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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Campeonato ‘play station’…à portuguesa?


A ver pelos primeiros jogos – incidências, reações, efeitos e projeções – a introdução do dito vídeo-árbitro no campeonato principal de futebol, em Portugal, poderá ser uma espécie de versão de play station com jogos a sério, com resultados a gosto e até com defensores e detratores com razões de queixa sem grande dificuldade.

Se atendermos, desde logo, a quem faz a transmissão televisiva – nem sempre é o mesmo operador – difundida, poderemos colocar o tal juízo dos que controlam diante do écran sob suspeita ou mesmo sujeita a erro…desde que possa prejudicar com quem não simpatizo e talvez beneficiar quem move a minha paixão clubística… 

= Esta vaga dum tal ‘cientismo’, que deseja não errar, poderá tornar-se um obstáculo a que se continue a laborar na certeza das decisões. Mas se são humanos os que ajuízam a partir do que veem na transmissão televisiva, o tal erro de arbitragem está sempre subjacente… mesmo que possa ser atenuado/corrigido segundos depois.

Será ainda de nunca esquecer que os jogadores são pessoas e não bonecos numa figuração articulada com os desejos dos mentores das vitórias tenham o custo que possam apresentar. Como humanos os jogadores não podem se colocados como autómatos duma play station feita em série e a contento dos fabricantes/donos… 

= Uns tantos reclamam a ‘verdade desportiva’ e querem-na como fator de atuação a régua e esquadro feita nos estúdio sem a envolvência do barulho do estádio – trocar estúdio por estádio tornaria o jogo mais certinho, mas sem o rigor da intervenção dos jogadores e até dos cheiros próprios de quem não teme sujar-se em vez do fato de comentador irrepreensível, mas inócuo, incolor e indolor… isso não seria futebol!

Quem assiste ao ‘jogo-falado’ de certos comentadores, que se pronunciam após o resultado já feito, torna muito daquilo que se diz quase vergonhoso senão mesmo imoral… Vimos isso por parte dum desses comentadores, que na hora do jogo estava na conversa à mesa com adeptos seus, mas quem o ouviu – no dia seguinte – a pronunciar-se sobre a tática, as jogadas e mesmo o resultado, dava lições de bom futebolês… dentro do seu assumido clubismo!  

= Para além do fervor/paixão com que tantos adeptos vivem o futebol, há uma grande indústria em volta deste (dito) desporto-rei – porque muito popular, bastante praticado e mesmo discutido – no nosso país. Sem nos darmos na devida conta quem ocupa o poder serve-se do futebol para entreter – há quem diga: manipular – o povo, que, assim distraído vai tolerando que se faça pelo futebol mais do que lhe é acometido. Quantos autarcas se revem do futebol para ganhar votos. Quantos industriais se fazem passar por beneméritos pelo dinheiro que dão ao futebol. Quantas tropelias se inventam para colocar o futebol como bode expiatório social.

Para certas pessoas – tanto homens como mulheres, mais novos e mais velhos, sem classes sociais nem níveis de instrução – o futebol tornou-se uma espécie de religião, desde os princípios até ao comportamento, passando pelos rituais e indumentárias… num colorido vistoso e, nalguns casos, a roçar o bizarro. 

= É digno de estudo o imenso tempo e espaço que o futebol – o resto dos outros desportos são quase mera nota de rodapé – na comunicação social, tanto escrita, como falada, televisionada ou radiofónica e mais recentemente nos espaços cibernéticos… Os lugares de discussão têm horas e locais, intervenientes e assistentes, num grande investimento económico e publicitário que gera, movimenta e catalisa milhões de euros diariamente. Por isso, introduzir com o vídeo-árbitro mais um ingrediente neste circo de feras – muito mais perigosas do que as que foram excluídas da exibição circense – é como que um tema que fará correr rios de tinta, gastar horas de emissão e gerar discussões e dissensões… quase até à exaustão.

Bem razão tinham os responsáveis romanos: demos ao povo e jogos e poderemos governar à vontade. Ontem como hoje pouco mudou, a não ser alguns figurantes!     

 

António Sílvio Couto



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