Num destes dias tive – em razão
da função eclesial que exerço – de ir a uma festa de aniversário de uma
associação de reformados, pensionistas e idosos, onde a maior parte das
intervenções incluíram palavras como: luta e revolução, direitos e combate,
crise e austeridade, manifestações e reivindicações… em discursos e linguagens
tão repetitivos que mais pareciam cassetes, pois os cd’s precisariam de auto
repetição!
O contexto sócio/político
situa-se ao sul do rio Tejo e, por isso, tais expressões são muito comuns nesta
zona, embora haja outras formas de pensamento e se usem também modelos
ideológicos que não privilegiam tais acirramentos do povo para se fazerem
notar. No entanto, dado o contexto social e económico em que vamos vivendo,
parece-nos oportuno questionar quais serão os (reais ou virtuais) interesses em
espicaçar deste modo sistemático o povo… simples, manipulado e, infelizmente,
empobrecido.
= Perguntas e interrogações… no presente
Diante das manifestações – ditas (algumas)
sindicais – será de perguntar: o número é de trabalhadores (atuais, reformados
ou desempregados) ou será, antes, estratégia partidária? A ser esta não houve
mais votos autárquicos do que participantes… na mais recente manifestação/desfile
de autocarros?
Diante da linguagem inflamada de
alguns – pretensos dirigentes – será de questionar: onde pensam encontrar
dinheiro para continuarmos a viver sem sobressaltos? Vive-se hoje pior do que
há quarenta anos ou somos nós que desequilibramos a balança com hábitos mal
adequados à (não) nossa criação de riqueza?
Perante certas críticas – muitas daqueles
que nos fizeram cair no fosso – será de perguntar: agora têm respostas, mas
quando governaram só criaram problemas… sobretudo aos vindouros? Estes – de tão
envelhecidos que estão – serão parte da solução ou vão agravar mais o problema?
Perante uma contestação
sistemática – quase parece um sistema de ocupação do tempo de não trabalho – de
certas forças e meios será de questionar: querem que o poder caia na rua ou
querem que a rua seja o palco do poder? Este é de serviço ou antes de
imposição… nem que seja pela exaustação ou será pela ambição desenfreada dos
mais barulhentos?
Porque ainda acreditamos em que a
democracia tem potencialidades de ser aprofundada, amadurecida e até, se
preciso for, refundada, sugerimos breves propostas:
- Façam com que o voto seja obrigatório, deixando de
haver que quem vota ou quem não vota tenha a mesma razão, mas nunca se comprometa
na solução.
- Tornem os lugares de decisão espaços de educação, tanto pela forma,
como pelo conteúdo, pois, no presente, a Assembleia da República mais parece
uma arena de malcriadez do que a (dita) casa da democracia… pelo menos diante
das câmaras televisivas.
- Obriguem a que só seja aceite
na ‘sublime arte da política’ quem se
preparou e não quem é empurrado pelas ideologias e/ou para pagarem favores
de interesses de grupos e lóbis.
- Fomente-se a cultura da verdade e não se tente
difundir o manto da mentira para que se crie o descrédito de tudo e de todos…
menos do seus apaniguados.
- Faça-se com que os melhores (cultural,
intelectual e humanamente) tenham gosto e honra em estarem ao serviço do bem comum e não com que, quem
não presta, seja promovido, votado e empossado em lugares de responsabilidades…
tanto na dimensão política como social e económica ou outras.
Nesta época de viragem não
podemos continuar a usar as mesmas armas para enfrentar os atuais problemas,
pois estes, além de criarem novos e urgentes desafios, trazem-nos a certeza de
que os métodos anteriores – muitos deles totalitários – já faliram noutras
paragens, por isso, será de precaver-se para com os mentores de coisas que
perderam atualidade, tanto na forma como no conteúdo e até nos intérpretes. É
preciso abrir os olhos e ser mais inteligente, descobrindo quem nos tenta
enganar!
António Sílvio Couto
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