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quinta-feira, 10 de março de 2016

Neste nacional-porreirismo…


O ambiente criado em volta da tomada de posse – e consequente início de atividade – do novo Presidente da República, no dia 9 de março, poder-se-á considerar que trouxe à tona da vida mais ou menos coletiva portuguesa uma nova sensação: o nacional-porreirismo.

Agora parece que todos estamos a dar-nos bem, pois o inquilino do palácio de Belém fez saltar de alegria quantos andavam cabisbaixos, tristes e até mesmo – segundo se diz correntemente – crispados.

Nalguns casos pretendem enterrar uns certos machados de guerra, fazendo crer que nada se passa e que será preciso esquecer, rapidamente, agravos, ofensas e achaques. Outros tentam fazer acreditar que temos de ser todos ‘boas pessoas’, pois as diferenças só conseguirão atrair mais azedume.

O discurso académico-popular do recém-empossado Presidente tentou tocar focos de identidades, que pareciam ter sido esquecidas nas refregas eleitorais mais recentes… duas em menos de quatro meses. Se bem que uns tantos não assumiram os gestos da educação mais elementar, continuando a fazer a sua travessia no deserto da vitória presidencial…

= Ao longo dos dias precedentes à tomada de posse, vieram-me à consciência algumas questões… agravadas com outros momentos decorridos no próprio dia de ‘festa’:

- Que esperamos deste ambiente? Será que iremos iniciar uma nova etapa de tratamento ou continuaremos a fazer-de-conta que se está no intervalo de algo mais sério?

- Poderemos dar já por adquirido que será com estes episódios que faremos do país uma pátria saudável e benfazeja?

- Os auspícios de que tudo corra bem será conciliável com a prosperidade, o compromisso e o trabalho comum e articulado com a justiça, a solidariedade e a paz?

- Até onde irá a bonomia de quem agora assume a mais alta magistratura de Nação, se o governo tiver de tomar, a curto ou médio prazo, medidas de austeridade?

- Ser por todos e não contra ninguém, chegará para criar consensos na hora de maior tensão entre os componentes das forças parlamentares de apoio à governação?

- Será entendido como diálogo inter-religioso aquilo que reuniu representantes dos diversos credos, na mesquita de Lisboa, ou não será, antes, entendido como mescla de fés à custa de sinais confusos e algo controversos?

- As pessoas serão tão desmemoriadas – desde os concorrentes até aos adversários – que irão esquecer o que disseram antes desta nova fase da vida política nacional, concretamente da volatilidade do vencedor?

= Há, no entanto, aspetos que gostaria de ver respondidos e que foram, em meu entendimento, sagazmente ignorados pela maior parte dos participantes.

- Por onde andou a referência à cultura cristã/católica, tanto do Presidente empossado como de outros apoiantes e sequazes? Houve medo ou foi estratégia?

- Para quem até já fez comentários litúrgicos, deixou um pouco a desejar que não tenhamos ouvido alguma alusão à dimensão mais comprometida da crença, que é muito mais do que espiritualidade ou referência aos mitos, seja o de Ourique ou das conquistas à época dos descobrimentos!

- Houve uma forte denúncia da qualidade social da intervenção cívica – com a pobreza e a ação das instituições de caráter social – mas isso terá repercussão junto do setor do governo, que nem sempre tem atendido às urgências no terreno?

. Uma coisa é começar com boa aceitação popular – pudera assim não ser, dado que muito disso tem a ver com cobertura da comunicação social, normalmente, favorável já antes! – outra bem distinta será querer não criar ondas. Com efeito, a magistratura da palavra pode e deve ser acutilante, séria e profética… sem ser morna, recorrente e deixando-se ir na crista popular!

Nem tudo está bem, quando dizem só bem de nós – refere Jesus no Evangelho… O tempo dirá se este nacional-porreirismo vai tornar-se moda e por quanto tempo!


António Sílvio Couto


1 comentário:

  1. Esperemos que o Marcelo não se esqueça das raízes do país nacional . D. AFONSO HENRIQUES foi reconhecido como Rei bem como a independência do seu reino através da Bula Manifestis probatum em 1179 .

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