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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Heróis…não-vencedores


Braima Dabó, da Guiné-Bissau, ajudou um atleta de Aruba (Jonathan Busby), a terminar a prova de cinco mil metros, nos recentes campeonatos mundiais de atletismo, que decorreram no Qatar. Isto aconteceu no dia 27 de setembro. A cerca de duzentos e cinquenta metros da meta o atleta das caraíbas entrou em colapso e o guineense amparou-o até à chegada, esquecendo a sua prova, mas não o deixando nem cair e tão pouco não ter conseguido terminar.
Um falava só inglês e o outro só português, mas entenderam-se na linguagem da solidariedade mais simples e básica. A chegada à meta, quase cinco minutos depois de terminar a prova o vencedor, foi aplaudida por todo o estádio e correu mundo como um forte sinal mais do que de desportivismo, de humanismo e de solidariedade entre pessoas e povos.
Efetivamente o desporto pode e deve ser ponte no relacionamento entre povos e nações, entre culturas e expressões religiosas. Esse âmago central do desporto manifestou-se quando estes dois atletas cruzaram a meta e caíram os mitos da vitória, onde dos derrotados não se fala normalmente. Pelo contrário, aqui foram os últimos que brilharam perante o estádio em aplauso e nas televisões por todo o mundo.
= Quem é, então, Braima Dabó?
Respigamos dos jornais do dia seguinte ao acontecimento esta singular descrição:
Braima Dabó, de 26 anos, vive em Portugal desde 2011, ao abrigo de um projecto criado pela organização não-governamental ‘Na Rota dos Povos’, que apoia o desenvolvimento dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) fora dos grandes centros populacionais, em zonas carenciadas ao nível da educação e formação cultural. “Agora vou voltar a Portugal para terminar a minha licenciatura em Gestão no Instituto Politécnico de Bragança e depois quero regressar ao meu país, que não visito há oito anos. Estou cá sem os meus familiares, mas as pessoas que me rodeiam dão carinho e conforto para poder sentir-me em casa”, referiu o atleta...
Eis como um jovem quase ignorado dos holofotes da comunicação, mas esforçado e com valores sublimes de humanidade, foi exaltado e na sua proeza se regozijam os seus amigos, patrocinadores humanos e de coração.
É verdade que pode haver por aí muitos ‘braimas’ que precisam de ser apoiados, não só pelas forças que exploram as pessoas, mas por quem tenta impulsionar valores nem sempre dignificados, quando precisam desse empurrão mais necessário e sensível.
Perante certos ‘jovens’ que desaproveitam as oportunidades que lhes são facultadas, teremos de questionar se não andaremos a ‘dar pérolas a porcos’ – segundo a expressão bíblica, dura e contundente – podendo estes voltarem-se contra quem os ajuda. Quantos como que vegetam nas sarjetas da vida, desperdiçando tantos dos apoios, ajudas e propostas. Muitos dos que vivem no ‘nem-nem’ (nem estudam nem trabalham) precisam de ser educados para a responsabilidade e a valorização de alguns dos benefícios que não merecem nem cuidam em retribuir a quem os ajuda e protege.
Diante do exemplo de Braima Dabó como é vergonhoso ver tantos jovens sem coluna, no rastejar do dia-a-dia e gastando o seu tempo com inutilidades amorais. Queira Deus que o testemunho deste jovem atleta inquiete tantos que pouco mais sabem da vida do que satisfazerem os seus caprichos e parasitando à custa dos pais e mesmo do Estado.
Se houvesse um Braima Dabó em cada localidade portuguesa, seríamos mais sérios e comprometidos uns para com os outros…Assim o saibamos imitar, humilde, verdadeira e sinceramente!
Obrigado Braima Dabó pelo testemunho de vida que nos deixaste em Doha e para o resto do mundo!      

António Sílvio Couto

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