O Papa Francisco convocou o
próximo extraordinário Sínodo dos Bispos, a realizar em Outubro de 2014, para
debater «os desafios pastorais da família no contexto da evangelização».
Este anúncio, tornado público, no
início desta semana, dá bem entender o que o Papa quer que sejam as respostas
‘a consultas reais, não formais’, foi referido pelos serviços de informação do
Vaticano.
É com grande contentamento que
escuto esta iniciativa papal, pois, sentia que era precisa da parte da Igreja
católica – universal e diocesana – uma abordagem sobre um assunto que pode ser
ainda a salvaguarda da nossa história humana e cultural… tais têm sido os
ataques nos tempos mais recentes. Por vários modos, nas instâncias eclesiais
onde posso intervir, tinha manifestado esta urgente necessidade. Por isso,
agradeço a Deus que o Papa Francisco tenha tomado esta iniciativa… a médio
prazo.
Pela complexidade do tema ouso
apresentar algumas das vertentes – sem qualquer pretensão de hierarquizar as
questões – que gostaria de ver respondidas na preparação, seja diocesana, seja
paroquial e superiormente respondidas no Sínodo e, claro, na sua execução…
colocando ainda perguntas mais ou menos simples.
1. A família é célula da sociedade. Como poderemos pensá-lo, senti-lo
e vivê-lo, hoje?
2. A família constitui-se pela estabilidade de relação entre um homem e
uma mulher. Como poderemos enquadrar outros sistemas com respeito e
dignidade, mas com firmeza de valores?
3. A família é santuário da vida. Como pode ser vivida a opção em ter
filhos quando o hedonismo e uma certa sexualidade desenfreada se sobrepõe ao
amor responsável?
4. A família precisa de estabilidade. Como poderão ser educados os
filhos num enquadramento onde nem sempre são valorizados como a melhor fortuna
e herança, agora e no futuro?
5. A família é escola de fraternidade. Será possível gerar diálogo de
gerações, quando não há tempo nem espaço para a partilha de vida séria, serena
e saudável… nem para os mais velhos e frágeis?
6. A família é o espaço privilegiado da educação. Como se poderá
coordenar esta tarefa com tantos outros intervenientes, tais como a escola, a
Igreja e a sociedade em geral?
7. Na família se cuida e se é cuidado. Que estratégias terão de ser
criadas para que todos sem sintam amados e capazes de amar atenta e gratuitamente?
8. Na família se transmitem valores, sobretudo de índole altruísta.
Como se poderá valorizar a intercomunhão se as pessoas não fazem da casa senão
uma espécie de hotel e/ou pensão?
9. Na família se aprende o valor do trabalho, do dinheiro e mesmo do bem
comum. Como se poderá educar para a responsabilidade mesmo no tocante às
coisas de natureza material e não na versão de consumo?
10. Na família se aprende a rezar e a colocar Deus na vida e nos critérios
de conduta pessoal e moral. Teremos sabido transmitir a experiência de Deus
e o conhecimento pessoal de Jesus Cristo na vida mais do que com lições mas com
convicções?
Feita esta espécie de divagação,
gostaríamos que o Sínodo sobre a família não fosse uma oportunidade perdida nem
sequer uma ocasião para acusações, mas antes um momento de criar sinergias,
onde todos queremos aprender e pouco ensinar, para além de interagir e de
comunicar. Com efeito, a nossa marca de vivência em família será sempre o que
mais (consciente ou inconscientemente) levaremos como código de toda a nossa
vida… Há, no entanto, grandes linhas que ainda podem reger a nossa conduta
pessoal, de grupo, de sensibilidade ou mesmo de dimensão espiritual. Porque
acreditamos na família cristã – isto é, com raízes judaico-cristãs na história
da nossa cultura – saudamos esta proposta do Papa e, queira Deus, que sejamos
dignos da tarefa que nos é confiada.
Parafraseando, dizemos: cristãos de todo o mundo, uni-vos em defesa
da família!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com
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