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segunda-feira, 16 de abril de 2018

Santidade q. b. descomplicada


Com data de 19 de março, mas publicada a 9 de abril passado, o Papa Francisco presenteou-nos com uma nova exortação apostólica – ‘Gaudete et exsultate’ (alegrai-vos e exultai) – sobre o chamamento à santidade no mundo atual.

Em cento e setenta e sete números, distribuídos em cinco pequenos capítulos, o Papa traça as linhas gerais – simples e diretas, breves e incisivas, exequíveis e audazes – para que os fiéis católicos possam, de verdade, querer ser santos neste tempo e de jeito muito concretizável…De referir ainda uma longa lista de citações (em notas de rodapé e no texto) das mais diversas influências de santidade com que a Igreja católica vê ornada a sua história de heróis e santos ao longo dos séculos.

Eis os títulos dos cinco capítulos ou etapas da reflexão/partilha do Papa Francisco: o chamamento à santidade, dos inimigos subtis da santidade (neognosticismo e neopelagianismo), à luz do mestre (as bem-aventuranças), algumas caraterísticas da santidade no mundo atual, luta, vigilância e discernimento.

Sem correr o risco de esgotar o assunto – ele é mais do que substancial para ser adjetivado ou reduzido as pequenas frases de conveniência – vamos respigar alguns excertos, embora possamos voltar a esta matéria noutras ocasiões e circunstâncias.

* «Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais» (n.º 14).

* «Precisamos dum espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Desta forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação» (n.º 31).

* «O gnosticismo supõe ‘uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos’» (n.º 36).

* «Quando alguém tem resposta para todas as perguntas, demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais» (n.º 41).

* «O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança». (n.º 112).

* «A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai» (n.º 145).

* «Como é possível saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do mundo e do espírito maligno? A única forma é o discernimento. Este não requer apenas uma boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é também um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual» (n.º 166).

* «Condição essencial para avançar no discernimento é educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos, que nunca são os nossos» (n.º 174). 

= Estes respigos podem cativar-nos para a leitura – fácil, amena e interpelativa – de mais este documento papal. Com efeito, nesta exortação apostólica vemos uma espécie de testamento do Papa Francisco, que nos tem deixado vários documentos, sobretudo na área das ‘exortações’, onde acentua a tónica da alegria – veja-se o título, em português, desses textos: a alegria do evangelho, a alegria do amor, alegrai-vos e exultai – numa espécie de configuração do seu pontificado e como testemunho de vida dos cristãos no mundo…

 

António Sílvio Couto  


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