Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

Censura às notícias…de atentados, já!


Dá a impressão que a proliferação de notícias sobre os mais recentes atentados – terroristas ou de atos de doentes psíquicos, sobretudo na França e na Alemanha – têm de ter uma outra forma de serem encarados, pois apresentá-los quase em direto permanente já deu para perceber que não é a melhor forma de precaver outros… casos e situações.

Num dos episódios – o de Munique, na Alemanha – houve mesmo uma filtragem das informações e alguma contensão nas imagens, sendo quase tudo controlado pelas forças policiais. Noutros casos foi aconselhado a que houvesse o mínimo de imagens… de tão agressivas que eram.

Poder-se-á dizer que está instalado o medo – essa arma tão feroz e contundente com que é fácil vencer os mais afoitos e/ou temerosos – entre as populações e nem a (pretensa) distância dos acontecimentos nos deixa alguma serenidade ou consolação.

Não podemos continuar a viver nesta intoxicação de alguns órgãos de comunicação ou atos individuais de ‘cidadãos mais atrevidos’ em que por tudo e por nada se está a difundir o que há de mais macabro ou funesto. Não podemos permitir que nos queiram vender uma certa exploração dos sentimentos mais suscetíveis da nossa contingência humana e social. Não podemos querer saber tudo como se vivêssemos num varandim – de casa ou do écran (televisivo, do computador ou do tlm) – por onde desfilam as misérias dos outros e nós as vemos como meros espetadores da sua desgraça! 

= As armas de fogo têm vindo a ser substituídas pelo fogo da perceção de que ninguém está, à partida, imune a que possa ser notícia – seja qual for a razão ou o local – pelas mais abjetas razões. Com efeito, a invasão da privacidade deixou de estar reduzida à periferia da vizinhança para se estender aonde alguém possa ter acesso à informação, particularmente àquela que possa melindrar ou até ofender os outros.

Cada vez mais são precisos critérios éticos para que nos possamos conduzir neste tempo do ‘vale tudo’. Se à comunicação social se pode e deve exigir que cumpra o código deontológico, aos muitos particulares que se armam em noticiadores não parece que se possa ter idêntica capacidade de conduta… senão a de haver regras, punições e valores, tanto dos intervenientes como das autoridades, se é que as há, de verdade. 

= No quadro da União Europeia temos urgência em que se criem e ponham a funcionar apertados critérios de difusão de notícias e imagens que possam não dar de vencida armas para aqueles que têm vindo a semear o medo, usando as mais díspares armas: de guerra, de atemorização, de condicionamento… feitas por grupos organizados ou por atos individuais… com motivações assumidas ou por gestos esporádicos… atingindo setores da sociedade, organizações públicas ou pessoas indefesas e sem relação com os objetivos presumidos… sejam quais forem as fronteiras ou até mesmo as culturas.

Estamos, hoje, mais do que no passado, todos indistintamente sob a mira de tantas forças que nos podem condicionar a vida e a sua expressão normal. Será, por isso, importante saber equilibrar a liberdade com a segurança, deixando que uma e outra não se excluam, mas antes se equilibrem para o bem-estar de todos. 

= Há uma censura que todos podemos exercer: a de não visionamento ou a de não-tomada de conhecimento das notícias que nos fazem estar em maior insegurança… interior e exterior. Isto não significa abstrair-se das coisas, mas antes tentar ainda viver nalgum equilíbrio para que não sejamos todos engolidos pela ferocidade do medo e da desconfiança uns nos outros e, possivelmente, de nós mesmos.

Parece ter chegado a hora de abandonarmos a acusação de que muitos destes acontecimentos de morte e de terror são só marca da religião, pois em muitos deles a religião é meramente um fait-divers e não uma razão essencial. Aos que ainda estão nessa leitura ideológica talvez devam refletir sobre as suas razões de vida e não tentem encontrar fantasmas do passado para exorcizarem seus paradigmas já ultrapassados na História e na Cultura.

Cuidemos do nosso futuro com atitudes de verdade no presente!

 

António Sílvio Couto



Sem comentários:

Enviar um comentário