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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Quando a chuva não vem…


79% do território de Portugal continental estava, em final do mês de julho, em seca severa e extrema, segundo dados do instituto português do mar e da atmosfera. Explicitando: àquela data, 69,6% encontrava-se em seca severa e 9,2% em seca extrema… Relativamente a dados de junho passado notava-se um desagravamento na região interior norte e um agravamento no interior do alentejo.

Atendendo a estes dados, o governo decidiu acionar um plano de prevenção, de monotorização e de acompanhamento dos efeitos da seca. Pelas informações obtidas 16 das 60 albufeiras do continente estão com a sua capacidade a menos de 40%. De entre as medidas a implementar situa-se a hierarquização do uso da água: para consumo humano, para dar de beber aos animais, seguindo-se as regas agrícolas, as lavagens urbanas, fontenários e viaturas… De salientar ainda a contensão no uso da água nalguns concelhos do alentejo e da beira interior com o recurso às restrições ou à distribuição da água através de autotanques…

O inverno foi de pouca chuva e a primavera foi muito quente e com pouca chuva, tendo atingido dois terços do valor médio para esses meses do ano… Desde 1931 que não tínhamos uma primavera tão quente, sobretudo nas regiões norte e centro do continente. 

= Diante destes dados há questões que têm de ser colocadas, mesmo segundo a nossa capacidade cívica e o sentido do bem comum.

* Desde logo é do mais elementar sentido dos outros considerar que ter sol para ir para a praia é considerado ‘bom tempo’, como se a água que há de atenuar a sede seja um recurso inesgotável e se possa negligenciar o seu uso racional e atendendo a todos e não só aos interesses individuais…

* Corremos o perigoso risco de olhar para a tragédia dos fogos (florestais ou outros) como se fossem coisa que atinge os rurais e outros que não têm a sorte de irem de férias… Isso será lá longe e que não me fazem considerar que todos haveremos de sofrer com tais anomalias.

* Que me importa afligir-me com os problemas dos outros, se eu for gozando a minha vidinha, à margem daquilo que me não interessa… Também isto continua a revelar o grau de egoísmo com que nos vamos entretendo. Com efeito, as sirenes dos bombeiros já não nos fazem distrair da consulta, pelos meios de informações digitais, ao longe dos acontecimentos gerais, mas que me passam desapercebidos à minha porta ou até dentro da minha casa…  

= A água sempre foi um fator de desavenças. Vejam-se as guerras pela conquista de espaços onde havia água. Reparemos nos conflitos de vizinhos pela posse de água para o cultivo dos campos. Quantas vezes as civilizações vingaram em espaços com água, normalmente junto de rios ou à beira-mar.

Se há cem anos nos dissessem que a água corria risco de ser doseada ou mesmo de não ser inesgotável, consideraríamos que estavam a tentar enganar-nos, senão mesmo a tentar manipular-nos com dados não-corretos. Mas hoje sabemos e concordamos que a água é um bem precioso e que exige um bom uso e correto aproveitamento, tanto ao nível público (social) como privado (doméstico).  

= Talvez alguém possa considerar o aspeto que vamos referir de seguida como um tanto desprezível, anacrónico ou até demasiado fideísta para ser tido em conta… neste tempo em que achamos que somos uma tal sociedade racional/racionalista. Falamos das súplicas pela chuva, que, em tempos não muito distantes, eram usadas por ocasião dum prolongado tempo de seca.

O missal romano tem uma proposta de missa para ‘pedir a chuva’, inserida na seção ‘diversas circunstâncias da vida social’… Ora, quando tantos se acham capazes de se apropriarem das forças da natureza, o crente católico coloca-se na humildade em reconhecer que até a chuva – dom de bênção divina – está ao serviço dos humanos como algo benéfico concedido por Deus na sua magnanimidade para com todos, incluindo a natureza. Talvez valha a pena recordar o episódio de ter sido lançada a proposta de oração para pedir a chuva. Ao que, quem dirigia a oração, ripostou: vem pedir chuva a Deus e não trazem guarda-chuva… Assim saibamos ser humildes e sinceros!      

 

António Sílvio Couto


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