Desde
logo será útil explicar os termos usados, na medida em que cada uma das
palavras contém significado conotativo. Assim: ‘chuçar’ significa o uso do
chuço, isto é, um pau de ponta aguda em ferro; ‘vespeiro’ é um ninho de vespas,
que são uns insetos idênticos às abelhas, mas que não produzem (quanto é
percetível) nada de benéfico, antes prejudicam várias vertentes ligadas à
apicultura.
A
articulação entre ‘chuçar o vespeiro’ quer envolver a ação (consciente ou não)
de mexer em algo – social, política ou religiosamente – que vai infetar e/ou
afetar as relações que antes eram (ou pareciam) serenas, hamoniosas e concordes
para se tornarem agressivas, multi-perigosas e potencialmente destabilizadoras...
Numa
palavra: ‘chuçar no vespeiro’ é algo de que não sabemos as consequências, mesmo
que pensássemos que conhecíamos as causas.
1. Nos
tempos mais recentes temos assistidos a múltiplos momentos em que mexeram com o
vespeiro e as vespas sairam desalvoradas, atacando tudo e todos, pois foram
atingidas na sua rotina e, sobretudo, incomodadas no seu casulo de refúgio.
Aquilo que parecia contido num veneno de arrolhamento, agora foi solto e fará
estragos imprevisíveis. Com efeito, certas questões ocultadas ou esquecidas nos
idos da memória sairam da sombra e os estragos – sociais, pessoais ou
institucionais – serão de longa duração. Se bem que haja confusão de
protagonismos, as vespas sairam para aferrolhar os incautos ou mesmo castigar
os prevaricadores. Por enquanto as vespas ainda não assentaram, mas quando o fizerem
torturarão quem as incomodou, de forma propositada ou por mera inépcia em
conter os estragos mais imediatos.
2. Noutras
culturas e com diferentes mentalidades dir-se-á que foi aberta a ‘caixa de pandora’.
Explicando o mito. Pandora foi a primeira mulher criada por Hefesto e Atena com
o auxílio de todos os outros deuses, por ordem de Zeus. Cada um deles
atribuiu-lhe um dom, recebendo a beleza, a graça, a destreza manual, a
capacidade de persuadir e outras qualidades. Mas Hermes colocou no seu coração
a mentira e a astúcia. Hefesto fê-la à imagem das deusas imortais, e Zeus
destinou-a à punição da raça humana, à qual Prometeu tinha acabado de dar o
fogo divino. Enviada à terra para se casar com Epimeteu, irmão de Prometeu,
levava consigo uma caixa com a recomendação de que jamais fosse aberta.Ora ela,
sem conter a curiosidade, abre-a e com isso libertou de seu interior todos os
males até então desconhecidos pelos homens (doenças, guerra, mentira, ódio,
etc.). Pandora tenta fechar a caixa, mantendo no seu interior apenas a
esperança...mas não conseguiu mais!
3. Perante
estes dois quadros de leitura da nossa realidade social, humana e cultural
estamos colocados entre o vespeiro e a caixa de Pandora. Qual dos dois tipifica
melhor o nosso enquadramento? Se a caixa dos males os fez espalhar pela face da
Terra, as dispersadas do vespeiro atacam de forma incisiva e acutilante,
sobretudo os que lhes estão mais próximos. Sobre os males desencadeados da
‘caixa de pandora’ fomos aprendendo a domesticá-los de uma forma mais ou menos
civilizada, mas quanto aos efeitos de terem chuçado no vespeiro ainda não
aprendemos corretamente a lidar com os casos – e são tantos – mais ou menos
populares e veiculados pela comunicação social... ao serviço de intentos nem
sempre claros nem explicitados.
4.
Costuma-se diz: a curiosidade matou o gato. Dá a impressão que o deslumbramento
de certas figuras perante determinados casos de maior envolvência mediática –
diga-se pelas piores razões – não fez bem a algumas pessoas, pois, em vez de
serem recatadas no tratamento dos assuntos fazem deles tempos de antena que
seriam bem escusados, se houvessse tento e discernimento. Já basta o mal feito,
quanto mais termos de aturar a toda a hora e momento sempre as mesmas coisas,
com os mesmos protagonistas e pelas mais nefastas razões. É tempo de deixar
curar as feridas e não de estarmos sempre a escarafunchar nas mazelas....
António Silvio
Couto
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