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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Num certo terrorismo à la carte!


Por estes dias – digamos nas duas últimas semanas – vivemos uma espécie de terrorismo à la carte, isto é, conforme cada um quer e deseja, prevê ou interpreta, vê e consente…

O facto mais revelador desta intentona terrorista foi servido na noite da passada sexta-feira, dia 22 de julho, com as arrojadas leituras sobre um tal ato tresloucado dum rapaz com dezoito anos e com vítimas – ainda não se sabe qual o verdadeiro enquadramento – ocasionais ou escolhidas.

Foi, no entanto, patético muito daquilo que foi dito e insinuado nos canais de televisão nacionais e estrangeiros, umas vezes tentando colar o acontecimento a fações terroristas internacionais e noutras vezes alinhando pela conspiração dos nacionalismos, sobretudo, xenófobos e de extrema-direita… excluindo outras colorações partidárias e ideológicas bem mais abespinhadas e contundentes nas palavras e nas ações… A quem tentam iludir: a eles mesmos ou a nós? A quem servem nas leituras pretensamente feitas: aos donos dos órgãos de informação ou ao público em geral? A quem estão ligados os noticiadores: aos que lhes pagam ou a quem precisa de ser informado com isenção e com maior independência?

Dá a impressão que, em muitos dos relatos e reportagens sobre os acontecimentos mais recentes, se nota uma capciosa intenção de quererem que, quem ouve, quem vê e quem lê, fique com o filtro distorcido de fações noticiosas e manipuladoras… ao perto e ao longe.

Ora, nem sequer a mortandade resultante do abalroamento em Nice (França) escapa à tentativa de nos quererem dizer que o autor estaria conotado com forças mais ou menos subterrâneas… Com efeito, a exploração doentia de tais acidentes revela que ainda vivemos numa fase insípida de evolução da humanidade, a qual parece que se compraz em ver sangue e em ser explorada nos sentimentos mais básicos da nossa condição de fragilidade e de contingência… Nem nas corridas de toiros se enfatiza tanto esse filão sanguinário e sádico! 

= Desde 11 de setembro de 2001, com o ataque às ‘torres gémeas’, em Nova Iorque, que temos vindo a assistir à radicalização de muitos atentados, desde Inglaterra a Espanha, em países africanos com proximidade ao Ocidente – tanto na bacia do Mediterrâneo como na África sul-sariana – ou passando por França – vários nos últimos dois anos – e Bélgica, no próximo e no médio Oriente, acrescentando na Turquia e nos países de influência do autodenominado Daesh, sem esquecermos os múltiplos atentados evitados ou sem publicidade… temos estado a viver numa cada vez maior insegurança de pessoas e de nações, de culturas e de religiões, de povos e de condutas em pretensa democracia ou roçando as ditaduras.

Efetivamente há quem tenha excluído Deus da vida de pessoas e de comunidades, mas que foram introduzindo cada vez mais medos, que manipulam e que servem a gosto, pois assim sabem que podem controlar os mais vulneráveis e suscetíveis de serem aliciados pela causa da ‘nova era’… numa pseudolibertação da religião, mas criando outros tentáculos mais aliciantes e aliciadores… no conteúdo e na forma. 

= Este terrorismo à la carte serve bem os intentos dos mais poderosos económica e financeiramente, pois sabem que as pessoas podem ser conquistadas pela boca, isto é, por aquilo que se lhes dá de comer ou que favorecem os prazeres epicuristas reinantes. Veja-se a forma subtil com que os festivais de comida e de bebida, de música e de recursos aos desejos mais libidinosos, de musicalidade e de danceteria, de religiosidades e de festivais… vão pululando país afora. Reparemos com que (aparente) normalidade é mais fácil conquistar pessoas para programas de diversão do que de religião… nalguns casos mais tradicional do que vivencial.

Nem tudo é uniforme ao longo do país, mas, em muitos casos, parece ser mais fácil cativar público para iniciativas onde os prazeres da carne – e não estamos a falar no conceito mais moralista do termo – são servidos e exercitados do que para momentos psicológicos e espirituais onde a dignidade humana possa acrescentar algo à condição terrena da nossa vivência mais normal e natural. Tal como noutras épocas parece que nem tudo o que se diz/faz corresponde à verdade… 

 

António Sílvio Couto 



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