Nas Tuas mãos, Senhor, coloco as minhas,
Junto de Ti repousa o meu ser.
À tua vida entrego a minha vida.
À tua vida entrego a minha vida.
À Tua vontade eu uno o meu querer...
Nas Tuas mãos, Jesus, coloco as minhas,
Nas Tuas mãos, Jesus, coloco as minhas,
Venho para Te contemplar
Preciso de Te conhecer, em silêncio, Te amar!
Preciso de Te conhecer, em silêncio, Te amar!
É ao ritmo deste cântico que iniciamos esta nossa partilha/reflexão em época de caminhada de Quaresma. Numa tentativa de interpretarmos a linguagem das mãos e o modo como ela se exprime, sobretudo, na paixão de Cristo pela via-sacra.
De fato, nós falamos com mãos e as mãos falam daquilo que nós somos, isto é, a nossa forma de expressão oral é complementada com a expressão gestual. Mesmo de forma sucinta vamos tentar resumir algumas das formas de linguagem gestual e a sua possível interpretação antropológico/teológica.
«A mão simboliza uma acção ou uma obra e encerra a magia do coração; por isso transmite os seus sentimentos. As mãos amam, falam (por gestos) e acariciam, tocam e deixam-se tocar; as mãos tranquilizam e agridem, desejam e repelem; comunicam amor e agressão, serviço e domínio sobre o outro. Por isso a nossa língua [o português] é rica em expressões acerca da mão.
No que se refere a Deus, a mão direita simboliza a protecção, o poder criador e providente, que liberta o seu povoe o acompanha pelo deserto, castigando os inimigos com a mão esquerda para o proteger. As mãos impostas sobre alguém transmitem poder ou o Espírito Santo. As mãos levantadas são símbolo de um coração suplicante que sobe até Deus. No mundo, Jesus tornou-se a mão de Deus Pai estendida a todos os pequeninos e pecadores. Com a sua mão Ele acaricia as crianças, consola os tristes, acolhe e cura os doentes, perdoa os pecadores… Apesar disso, as suas mãos foram violentamente pregadas numa cruz, como se fossem de um ladrão e assassino» (1).
É diante desta riqueza de linguagem das mãos, que nós nos queremos enfrentar, tentando caracterizar essa vivência, sobretudo, no contexto da Via-sacra... deste ano de 2012, intitulada: ‘Via sacra nas mãos de Deus pelas mãos dos homens’ e que foi publicada pela Paulinas Editora.
= Linguagem das mãos... em contexto bíblico
Eis uma breve tipificação da linguagem das mãos, partindo de expressões da Bíblia:
- Apertar a mão é fazer um acordo;
- Dar a mão à palmatória é reconhecer a culpa;
- De mão beijada significa receber de graça;
- Deitar a mão é apoderar-se;
- Estar em boas mãos significa estar na posse de pessoa capaz;
- Estender a mão é símbolo de ameaça;
- Levantar a mão (sobretudo a direita) significa jurar;
- Mãos abertas revelam generosidade;
- Mão forte manifesta assistência a alguém;
- Mão-de-obra significa trabalho;
- Mãos limpas manifesta ser honrado;
- Cair nas mãos de… é ficar em seu poder;
- Lavar as mãos diante de alguém é símbolo de inocência;
- Pela mão significa através ou por meio de alguém.
= Simbologia das mãos na Via-sacra
De entre os vários intervenientes na caminhada da Via-sacra – segundo a sugestão do Papa João Paulo II – deixamos um pequeno esboço da linguagem das mãos... numa tentativa, sempre necessária e útil, de actualização:
1. Jesus em agonia no Jardim das Oliveiras - uma mão aberta em súplica
2. Jesus, traído por Judas, é preso - mãos presas
3. Jesus é condenado pelo sinédrio - mãos caídas... em juízo
4. Jesus é renegado, três vezes, por Pedro - mãos (punhos) fechados
5. Jesus é julgado por Pilatos - dedo de uma mão... acusando
6. Jesus é flagelado e coroado de espinhos - duas mãos com coroa de espinhos
7. Jesus é carregado com a cruz - mãos em gestos agressivos
8. Jesus é ajudado pelo Cireneu a levar a cruz - mãos a levantar... alguém
9. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém - mãos estendidas... a ajudar
10. Jesus é crucificado - mãos abertas... em aceitação
11. Jesus promete o seu reino ao «ladrão arrependido» - mãos apontando a saída
12. Jesus na cruz: a mãe e o discípulo - mãos de duas pessoas... em ajuda
13. Jesus morre na cruz - mãos desfalecidas... em derrota
14. Jesus é colocado no sepulcro - mãos entrelaçadas... de medo e morte
Final – mãos levantadas... em louvor...rumo à Ressurreição!
Porque cada um de nós faz parte deste percurso de via-sacra, cremos que é preciso participar neste diálogo entre Jesus e cada um de nós e uns com os outros…
1. Cfr. Herculano Alves, Símbolos na Bíblia, Lisboa, Difusora Bíblica, 2001, p. 205.
António Sílvio Couto
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