É muito comum ouvirmos, na linguagem habitual da Igreja e não só, uma espécie de preferência em evangelizarmos/atendermos, preferencialmente, os pobres... como que excluindo aqueles que não entram nesta categoria económica, sociológica, política, cultural e tudo o resto que se lhe queira apensar.
De fato, os pobres servem para tudo e mais aquilo que se desejar, desde que dê bom proveito a quem deles se aproveita, mesmo sob a roupagem de seus defensores, na praça pública, mas, minimamente, detratores, em privado.
Deixando, desde já uma espécie de declaração de intenções, dizemos: sou pobre, filho de gente pobre e sem qualquer aspirações a ser rico.... embora sinta que os ricos também podem e, muitos, até são boas pessoas.
No entanto, sabemos e conhecemos que há – mesmo no contexto da Igreja católica (hierarquia e setores laicais) mais ou menos assumidos, camuflados e com outras aspirações – quem defenda os pobres, mas se banqueteie nos melhores restaurantes... pagando favores; quem se diga paladino dos pobrezinhos mas só se vista com roupa de marca... a custo da qualidade de vida; quem pretenda ser associado aos (ditos) defensores da classe operária (se ainda existir!), mas que privilegie, no seu círculo de convivência, os donos do dinheiro, pois dão estatuto e promoção... à sombra de outras tantas boas intenções.
Tendo estes fatores em conta, consideramos que é importante não setorial as preferências no campo da evangelização. E, se tal tiver de ser feito, então que se faça uma opção preferencial pela evangelização dos ricos por duas razões: são eles que podem, tocados por Deus, atenuar ou até mesmo fazer desaparecer os pobres; são eles quem, pondo ao serviço dos outros a sua riqueza, numa consciência social e até espírito de serviço do seu poder de riqueza, podem gerar novos empregos e com isso tentar fazer diminuir a indigência dos desfavorecidos pela sorte e atribulados pela pobreza.
= Dos pobremente ricos aos ricamente pobres
Passado – assim cremos e esperamos – o contexto dialético-marxista da luta de classses, temos de recriar uma nova mentalidade: os fatores de produção são mais do que a força de trabalho, as mais-valias, o capital e (até mesmo) o desfavor de uns contra outros e de todos contra uma certa minoria: a capacidade de construir um mundo onde todos sejam mais fraternos é mais do que uma utopia romântica e azeda!
Vivemos num tempo onde os conceitos já não se guiam pela mera momenclatura coletivista nem o trabalho é uma idolatria adquirida sem tribulações e novos desafios.
Estamos em constante mudança e são-nos exigidos novos métodos até para continuar a ter uma oportunidade de trabalho, que é muito mais do que emprego. Sentindo o efeito da globalização, crescem os sinais de que os nossos benefícios são a desgraça dos outros e que as nossas desgraças – com a deslocalização dos postos de trabalho e outros efeitos adjacentes – podem ser os benefícios de outros.
Vivemos uma, cada vez mais acentuada, concorrência a todos os níveis e a nossa frágil sobrevivência está em constante risco.
= Insegurança a quanto obrigas!
Neste contexto temos de apostar sobretudo, na evangelização dos ricos, pois da sua adesão aos valores do Evangelho poderá surgir uma nova sociedade: mais justa, mais fraterna, mais solidária, de mais verdade, de mais lealdade e com maior caridade... uns para com os outros.
Com efeito, se os ricos – com dinheiro, com visão e com aposta no futuro – se interessarem pelo bem comum, que é muito mais do que os seus interesses particulares – de lucro legítimo, honesto e sincero – poderão ser bons criadores de riqueza em favor dos outros, tanto através de empresas, como de projetos que dêem trabalho e sustento às pessoas e às famílias. Precisamos, urgentemente, em Portugal, de que as pessoas saibam colocar a sua riqueza ao serviço dos outros.
Não será com certos combates anacrónicos de algumas forças político-partidárias que esses ‘trabalhadores’, em nome de quem pretensamente contestam, irão ter emprego nem futuro. Cheira a conversa requentada o discurso de alguns sindicalistas profissionais, que mais não sabem do que lutar com armas já do século passado, mas que, afinal, só prejudicam o país e o tecido produtivo... mais elementar. Será eles não são capazes de ver isto? Até onde irá a tacanhez de certos indivíduos ou a insensatez de seus seguidores?
Está na hora de mudar de rumo, podendo inverter as prioridades, mas salvaguardando os princípios, tendo em conta um dos essenciais que é: as pessoas em primeiro lugar.
António Sílvio Couto
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