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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Igreja sinodalmente missionária

 

Na linguagem eclesial o mês de outubro é considerado o ‘mês missionário’, celebrando-se, normalmente, no penúltimo domingo o ‘dia mundial das missões’, este ano no dia 22. Por estes dias tem estado a decorrer, em Roma, mais uma sessão do Sínodo dos Bispos, numa procura de refontalização e de dinâmica (atual e futura) para a Igreja católica. Entretanto, ainda neste mês – no último domingo – a diocese de Setúbal recebe o seu quarto bispo residencial. Olhemos para cada uma das facetas deste sumário...

1. Para o Dia mundial das missões, o Papa Francisco escreveu, como de costume, uma mensagem, de onde respigamos as seguintes palavras: «este ano escolhi um tema que se inspira na história dos discípulos de Emaús, narrada por Lucas no seu Evangelho (cf. 24, 13-35): «Corações ardentes, pés ao caminho». Aqueles dois discípulos estavam confusos e desiludidos, mas o encontro com Cristo na Palavra e no Pão partido acendeu neles o entusiasmo para pôr os pés ao caminho rumo a Jerusalém e anunciar que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado. Na narração evangélica, apreendemos a transformação dos discípulos a partir de algumas imagens sugestivas: corações ardentes pelas Escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho. Meditando sobre estes três aspetos, que traçam o itinerário dos discípulos missionários, podemos renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje».

O Papa apresenta a mensagem em três pontos:
- Corações ardentes, «quando nos explicava as Escrituras». A Palavra de Deus ilumina e transforma o coração na missão.
- Olhos que «se abriram e O reconheceram» ao partir o pão. Jesus na Eucaristia é ápice e fonte da missão.
- Pés ao caminho, com a alegria de proclamar Cristo Ressuscitado. A eterna juventude duma Igreja sempre em saída.
A terminar Francisco exorta-nos: «Assim como aqueles dois discípulos narraram aos outros o que lhes tinha acontecido pelo caminho (cf. Lc 24, 35), assim também o nosso anúncio há de ser uma jubilosa narração de Cristo Senhor, da sua vida, da sua paixão, morte e ressurreição, das maravilhas que o seu amor realizou na nossa vida. Saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade».

2. De 4 a 29 de outubro tem estado a decorrer o Síndo dos Bispos, no Vaticano, sob o tema da sinodalidade. Programado para funciona em cinco módulos principais está subdividido em trinta e cinco grupos segundo cinco línguas, entre as quais o português. Atendendo à complexidade do tema o Papa decidiu desdobrar a assembleia sinodal, depois do que aconteceu em 2022, em mais dois anos: em 2023 e prolongar a reflexão para 2024. A título de exemplo sobre a reflexão necessária quanto à sinodalidade bastará referir que no Catecismo da Igreja Católica, publicado ao tempo do pontificado do Papa João Paulo II, a apalvra ‘síndo’ aparece duas vezes (n.º 887 e 911) e no ‘Diretório para a catequese’, de 2020, sob o pontificado do Papa Francisco, surge também duas vezes: n.º 289 e 321. Quantas vezes se tem falado deste assunto nestes anos mais recentes, no entanto, ainda estamos muito longe do espírito de caminharmos juntos, todos como fiéis. Qual o segredo de tanta resistência, senão mesmo desistência? E os mais contra serão os mais velhos ou os mais novos?

3. Depois de um longo tempo de sé vacante - janeiro de 2022 a setembro de 2023: tempo de provação e de resiliência - eis que chega o quarto bispo para Setúbal. D. Manuel Martins chegou a Setúbal com quarenta e oito anos... sendo aqui bispo durante vinte e três anos. D. Gilberto Canavarro dos Reis tinha cinquenta e oito anos quando chegou a Setúbal e foi prelado sadino durante dezassete anos. D. José Ornelas Carvalho chegou com sessenta e um anos de idade e exerceu o ministério episcopal em Setúbal durante menos de sete anos. D. Américo Aguiar tem quarenta e nove anos e toma posse na data efeméride da ordenação do primeiro Bispo. Estive sob a condução dos três anteriores. Estou há trinta e seis anos na diocese de Setúbal e já vi muitos aspetos semelhantes nos finais e nos começos dos pontificados dos bispos anteriores. Acima de tudo é a Igreja que está em causa, sendo cada prelado somente um instrumento temporal da visibilidade desta Igreja particular. Queira Deus consolidar esta diocese, que, dentro de um ano e pouco, celebrará meio século de configuração autónoma...



António Sílvio Couto

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