Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 22 de outubro de 2019

Qual o significado de um governo tão extenso?


Dezanove ministros e cinquenta secretários de estado, fazem do XXII governo constitucional o mais extenso de todos na era (dita) democrática.
Várias pessoas já se interrogam sobre esta inflação de gente levada para o governo, cerca de sete dezenas. Será isto forma de dar emprego a certos boys e a umas tantas girls do partido, conjugando distritais, concelhias e locais? Não se estará a esbanjar tão rapidamente o que foi amealhado com esforço e sacrifício? Dizem uns tantos mais exagerados, que se dividiu em excesso e que se virá a decidir no mínimo…tais serão as sobreposições de tarefas e até de competências.
Tal como se pode constatar o governo português é, na UE, dos que mais elementos coloca na área da governação, talvez fazendo jus a essa tendência quasi-terceiro-mundista de querermos aparecer alguns (bastantes, diversos e aos molhos) para pensarem que somos muitos…e talvez bons! De facto, a eficiência não se mede pela quantidade, mas, de verdade, pela qualidade. Ora, esta não parece abundar no elenco do vigésimo segundo governo. Com efeito, nota-se a repetência, que não rima como eficiência, provinda do elenco anterior, de 14 ministros e de 23 secretários de estado, trocados, mesmo assim alguns, de pastas…num total global de 19 ministros (11 homens e oito mulheres) e de 50 secretários de estado (33 homens e 18 mulheres), em percentagem global de 37,1% de mulheres e de 62,9% de homens.
A fazer fé – coisa que não se percebe na panóplia dos intervenientes – nas boas intenções do ‘chefe’, este elenco governativo pretende combater a desertificação do interior, tentar maior descentralização e a gestão dos recursos humanos do aparelho de estado… Todos começam assim, mas bem depressa caem nas tentações do ‘terreiro do paço’ e comportam-se como anjos caídos à semelhança do morgado de Fafe em Lisboa e tantos outros bem-intencionados… Leiam-se textos da literatura do final do século XIX e veremos os mesmos erros, tiques e promessas…Hoje como ontem! 
= Há dias recebi um email, com indicação de ‘formação para…’, mas não vinha nada nos anexos, ao que respondi, em jeito de sarcasmo: página em branco – sinal ou profecia?
Mutatis mutandis, direi com tanta gente num só governo, vai funcionar ou vão-se atrapalhar? Darão conta do recado ou esbanjarão sem nexo? Teremos um tempo de governo ou de governança?
Uma nota algo preocupante em vários setores da nossa vida pública é vermos que a incompetência compensa e quem antes fez mal pode chegar a lugares de topo e/ou de governo. Esta sensação perpassa muitos dos campos da intervenção na nossa sociedade e este elenco governativo não está isento desta pecha. Quando foi preciso reduzir a pó os estabelecimentos de ensino não-estatal, lá esteve alguém que agora vai assumir a tarefa da modernização e de administração pública… talvez reduzindo a iniciativa privada a um montão de escombros para reciclar… Por entre tanta incompetência em gerir os fogos mortais dos anos recentes, vemos que o posto de comando foi colocado na mesma mão… Observadas divergências para com a televisão estatal, vemos tutelar quem antes se incompatibilizou, sabe-se lá se de forma real ou fictícia… 
= Por entre o nevoeiro do futuro não se vislumbram mais do que sombras nem sempre de bom agoiro, pois a tendência de boa economia e que gerou ‘contas certas’ talvez não se possa prolongar por muito mais tempo. A versão favorável vinda do exterior não parece querer dar continuidade a quem vai geri-la…até porque caiu uns pontos na hierarquia do comando…político. Será isto prenúncio de menos boa prestação ou poderá servir de desculpa, quando se verificarem as primeiras infiltrações?
Setores tão importantes como a saúde, a educação, a segurança (social e pública) continuam com os mesmos titulares, não havendo adiamento para decidir o que urge e não continuar a desgovernar o que resta. Setores primários como a agricultura e os recursos marinhos estão na cauda do elenco, dando como que a entender que nos bastará receber o que venha de fora, pois produzir não compensa… Isso de dar boa impressão de que se vai atender ao interior desertificado e sem meios de sobrevivência bem depressa se tornará uma fraude intelectual e moral… Não basta trocar de boys ou de girls, se o pensamento está inquinado, mesmo na vertente do ambiente. Parece uma coisa grande, mas veremos se será (e fará) uma grande coisa!   

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário