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sábado, 14 de outubro de 2023

Recordando as JMJ – ‘Não tenhais medo’... ‘Todos, todos, todos’

 


Decorridos mais de dois meses sobre as JMJ e a avaliar pela quase ausência de nos reportarmos aos textos do Papa, temo que algo não tenha passado de efervescência do passado...não muito longínquo.

Das várias intervenções papais à data de 2 a 6 de agosto ficou-me inistências em dois aspetos: ‘não tenhais medo’ ou repetida sonoridade do ‘Todos, todos, todos’.
A primeira frase aparece-nos 18 vezes, enquanto a redundância plural de ‘todos, todos, todos’ encontrámo-la 21 vezes.
Vejamos em síntese as diversas vezes em que ‘não tenhais medo’ ou ‘não temais’ lemos nos seguintes momentos de comunicação do Papa:
- aos bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados/as, seminaristas e agentes pastorais (mosteiro dos Jerónimos, 2 de agosto): cinco vezes;
- cerimónia de acolhimento (parque Eduardo VII, 3 de agosto): uma vez;
- Via-sacra com os jovens (parque Eduardo VII, 4 de agosto): uma vez;
- vigília com os jovens (parque Tejo, 5 de agosto): uma vez;
- Missa final (parque Tejo): 9 vezes;
- encontro com os voluntários (passeio marítimo de Algés, 6 de agosto): uma vez.
Por seu turno, a pleonástica expressão - ‘todos, todos, todos’ podemos meditá-la nos seguintes momentos de encontro e de comunicação do Papa Francisco:
- aos bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados/as, seminaristas e agentes pastorais (mosteiro dos Jerónimos, 2 de agosto): sete vezes;
- cerimónia de acolhimento (parque Eduardo VII, 3 de agosto): 13 vezes;
- na recitação do terço com jovens doentes (capela das Aparições, Fátima, 5 de agosto): uma vez.

* Interpelação do ‘não tenhais medo’
«A vós, jovens, que sois o presente e o futuro… Sim, precisamente a vós, jovens, é que Jesus diz hoje: «Não tenhais medo», «não tenhais medo»! Num breve momento de silêncio, cada um repita para si mesmo, no próprio coração, estas palavras: «Não tenhais medo».
Queridos jovens, gostaria de poder fixar cada um de vós nos olhos e dizer: Não temas, não tenhas medo! Mais, tenho uma coisa belíssima para vos dizer: já não sou eu, mas é o próprio Jesus que vos fixa agora. Ele que vos conhece, conhece o coração de cada um de vós, conhece a vida de cada um de vós, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. E hoje aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude, Ele diz-vos: «Não temais, não temais! Coragem, não tenhais medo!» (Homilia na missa final)
Foram as últimas palavras de Francisco a todos os jovens - presentes ou a escutá-lo pela comunicação social - ‘coragem, não tenhais medo’. Efetivamente, num mundo governado pelo medo - nas suas diversas formas e manifestações - urge deixar-se libertar do medo desde dentro de nós mesmos para que exorcizados possamos ser livres e libertados de todo o medo. Isso só Jeus, pelo seu Espírito, o faz plenamente.

* Desafio à envolvência de ‘todos, todos, todos’
«Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós» (Nas palavras de acolhimento à multidão de jovens, no parque da graça).
Este excerto como que resume as várias incidências de abertura a todos na Igreja. Precisamos de entender, verdadeiramente, quem são estes ‘todos’, sem subterfúgios nem apropriações indevidas. Será que esses ‘todos’ querem aceitar o ‘tudo’ que é Jesus? Ou será que só querem aceitar o que lhes convém ou satisfaz?

O Papa Francisco falou: escutemo-lo como voz de Deus, hoje.

António Sílvio Couto

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