É recorrente vermos que, a partir de breves notícias, imagens ou mensagens, se faz grande alarido, se provocam convulsões sociais, se desencadeiam espirais de violência, se incendeiam multidões... sabendo mais ou menos como começa e dificilmente se percebe como acabam.
Se, como aconteceu recentemente, a ‘greve geral’ não tivesse sido (tão) noticiada, será que o impacto da dita teria a mesma proporção e interesse para os seus mentores, os fazedores ou os receptadores? Se é ‘greve geral’, então, porque é que essa tal não é para todos e só para quem pretensamente ganha com o acontecimento? Alguém parece estar a querer mentir a outrém!...
Sem pretendermos menosprezar certos fatos de alcance público, questionamos se o excesso de notícias – algumas delas feitas quase para servir os ‘donos’ (económicos, políticos e até ideológicos) das empresas que pagam aos noticiadores – não poderão reverter em desfavor da paz social. Já vimos este filme noutros países... e Portugal enferma da mesma doença destabilizadora, manipulada e manipuladora!
Sabemos que, nos regimes de ditadura – política, ideológica e cultural – a melhor forma de tentar vencer os opositores é calar quem não pensa da mesma forma que eles. Mas não será mais útil à sociedade criar critérios de bom senso do que meros servidores do sensacionalismo? Afinal, uma imagem ou uma frase podem ser manipulados, distorcidos ou tirados do contexto... ficando à mercê de quem se diz ‘independente’, segundo o critério... da sua intenção mais ou menos subtil e pretensamente isenta!
= Em respeito pela vida privada
Nesta promiscuidade de informação a que estamos submetidos, diariamente, vemos com bastante frequência ser devassada a vida de pessoas normais, tornando-as figuras (figurinhas, figuraças ou figurões) que são espremidas até à medula... criando com isso novas vítimas, atores e explorados.
Também, neste desrespeito contínuo pela vida alheia, vemos crescer uma vulgar calhandrice – termo de algumas regiões para designar esse gosto de falar dos outros, normalmente, dizendo mal – sem pejo ou sem vergonha, não olhando a meios para atingir fins e, sobretudo, vilipendiando o que há de mais sagrado em cada pessoa: a sua intimidade e o seu mistério.
Não nos venham, entretanto, insinuar que uma grande parte das pessoas gosta de espreitar pelo buraco da fechadura, na expetativa de saber ‘segredos’ da vida alheia e que essa tal fechadura como que se tornou agora num esquema bem urdido em televisão, na internet ou noutras formas de bisbilhotice tão do agrado de quem se manifesta pequenino nas suas pretensões e sem respeito até por si mesmo... por aquilo que faz ou pretende fazer.
Nem os mais populistas programas televisivos ou das redes sociais podem ser desculpa para que haja qualquer intrusão na vida dos outros, pois da correta conduta se pode avaliar quem se é e saber quem é o outro/a, respeitando todos/as com quem nos relacionamos.
= Quando o bem comum se impõe
Porque não acreditamos na absoluta isenção de muita cobertura jornalística – embora se diga que possa haver alguma independência – nalguns dos acontecimentos recentes, cremos que será de incentivar um processo de auto-regulação dos vários intervenientes em ordem a não serem fomentadas situações de guerrilha informativa nem a sermos levados a desconfiar de tudo o que se diz, o que se mostra ou daquilo que se apresenta, questionando sobre a sua procedência e quais os veículos de tal informação.
Estando nós sobre uma espécie de vulcão, cremos que os meios de comunicação só se credibilizarão se forem capazes de informar sem fazerem dos seus potenciais consumidores gente acrítica, mas participantes esclarecidos na ‘res publica’... sempre mais exigente, opinativa e esclarecida.
Porque não há senhores da verdade absoluta, precisamos de saber gerar leitores exigentes, ouvintes responsáveis, telespetadores adultos, internautas conscientes e cidadãos com capacidade de discernimento e de humildade na aprendizagem dos labirintos da informação para que possamos ter paz social... atual e futura.
António Sílvio Couto
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