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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Celebrar o ‘25 de novembro’, sempre

 

«Aproveito para anunciar que para além da data histórica do 25 de Abril festejaremos também com uma grande iniciativa o 25 de Novembro. Porque todas as datas contam».

Foi desta forma simples e quase provocante que o presidente Câmara Municipal de Lisbo falou por ocasião do 113.º aniversário da implantação da república em Portugal.
Deste modo se ficou, desde já a saber, pelo edil lisboeta, que o cinquentenário do ‘25 de abril’, em 2024, terá uma subsequente celebração do ‘25 de novembro’ de 1975, no ano seguinte.

1. Só quem não viveu essa data trágica e convulsa – eu tinha dezasseis anos e morava a quilómetros do olho do furacão – não sentirá que o ‘25 de novembro’ veio repor na verdade o país que tinha andado à deriva no ‘verão quente de 75’. Por muito que custe – ou isso pese, minimamente, na consciência – a certos setores marxistas-leninistas-trotskistas a data de ‘25 de novembro’ evitou um banho de sangue e um descalabro para que o país não se tornasse uma ‘cuba’ na Europa ou que tenhamos sido esmagados por forças revolucionárias mais ou menos ao serviço dos poderes soviéticos e afins. Evitar, hoje, a referência a essa data é ofender quem sofreu na pele nos constrangimentos de não fazer parte de uma caterva de vendidos às forças estrangeiras, como muitos dos altos dirigentes socialistas da época (Mário Soares e não só) e outros amordaçados durante anos a fio...

2. Por que há medo de dizer a verdade sobre esse tempo? A quem interessa encobrir as malfeitorias de ‘heróis’ dessa época? Não será que alguns dirigentes de certos partidos de hoje temem que se descubram que são filhos e filhas dos bandidos – fazedores de atentados e de mortes sangrentas – desse tempo revolucionário? Se os democratas convertidos não temem associarem-se aos sinais de festa do ‘25 de abril’ por que há tanto pejo de quem foi perdoado das suas tropelias, por ocasião do ‘25 de novembro’? Os pesos de tolerância estarão viciados pela miopia ideológica de ontem como na atualidade? Mesmo que de forma abusiva não será de saber que ninguém é dono da verdade, quase meio século decorrido?

3. O panorama político do nosso país contínua enfermo de ideias e falacioso no comportamento. Muitos daqueles que são os atores de hoje não conseguiram ainda fazer um simples ‘reset’ do passado: desgraçadamente continuam a viver em bolhas virtuais, onde só entendem os seus e são incapazes de se colocar no lugar do outro, que não seja da sua cor ideológica.

4. A ver pela reação – ou será manipulação? – sobre episódios atuais, como a contestação à falta de habitação e não só, ainda há quem se arroje possuidor de todos os direitos que não sejam os seus pretensamente usurpados. Cheira a novo obscurantismo do ‘prec’ que só quem seja de certos partidos pode ser visto e manifestar-se em público… tudo o resto – e são milhões de outros cidadãos – encolhem-se com medo e com receio de serem maltratados até fisicamente.

5. Seja qual for o intento desta proposta do presidente da CML estou totalmente de acordo com a sugestão e questiono, democraticamente, os detratores para que sejam bem mais capazes de serem aquilo que dizem que são. Mais, se ao ’25 de abril’ quiseram associar um flor, o cravo vermelho, porque não tentar que o ’25 de novembro’ tenha por símbolo um ramo de oliveira, enquanto sinal da paz, isso que pretendeu fomentar na reconfiguração revolucionária um ano e meio depois?

Os heróis do ’25 de novembro’ continuam à espera do reconhecimento da democracia ou esta não passará de uma conveniência quando interessa e, sobretudo, por quem a tenta impingir.

6. Pelo ’25 de novembro’ sempre e mais!



António Sílvio Couto

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