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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Merchandising JMJ sem alusão a Cristo?

 
Na longa lista de produtos de merchandising (duzentos mil, dizem certas fontes) encontramos: peças de vestuário (com tamanhos vários, cores diversas, feitios e formatos), chapéus e bonés; material escolar e de escritório, artigos religiosos (tradicionais ou mais atualizados); marroquinaria diversificada (braceletes, sacos, pins), livros e desdobráveis, blocos de notas e agendas...com motivos gerais e do Papa, mas não via nenhuma referência à Pessoa de Cristo nem à sua mensagem evangélica, com frases e citações bíblicas.

1. Não haverá, em todo este material disponível algo de anódino e sem clareza de programação? Não andaremos a convocar pessoas sem ser nítida a intenção do convénio? Esta falha – digo eu – não se situa na linha de ausência de catequeses preparatórias do evento? Apesar de tudo não parece demasiado horizontal muito daquilo que temos visto e ouvido? Foram propostas catequeses, cerca de duas dezenas e meia para os mais novos, mas às quais – tanto quanto parece – não tem sido dado o devido destaque e vivência... Nos dias das jornadas está previsto um designado ‘campo da graça’ (parque Tejo) e ‘colina do encontro’ (parque Eduardo VII), onde serão ministradas catequeses...

2. Neste contexto como em tantos outros ressoa em mim a frase: não interessa porque vem, importa é como vão! Seja qual for o número dos participantes – havia expetativas de um milhão, mas dizem que estão inscritos seiscentos mil – algo move esses jovens a virem a Lisboa. Isso não pode ser defraudado nem negligenciado, pois muitos continuam a acreditar na força da mensagem que a Igreja católica tem por missão proclamar. As jornadas mundiais da juventude – criadas por João Paulo II, em 1985 – trouxeram uma nova visão de Igreja para milhões de jovens e muitos destes questionaram a sua vida, dando origem a imensas vocações sacerdotais e religiosas, naquilo que alguns designam por ‘geração JPII’, geração João Paulo II.

3. O impacto das jornadas no fnal do milénio anterior e já neste fizeram com que os lugares onde se realizaram marcassem a história de cada país e de muitos dos participantes.

Eis uma resenha dos locais, com a indicação do respetivo Papa:

- João Paulo II – Roma 1986, Buenos Aires 1987, Santiago de Compostela 1989, Czestochowa 1991, Denver 1993, Manila 1995, Paris 1997, Roma 2000, Toronto 2002;

- Bento XVI – Colónia 2005, Sydney 2008, Madrid 2011;

- Francisco – Rio de Janeiro 2013, Cracóvia 2016, Panamá 2019, Lisboa 2023.

4. Os símbolos das jornadas – a Cruz, desde 1984, e o ícone de Nossa Senhora ‘Salus Populi Romani’, desde 2003 – foram, no nosso país os sinais mais visíveis de convocação para as JMJ 2023, pois percorreram, em jeito de peregrinação, todas as dioceses e foram enchameando muitos daqueles que hão de participar na semana anterior nas dioceses, as pré-jornadas, e no tempo de reunião, de 1 a 6 de agosto. Por vezes, pareceu mais exterior do que interior o entusiasmo revelado, mas acredito, que as manifestações de fé perturbaram alguns dos mais céticos (mesmo na Igreja) para com as JMJ.

5. Tendo por tema uma frase alusiva à visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel – ‘ Maria levantou-se e partiu apressadamente’ (Lc 1,39) – podemos respigar, na oração oficial, algumas pistas daquilo que deveriam ser as lições destas jornadas, em Lisboa: ocasião de testemunho e partilha, convivência e ação de graças, procurando cada um o outro que sempre espera... para que o nosso mundo se reencontre também na fraternidade, na justiça e na paz.

6. Queira Deus que saibamos aproveitar esta oportunidade de deixarmos entrar – como dizia João XXIII, ao convocar o Concílio Vaticano, em 1959 – o vento do Espírito no mofo das nossas acomodações...



António Sílvio Couto

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