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terça-feira, 3 de novembro de 2015

O pecado do ministro ‘a prazo’


Pareceu soar a heresia aos laicistas do Estado – sobretudo numa certa comunicação social – que um ministro, de visita às enxurradas, no Algarve, tenha dito: ‘Deus nem sempre é amigo’… ‘a força demoníaca da natureza’… que Deus receba junto de si o senhor que faleceu…

À boa maneira de fazer notícia condicionando a interpretação, houve reportagens que até classificaram as palavras do ministro – que se assumiu como vindo duma família e região pobre – como uma espécie de sermão…pouco harmonizado com a ação de politiquês… entendível, circunstancial ou razoável.

= Não está em causa questionar as razões das enxurradas – não foi naquela localidade que houve um (dito) ‘programa polis’ dispendioso e muito publicitado? – mas antes tentar colocar alguma ordem nos apartes de certas fontes jornalísticas para quem – ao que parece – é perigoso incluir a referência a Deus sobre as coisas do nosso dia a dia. E mais: parece incomodar que, alguém investido em poder ou talvez em autoridade, possa ousar trazer para a vida pública a (possível) fé que professa.

= É verdade que, neste tempo que nos é dado viver, se torna muito complicado assumir a sua fé…desde que seja cristã, pois uns tantos lóbis logo emergem confundindo liberdade com obstinação na descrença. Talvez se o tal senhor ministro – que não conheço nem precisará que o defenda, pois tem reputação suficiente no meio intelectual em que desenvolve a sua atividade – falasse uma linguagem estereotipada de politiquês mais ou menos encriptado, seria mais entendido, mas como deixou transparecer uma fé que vê Deus nas coisas que acontecem, logo poderá cair na desgraça dos entendidos na bitola do Estado laico e republicano.

= Sabemos que se torna cada vez mais exigente ser cristão em qualquer campo de atividade. Sabemos que muitos se envergonham da fé que parecem ter. Sabemos que nem sempre são bem entendidas as posições daqueles que ousam testemunhar a sua fé nos locais de emprego ou nas atividades culturais mais diversificadas. Sabemos que outras confissões preparam os seus crentes – que facilmente são rotulados de fanáticos! – para que tenham força e capacidade de incómodo… ao anódino de tantas fés.
 
= Por estes dias foi de ver várias localidades a revestirem de vestes sinistras, em ordem a ‘celebrarem’ o halloween. Houve mesmo uma das povoações atingidas pelas enxurradas no Algarve em que se fez uma corrida noturna alusiva à data. Que haverá de nexo entre tais ‘celebrações’ e as chuvas impiedosas, que fustigaram a região e o país? Quando o ministro deu a entender que ‘Deus nem sempre é amigo’, não estaria a querer dar interpretação para além da banalidade destes festejos neopagãos?
 
= Parece ir ganhando consistência que, um certo afastamento de Deus, não obstaculiza a dimensão do espiritual. Ora, pelo que vamos vendo, nem sempre esta índole espiritual tem estado a ser alimentada de forma correta, deixando alguns o culto de Deus para se emaranharem em exoterismos mais ou menos complexos e perigosos. Talvez seja porque muitos dos cristãos se envergonham da sua fé ou porque vão misturando crenças com desvios emocionais e morais, que se abrem campos de intervenção mais ou menos capazes de confundir e de escandalizarem… até os mais incautos.

= Talvez o ministro ‘a prazo’ possa ter de enfrentar ironias e jocosidades de maior ou menor nível, mas esta sua breve intervenção pode-nos fazer refletir a todos sobre coisas simples, onde teremos de confrontar a nossa fé com a vida e de colocarmos esta ao serviço da glorificação de Deus, mesmo que possa haver provações como estas que aconteceram com as enxurradas. Urge, por isso, elevar o nível das intervenções dos políticos com religião e de tornar a religião uma força de intervenção política… não-partidária. A construção da cidade terrena faz-se com valores e princípios e os cristãos não podem ficar à margem nem serem marginalizados.

Fé cristã, a quanto obrigas!   

 
António Sílvio Couto

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