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quarta-feira, 24 de julho de 2024

À procura do tempo certo

 

«Há um tempo certo para cada coisa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo para nascer e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para colher; tempo para matar e tempo para curar; tempo para destruir e tempo para construir de novo; tempo para chorar e tempo para rir; tempo para ficar triste e tempo para dançar de alegria; tempo para espalhar pedras e tempo para ajuntar pedras; tempo para abraçar e tempo para deixar de abraçar; tempo para procurar e tempo para perder; tempo para guardar e tempo para jogar fora; tempo para rasgar e tempo para costurar; tempo para calar e tempo para falar;tempo para amar e tempo para odiar; tempo para lutar e tempo para viver em paz» (Ecl 3,1-8).

1. Diante deste texto das Sagradas Escrituras posso e devo rever-me muitas e inúmeras vezes. Mais forte me deu a necessidade ao ler uma frase do Padre Raniero Cantalamessa – que fez noventa anos de vida por estes dias, ele que é pregador da casa pontifícia quase há vinte e cinco anos e nos pontificados dos três últimos papas – com quem tenho aprendido muito em ensinamentos ao vivo, em várias oportunidades e lugares e pelos seus escritos abundantes e significativos. Dizia Frei Cantalamessa, reportando-se a Santo Agostinho – seu inspirador teológico – que, para se colocar “nos passos de Deus”, para se tornar consciente d’Ele, é preciso entrar no próprio coração. “Como Agostinho nos diz, se não voltarmos para dentro de nós mesmos, se não nos retirarmos um pouco da exterioridade, do barulho, não poderemos encontrar o Deus vivo”.

2. Num tempo ávido de sensações exteriores, ultra-sensoriais ou mesmo excessivamente hedonistas, torna-se essencial acolher as linhas-forças do texto do livro do Eclesiastes, numa tradução simples da força da Palavra de Deus em nós e no nosso interior mais profundo. Os paradoxos - contrastes e provocações - do autor sagrado: nascer-morrer; plantar-colher; matar-curar; destruir-construir; chorar-rir; triste-alegre; espalhar-ajuntar; abraçar-não abraçar; procurar-perder; guardar-lançar fora; rasgar-costurar; calar-falar; amar-odiar; lutar-viver em paz. São catorze antíteses com forte expressão da sensibilidade humana, mais do inteletual ou racional. Aqui podemos encontrar a força da emotividade e de tudo nos faz ser para além da vertente dita da inteligência.

3. Precisamos de considerar a nossa – pessoal ou comunitária – conduta muito para além daquilo que se pode percionar ou mesmo quantificar. A dimensão QE – coeficiente de emotividade – torna-se cada vez mais essencial para nos conhecermos e nos darmos a conhecer no relacionamento com os outros. Não será por aqui que se pode medir a maturidade das pessoas? Não será, neste contexto, que todos temos algo a receber e um pouco a ‘ensinar’? Por vezes o silêncio é a melhor escola!

4. Retomando chavões que nos podem servir da ‘exame de consciência’ talvez possamos aqui incluir essa análise das etapas de vida da pessoa: até aos vinte anos posso tudo (a força física); dos vinte aos trinta - sei tudo (o conhecimento sabichão); dos trinta aos quarenta - tenho algo a aprender (vamos reconhecendo que o saber é de vida e não o da instrução); depois dos cinquenta - não sei nada (a abertura à sabedoria)...

5. Queira Deus que sempre cresçamos na humildade pela verdade!



António Sílvio Couto

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