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quinta-feira, 4 de julho de 2024

Efeito manada

 

Numa definição descritiva esta expressão ‘efeito manada’ pode significar a “tendência de indivíduos seguirem a opinião ou ação de um grupo irracionalmente e sem analisar os fatos ou fundamentos. Isso acontece devido à influência da opinião de grupos na tomada de decisão individual, o que pode resultar em comportamentos impulsivos”.

Atendendo a esta vivência algo complexa senão mesmo de duvidosa capacidade de sermos e de estarmos neste mundo e nesta época, talvez seja útil refletir sobre esta peça essencial da nossa mentalidade – no significado de ‘eidade’ (ser) da mente – hodierna.


1. Não será que, hoje vivemos mais sob influência – psicológica, social, cultural, económica – desta conduta em manada? Muito daquilo que nos querem impingir não fará de cada um de nós e de todos uma espécie de manada quase-irracional? Não haverá por aí mais sinais de comportamento em manada do que julgamos? O que nos fará refugiar-nos no anónimo dos outros, obnubilando a minha tomada de posição, comodismo, ignorância ou falta de sentido crítico e esclarecido?

2. Certas palavras e expressões denotam, mais do seria desejável, um efeito manada naquilo que somos, fazemos e/ou vivemos. Embora seja aplicado este termo ‘manada’ ao mundo animal (com os seus sinónimos) – vara, rebanho e outros – ele pode ter uma evolução cultural para caraterizar comportamentos e atitudes de humanos, como: opinião pública, redes sociais, multidão, opinião internacional, sondagens e estudos de opinião, inquéritos, clubes, partidos, bolha, mercado (cambial e especulativo), religião, cristandade, moralidade... e mais recentemente sem aferição totalmente consciente: ideologia de género, defesa das minorias, wokismo... Numa palavra: onde todos fazem, muitas vezes por imitação, mas poucos sabem porque, onde o anónimo se sobrepõe ao pessoal e – quantas vezes – a manipulação serve os interesses de uma tal maioria sem rosto nem identificação.

3. Atendendo a que vivemos em sociedade e que muito do nosso comportamento se faz em razão do relacionamento com os outros, corremos forte risco de incluirmos na nossa conduta alguns tiques do efeito manada. Com efeito, quase sem nos darmos conta vamos na onda de não questionarmos o porquê das coisas, a razão de ser desta forma e não de outra, o resvalar de pensarmos como os outros todos, sem disso nos apercebermos de que quase somos manipulados e levados a ir na onda como os demais, fazendo cada um de nós de um de menos...
Não serão certas modas – de vestir, de falar, de comunicarmos ou de não destoarmos do resto – resultado do efeito manada? Que diríamos de nós mesmos se nos víssemos a trajar de calças rotas – dizem que são mais caras do que as normais – só para estarmos na onda da moda? Como não estar na onda de um certo telemóvel (ou dito relógio de pulso) mais em uso, isso não pareceria uma espécie de ficarmos fora dos tempos? O designado pronto-a-vestir levou à falência os alfaiates e as costureiras e modistas para nos fazer cair na onda do todos iguais, mesmo na patetice mais barata! Este efeito manada fez de todos nós uma espécie de tropa incógnita e sem valores, ao serviço dos interesses malévolos de uns tantos que enriquecem à custa dos papalvos de serviço.

4. Na sua linguagem mais simples e popular, dizia-se: ‘Maria vai com as outras’, isto é, sem sentido crítico nem capacidade de assumir a diferença. Até quando seremos conduzidos por mãos invisíveis que fazem de cada um de nós uma mera marioneta dos seus interesses, mesmo os mais sórdidos e mesquinhos? Chegou a hora de acordar do sono com que nos têm embalado e conduzido...



António Sílvio Couto

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