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quinta-feira, 1 de junho de 2023

O Tejo nas JMJ 2023

 

Há cerca de um ano e meio, em conversa informal, surgiu uma ideia: e se, por ocasião, das Jornadas Mundiais da Juventude, houvesse a presença de barcos típicos da região ribeirinha do Tejo… seria uma forma de visualizar algo caraterístico da região em volta do Tejo, dando colorido e significado ao evento…sem esquecer, antes pelo contrário de lembrar, a dimensão marítima do nosso país. Teria sentido esquecer o Tejo num acontecimento que o tinha por cenário?

1. Primeiramente o assunto foi tratado no âmbito do ‘apostolado do mar’, sob a tutela do bispo D. Daniel Batalha (entretanto falecido), foi sendo trabalhado pelo grupo ‘Stella maris’ (Moita), com relações a associações marítimas de Lisboa e a temática foi ganhando corpo e sentido. Fugindo um pouco dos padrões do dito ‘apostolado do mar’ nacional, o desejo de concretizar aquela sugestão passou a ser feito pela Marinha do Tejo e a ‘Stella maris’ moitense. Têm sido meses de avanços-e-recuos, tateando a melhor solução.

2. Entretanto foram sendo conquistadas para a iniciativa as autarquias ribeirinhas, primeiro da margem sul e depois do lado norte, dando o seu contributo com os barcos típicos, podendo tornar-se aquela iniciativa uma oportunidade de mostrar o que se faz na arte decorativa e de recuperação dessas embarcações… no conjunto serão uma dezena a que se têm associado outras formas de navegação no rio.

3. Tarefa algo delicada foi a de fazer chegar às cúpulas da organização das JMJ o projeto delineado pela ‘Stella maris’ e a Marinha do Tejo. Por ocasião da Páscoa houve a primeira apresentação aos responsáveis: a iniciativa estaria enquadrada nos acontecimentos culturais – cerca de duzentos dos mais variados países – que se realizarão de 1 a 6 de agosto, na cidade de Lisboa. Numa incipiente abordagem a iniciativa poderia designar-se ‘festival marítimo’, ficaria localizado na Doca da Marinha e envolveria a presença e difusão da arte de construção naval, com artesãos ao vivo, bem como mostra de grupos etnográficos, podendo nos dias das jornadas haver passeios de peregrinos nos barcos atracados…

4. Perante a ousadia, chegou a hora de ser proposto aos promotores da iniciativa, por parte da secção artística das JMJ, a participação dos barcos naquilo que designaram de ‘procissão marítima’, que consiste em introduzir pelo rio no espaço físico das jornadas, na zona do rio Trancão, a imagem peregrina (n.º 1) de Nossa Senhora de Fátima, na tarde do sábado, dia 5 de agosto, tendo em conta que o Papa estará todo esse dia em Fátima. Os responsáveis da segurança delinearam as condições de ‘safety and security’, por forma a que a maioria dos barcos – típicos ou de trabalho – possam aceder com condições de segurança a esse momento que será certamente de grande beleza e significado…

5. Feito o percurso para chegarmos a perceber a presença de barcos típicos e outros no Tejo, por ocasião das JMJ 2023, será útil refletir sobre a necessidade de que este evento tivesse a presença dos sinais da nossa identidade nacional. Seria quase vergonhoso que estivesse ausente esta referência ao diálogo com a água, seja do mar ou dos rios. Com efeito, mais do que colocar as JMJ no Tejo, será essencial inserir o rio Tejo nas JMJ, pois, para além de ser algo natural, será uma forma de fazer presente o elemento ‘água’ na cultura, na reflexão e na vivência da ecologia integral, de que tanto reclama o Papa Francisco nos seus documentos. Por isso, é de somenos importância introduzir a imagem de Nossa Senhora no recinto das JMJ, é mais importante que isso seja feito por via marítima, pois fazer as jornadas em Lisboa é diferente de que acontecessem noutra qualquer paragem.

6. À semelhança de outras reflexões torna-se fulcral para que haja uma pastoral bem conseguida que se atenda ao espaço que em tudo acontece: comunicar na serra é diferente de fazê-lo à beira-mar… até Jesus o sabia fazer com mestria e bom proveito dos seus ouvintes, nas parábolas que nos deixou. Ainda se foi a tempo na organização das JMJ – Lisboa 2023…



António Sílvio Couto

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