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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

À descoberta do sentido da pertença...

Cada um de nós vive, aceita-se e enquadra-se, mais ou menos conscientemente, segundo vários círculos – sem qualquer linguagem esotérica nem outra afetação menos clara – de relacionamento e de comportamento: nascemos numa certa família, inseridos numa determinada localidade (mais ou menos bairrista, com beleza ou sem grande atração), no contexto de um certo concelho/distrito/província – para nos enquadrarmos na divisão territorial ainda em curso – e tendo, na devida conta, o país/nação e o continente mais alargado e culturalmente significativo.
Deixem, por isso, que concretize a minha história: nasci (ainda em casa e não na maternidade) numa família de gente honesta, simples e trabalhadora, numa freguesia semi-rural, num concelho do litoral, do distrito e diocese de Braga, inserida na província do Minho, do território de Portugal, que faz parte do continente da Europa (do sul), no hemisfério norte do planeta Terra... Tudo muito normal e simples... aparentemente!
No entanto, tudo isto condiciona a minha forma de pensar, de sentir, de reagir e até de rezar, pois aprendi a ler e a escrever, em tenra idade (graças a Deus e uma razoável ajuda humana) em português – embora tenha aprendido outras línguas com maior ou menor capacidade de expressão oral, por gestos ou na escrita – que se foi cuidando, na forma e no conteúdo, acrescentando a isto o mínimo enquadramento sócio-religioso, fazendo  a descoberta de pertença, tanto às várias configurações humanas como às incidências de leitura religiosa, que, foram quase sempre vividas, no contexto católico...
Quem quer que nos leia poderá fazer o seu diagnóstico de pertença e descobrirá, certamente, razoáveis surpresas, nas quais não tinha ainda reparado, convenientemente!

= Compreender as raízes ou abjurar as pretensões?
Pela mais simples nota familiar foi-me dado a beber que o que há de mais sagrado é quem nos dá – com que sacrifícios e em atitude de entrega – a vida e dela cuida, mesmo que à custa de muito trabalhado, esforçado, mal pago, mas honesto.
Aprendi, simbolicamente falando, a não ambicionar se não posso atingir a pretensão. Aprendi a não gastar mais do que aquilo que se pode. Aprendi a viver com pouco, mesmo que isso não seja benéfico para a nossa imagem. Numa palavra: quem não tem vícios não alimenta modas!
Sem qualquer ressentimento tenho visto que, ao perto e ao longe, há quem tente fazer crer que é pelo ter que se pretende deixar boa impressão, mesmo que à custa do incumprimento das obrigações e malbaratando os favores e ajudas... até de âmbito económico.

= Tentar construir algo de novo 
Na medida em que formos capazes de aceitar as nossas contigências – mas não em mera resignação – poderemos viver num certo estado de felicidade, onde o ser – cultural, ontológico e espiritual – se aprende não pela simples reivindicação mas pela assumpção da verdade de nós mesmos. Em nada deste plano está contido esse tão típico português do deixar correr, pois outros cuidarão do nosso futuro, mas antes temos de viver em esforço de competição, em ordem a deixarmos este mundo harmonioso e fraterno...depois de por ele termos passado, mais ou menos tempo, com maior ou menor destaque, mas sempre assumindo a construção de um mundo mais humano e mais cristão.  
Acreditamos que a nossa tarefa em tentarmos civilizar – passar do estado pagão (do campo) ao de cidadão (na cidade) – este mundo passa pela interpenetração da consciência cristã de que somos cidadãos de duas cidades – a terrena e a celeste – com plena participação em ambas, respeitando a esfera de cada uma, mas fazendo crescer a cidade terrestre pela tranfiguração ativa da missão recebida rumo à cidade celeste.
Basta de excomunhões e de anátemas sobre este mundo, pois foi neste espaço e neste tempo que Deus nos fez viver agora. De pouco adiantará tentar fugir do mundo ou refugiar-se na religião, se não formos capazes de divinizar tudo e todos à nossa volta. Pelo verdadeiro sentido de pertença é que podemos evangelizar!

António Sílvio Couto

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