinais, que traduzam Deus presente, aconchegando-os e acolhendo-os não na mortalha fúnebre, mas na ternura do Pai por Jesus Jesus Cristo no Espírito Santo.    

António Sílvio Couto

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