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sábado, 7 de abril de 2018

Pagamento estatal das ‘artes’


Eis que, de repente, aquilo que era designado de ‘cultura’ foi revertido em ‘artes’, tornando-se a discussão em volta do modo como o Estado/governo deve pagar a uns tantos/as ‘artistas’ com dinheiros públicos…à luz, sabe-se lá, se do mérito, se do compadrio ou se sob a influência duma certa ideologia que se acha no direito de viver dependurada nos serviços estatais… 

= Uma nota ‘artística’ explicativa.

Somos um país relativamente pequeno, mas cujos termos não têm a mesma significação se usados a norte, se na capital e arredores.

Assim um trabalhador das obras da construção civil, na sua categoria com estatuto, é chamado de ‘pedreiro’, na zona de Lisboa e de ‘trolha’, na região norte. Com efeito, pedreiro nesta zona do país é quem trabalha a pedra, normalmente cortando-a da pedreira e até assentando-a no terreno. Por seu turno, chamar de ‘pintor’ no norte corresponde ao estucador da região lisboeta, que pode englobar várias etapas e categorias… E, se for de grande especialidade toma a designação de artista, na região norte, denotando que não é um pintor qualquer, antes se distingue pelas obras já realizadas…em paredes, casas e tetos, com a subtileza de artista. Ora, na capital e arredores, ‘artista’ lida com outras matérias e faz da sua ‘arte’ um desempenho bem mais subtil e ‘cultural’…

A riqueza conotativa da nossa língua coloca-nos perante a necessidade de sabermos onde nos encontramos ao falar e a quem nos dirigimos como recetores da nossa comunicação…

Assim, ‘artista’ tem tantos significados e poderá acontecer que os sinónimos não nos interessem todos! 

= A mudança – agora é mais comum dizer ‘reversão’ – da aplicação de ‘artes’ em vez de ‘cultura’ é, certamente, mais do que uma subtileza de linguagem. Talvez, assim, sejam incluídas companhias e estruturas teatrais, figuras e atores, áreas e vetores duma sociedade que precisa de se alimentada com os dinheiros do Estado/governo, seja qual for a sua qualidade de intervenção cultural.

Não há dúvida de que temos pessoas que se prepararam para atuar em palco, só que este nem sempre está disponível para tantos/as artistas. A lista de artistas é longa e prolixa, mas nem todos/as têm a mesma qualidade, antes se vão desenrolando muitos outros aspetos de sucesso, por vezes, ancorado no espaço televisivo e como que vivendo em circuito fechado outras reivindicações artísticas em maré de crise…

A mais grave emergência dos protestos e com os artistas protestantes organizados, foi a consonância partidária/ideológica de formas marxistas, trotskistas e idealistas sociais… Quatro décadas depois da revolução de abril ainda se nota um proeminente complexo de esquerda que tenta promover os seus e os faz ganhar visibilidade, pela simples razão que querem mais dinheiro, embora sem olhar a meios, criando à sua volta um ambiente de artistas que se fazem ouvir e exigem mais umas centenas/milhares de euros despejados sobre quem os queria poupar antes, mas agora faz o discurso reivindicativo e quer colher boa fatia do bolo dos dinheiros públicos…  

= Cultura ou artistas, qual dos vetores é mais importante? Ao nível estatal vai-se tentando ludibriar os mais desatentos, pois com tanto sucesso de execução orçamental que são uns míseros vinte e cinco milhões de euros para pacificar as hostes? Mais uma vez o aforismo latino – ‘pão e jogos’ – tem lugar na vida e no trato com as questões essenciais da vida. Porque haveríamos de não satisfazer quem deseja mais dinheiro? Porque teríamos de fazer contas de mercearia, se as tabelas de excel fazem a distribuição das pretensões mais ou menos bem-sucedidas nas contas agora e por mais quatro anos?

Enquanto os artistas e os fazedores de cultura continuarem a ser a voz do dono e, sobretudo, do patrocinador, quem duvidará que outros setores vão sair à rua para reclamar os seus intentos. Assim o país voltará a afundar-se…não é preciso ser adivinho, bastará não querer enganar-se nem voltar a ser enganado…   

 

António Sílvio Couto



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