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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Manifestações/greves não afundam o nosso futuro?

Foi nítido e objetivo, um espanhol a trabalhar em Portugal, participante nas manifestações dos ‘indignados’, denunciou a manipulação dos protestos mais recentes contra as medidas do governo: há muitos membros das esquerdas – conceito anacrónico em era de globalização, tendo em conta a história após 1989! – infiltrados nas pretensas ‘populares’ concentrações...  Seja qual for o número apresentado – há muitas pernas e poucas cabeças ou muitos braços levantados e poucos com desejo de trabalhar – nota-se um razoável aproveitamento do ‘estar contra...’, pois, ao menos, parece haver, momentaneamente, ocupação para desempregados e sindicalistas, para arregimentados e militantes, para oportunistas e outros/as ‘istas’ do faz-de-conta... com cobertura noticiosa e (aparentemente) informativa... do ‘quanto pior, melhor’.

= Medidas duras: necessárias, urgentes ou irremediáveis?
Depois de termos, sobretudo nos últimos dez anos, vivido – mesmo sob a batuta de governos de cores diferentes – numa espécie de mentalidade de gastanço, endividamento, consumismo sem olhar a meios nem às consequências a curto prazo, descobrimos, de repente, que estamos na falência e sem meios de continuarmos a viver nessa falsidade de vida e dum certo forrobodó... pessoal, familiar, social e coletivo.
Foi preciso que viessem do estrangeiro – a dita troika: FMI, BCE e UE – traçarem-nos um plano de austeridade, que tem tanto de simples, quanto de amesquinhador da nossa inteligência: somos incapazes de nos sabermos governar e de nos governarmos corretamente.
Àqueles que nos colocaram nesta situação de insustentabilidade, urge levá-los a tribunal para pagarem pelos erros e más opções. As eleições, de fato, foram juízos de avaliação, mas não serviram para momentos de criminalização. Não basta sacudir o capote, deixando a outros a responsabilidade das consequências das más opções e de funestas decisões... políticas e partidárias.
Até os que foram acicatando a vontade de consumo – o povo deixa-se manipular por habilidosos e bem-falantes! – devem ser culpabilizados, pois tanto é ladrão quem rouba como quem instrui para a usurpação da fraude mesmo que capciosa, subtil e encoberta.
Infelizmente, se não forem tomadas medidas de contenção, de correção dos erros e de moderação nos gastos, muito em breve, seremos um país sem credibilidade... mesmo para nos darem ajuda e dinheiro a crédito.
Desgraçadamente, em certas posições alguns sindicalistas, parece que estão desfasados da vida real, pois talvez nem conheçam os preços das coisas nos mercados e até continuem a viver na jaula dourada das suas regalias, fomentando azedume em vez de concórdia, reivindicação em vez de diálogo e preguiça em vez de trabalho... honesto, participativo e comprometido.

= Justiça e boa fé: condições ou exigências?
Neste momento conturbado da nossa identidade coletiva parece ter chegado a hora de unirmos esforços de todos e para tudo quanto nos possa recriar com identidade nacional. Falar de nacionalismo não pode continuar a ser uma espécie de heresia e muito menos num rótulo ideológico: em tempos era (quase) prerrogativa dos setores conotados com a direita, agora são outros (ditos) de esquerda que se tentam apropiar de tudo quanto possa acirrar os ânimos mais derrotados.
Certas manifestações e greves deixam-nos um tanto confusos sobre qual deve ser a leitura de tais ‘direitos’, pois estes podem colidir com os mais elementares deveres de boa fé na defesa dos fragilizados da nossa sociedade. Na medida em que formos inteligentes de forma suficiente saberemos quem nos fala verdade ou quem nos tenta usar em ordem a conseguirem os seus objetivos, andando na crista da onda em vez de navegarem com rumo e enfrentando as marés mais adversas.
Por vezes certo barulho tenta confundir os incautos e serve para disfarçar as mais tenebrosas intenções. É de justiça que nos esforcemos por contribuir para a boa harmonia entre todos, dando cada um de nós o nosso contributo mais sincero e audaz... começando pelo seu círculo de convivência e de trabalho.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

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