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quinta-feira, 12 de abril de 2018

‘Burnout’: explicação ou desculpa?


Por estes dias temos sido constantemente intoxicados com notícias duma agremiação desportiva de grande alcance nacional. Muito para além da parafernália de questões visíveis e subjacentes, colocam-se imensas perguntas sobre as causas, muitas outras se põem sobre as consequências, mas as mais sérias e exigentes referem-se às explicações sobre o assunto.

Surgiu, no entanto, um termo que pode resumir aquilo que temos estado a assistir: chama-se ‘síndrome de Burnout’. O que é? Como se pode entender? Que repercussões parece deixar?

Consultando a internet encontramos que a ‘síndrome de Burnout’, também chamada de síndrome do esgotamento profissional, foi assim denominada por um psicanalista novaiorquino no início dos anos 70 do século passado.

Seria tal ‘doença’ o desejo de ser o melhor e sempre demonstrar alto grau de desempenho. Noutra fase importante da syndrome, o portador de Burnout mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso. O que tem início com satisfação e prazer termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, a necessidade de se afirmar e o desejo de realização se transformam em obstinação e compulsão; o paciente nesta busca sofre, além de problemas de ordem psicológica, forte desgaste físico, gerando fadiga e exaustão. É uma patologia que atinge pessoas da área da saúde, da segurança pública, no setor bancário, na educação, na tecnologia da informação, em gerentes de projetos, profissionais da saúde em geral, jornalistas, advogados, pilotos, professores e até mesmo voluntários… 

= Atendendo à complexidade desta ‘doença’ não queremos colá-la a ninguém, mas antes será saudável, que saibamos discernir nos outros, indícios que nem sempre – clara, distinta e humildemente – aceitámos em nós mesmos.

Atendendo à contingência da nossa condição etária, podemos e devemos ir aprendendo, com o passar dos anos, a conhecer-nos, não só naquilo em que somos capazes de desenvolver as qualidades e dons da vida, mas também nos defeitos, erros e mesmo más opções em tantas das circunstâncias. Talvez se possa chamar a isto: maturidade, essa vivência que os anos concedem, mas cuja aprendizagem nas escolas/universidades só na da vida…Mesmo assim há coisas e situações em que a sabedoria da vida nos faz aprender com avanços-e-recuos, umas vezes entendendo com facilidade e, tantas outras, só passado algum tempo e depois duma razoável reflexão. 

= À luz da síndrome supra citado – de Burnout – poderemos desenvolver alguns aspetos sobre a ‘teoria da imagem’ – a que eu tenho de mim mesmo, a que os outros têm de mim, a que pretendo que os outros tenham de mim, a que dou de mim mesmo e os outros veem ou conhecem… Vejamos, então, as diversas vertentes:

* Que imagem tenho de mim mesmo? Pode verdadeira ou empolada, convexa ou côncava, exaltada ou humilhada, positiva ou negativizada, aberta ou em fechamento…tudo dependendo do lugar onde eu próprio me coloco…

* A imagem que os outros têm de mim? Pode ser favorável ou depreciada, correta ou abusiva, pelos defeitos ou pelas qualidades, com verdade ou manipulada…sabe-se lá com que exigências e sob que condições…

* Qual a imagem que pretendo que os outros tenham de mim? Aqui nem sempre o desejo se coadunará com a sua concretização, pois poderemos querer dar aos outros uma imagem que está (ou pode estar) desfasada daquilo que eles veem, entendem ou apreciam. Nalguns casos sob a imagem duma qualidade se poderá esconder algum defeito veem mais visível aos outros do que a mim mesmo. ‘Quando for elevado, sabereis quem eu sou’ – disse Jesus no evangelho. Como isso é verdade, quando uma pessoa tem um lugar de destaque: parece que se veem melhor os defeitos e como que se obnubilam as qualidades! 

= Tendo em conta a ‘síndrome de Burnout’ e a figura que fez desencadear esta pequena reflexão como que poderemos criar um salutar hábito de fazermos o nosso exame de consciência diário, por forma a irmos aprendendo a nossa autoavaliação e como cuidarmos das infiltrações egoístas com que vimos no dia-a-dia.

 

António Sílvio Couto

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